quinta-feira, 27 de agosto de 2009


A invisibilidade do AVC

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou "derrame" é a maior causa de mortes no Brasil, fazendo mais vítimas do que uma guerra no Oriente Médio. De acordo com dados estatísticos, a doença deixa uma enorme legião de “sequelados”, que na maioria das vezes se sentem um "zero à esquerda", comprometendo sua auto-estima e causando perdas graves. E onde estará escondido esse grupo enorme de brasileiros? Tornam-se invisíveis, escondem-se por medo, medo de sofrer mais uma grave perda: do mercado de trabalho, da cidadania, da dignidade, do "ser". Um país que não dispõe de informações, prevenção ou tratamentos emergenciais adequados, certamente encara o modelo da invisibilidade como abordagem de suas questões. A sociedade tem que se virar de algum meio para manter a solidariedade, criando novos modelos. A sociedade não pode se deixar "avecerizar", ou seja, tornar-se invisível, fragilizar-se ou infantilizar-se.
Pensando a todo o momento no assunto, o médico psiquiatra Daniel Chutorianscy, que recentemente foi acometido por grave AVC, sentiu como médico e paciente o drama do "encolhimento" ou "invisibilidade". Tendo como paradigma o seu programa de entrevistas na TV Universitária, o "Pulando a Cerca" (Canal 7 – NET - Unitevê), onde "pular a cerca" é o superar os obstáculos, ele não desistiu de sua cidadania e direitos, continuando a apresentar o programa, tornando-se um inusitado apresentador. Passou a tornar visível aquilo que era invisível. Como assim? Daniel idealizou o Grupo AVC - Pulando a Cerca, que é totalmente gratuito, todos são bem vindos: "avecerizados", enfartados, familiares, amigos e amigos dos amigos. Os encontros acontecem todas as sextas-feiras, às 15 horas, à Rua Gavião Peixoto 80, Sl. 503, em Icaraí, Niterói. Para mais informações, ligue (21) 9996-6514.
A tarefa do grupo é resgatar a visibilidade daqueles brasileiros que ficaram invisíveis por graves sequelas como a dor, a mágoa, a frustração, a perda dos direitos, mas mantêm a sua lucidez. Transformar a doença em projeto coletivo, projeto esse de dar uma nova vida a essas pessoas, enfrentando as adversidades e vivendo com maturidade, visibilidade e bom humor. Para Daniel, a proposta é não ter mais medo de ser, de caminhar pelas ruas com sol ou com chuva, mesmo tendo dificuldades físicas, e entraves como cadeiras de rodas, bengalas, demonstrando a capacidade de exibir seus direitos e cidadania. Niterói mais uma vez dá um passo adiante criando, rompendo a invisibilidade e trazendo à luz a saúde e a dignidade.

O PROGRAMA DE TV

No programa “Pulando a Cerca” desta sexta-feira, dia 28, às 10h30, na Unitevê (17 NET), uma entrevista com a Assistente Social, Nanci Bispo. Ela também faz parte do Grupo AVC - Pulando a Cerca, e vai contar como está enfrentando a doença com muita garra, determinação e lucidez. Para quem não é assinante, a produção também pode ser acompanhada pela Internet. Para isso, o internauta deve acessar o site www.uff.br/uniteve
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