Pernas para que te quero?
* Por Seu Pedro
Minha vida sempre foi cercada de muito ritmo e pouca lerdeza, de muito trabalho e pouca moleza, de realidade sem sonho de realeza, de muita alegria e pouca tristeza, e de bastante fé em Deus, que já me provou, bastantes vezes, que Ele não é fantasia... Quando nasci, nos anos 40, a expectativa de vida de uma pessoa era em torno de 45 anos. Hoje, com os avanços na medicina, esta expectativa subiu para mais de 70 anos. Eu já passei dos 60 anos de idade, portanto, na balança da existência, em carne e osso, já tenho média para dizer que passei da expectativa. Isto me faz feliz e agradecido a Deus, mesmo que tenha dúvidas se a vida que levo não é pior do que a “vida”.
Não é para que sofram comigo; mas tive uma infância remediada, isto porque Deus me arranjou uma família, pai e mãe, extra, aliviando o peso de um caçula para uma mãe biológica, Hedwig, que nunca me escondeu que mãe é aquela que abre mão do filho para que tenha menos sofrimento, embora a dor da separação. Para ela e meus irmãos eu pedia ajoelhado à beira da caminha, ao final da oração do Pai Nosso, que dirigia ao Papai do Céu.
Do meu pai biológico, Werner, levado pela bebida no fim da vida, pelas “perseguições” de guerra, simplesmente por ter nascido alemão, não lembro de ter estado em seus braços, embora tenha a sensação que os seus braços sempre estiveram abertos para me acasalar. De adolescente fui forjado adulto, aos 15 anos, pela falta de meus pais adotivos, cuja perda é maior quando me lembro quão bons Flávio e Lúcia foram comigo. Que bom! Sempre fui amado!
Aprendi a ler e escrever, e amar o próximo, embora no desejo de haver sido um ministro de Deus eu tenha falhado. Pelo menos Dele procuro ser um multiplicador voluntário, e assim preencho meu tempo, dividido com a minha família. Só existe uma família indivisível: a família celestial. As outras são mutantes a dependerem de circunstâncias.
Assim, passei por algumas famílias, até solidificar-me com Alternir, tendo menores somente duas lindas filhas; Samantha e Sammhira, o fim de linha de um “desleriado”. Acredito, então, que não precisarei mais andar buscando destinos pelo mundo. Já completará 16 anos que moro aqui, neste Sertão. Mais de um quarto de minha vida!
As dores, resultado da doença da diabete que me acompanha há mais de uma década, que nem por insistente progressão me tirou a doçura de viver, me castigaram no ultimo semestre do ano que findou. Úlcera diabética? E eu até então pensava que úlcera era só na boca do estomago! E se alojou no meu maior calo, que já foi operado duas vezes e insiste, ele e sua ulcera, em retornar ao meu dedão, de onde já foi “expulso”. Venho tratando, mas consciente de que progredindo terei que me submeter a essa cirurgia. Como tantos, eu terei de amputar pelo menos um pé. Ainda não aconteceu. No entanto me preparo, pois se houver necessidade, sei que nos evangelhos, em todas as versões e traduções, está escrito: ”Se a tua mão te escandaliza corta-a e lança-a fora de ti”.
Se uma mão pode ser cortada, não há problema em que me cortem um pé, desde que não me cortem o raciocínio da cabeça, por onde penso e faço a boca proclamar “Quão grande és tu!”; quando me dirijo ao nosso Deus, nem me tirem as mãos com as quais escrevo textos literários, mensagens e notícias para meu jornal, trabalho do qual sobrevivo, e tenho uma pergunta a fazer: "Agora que não tenho mais intenção de correr mundo ou fugir de qualquer realidade; pernas, para que te quero?”
(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.
* Por Seu Pedro
Minha vida sempre foi cercada de muito ritmo e pouca lerdeza, de muito trabalho e pouca moleza, de realidade sem sonho de realeza, de muita alegria e pouca tristeza, e de bastante fé em Deus, que já me provou, bastantes vezes, que Ele não é fantasia... Quando nasci, nos anos 40, a expectativa de vida de uma pessoa era em torno de 45 anos. Hoje, com os avanços na medicina, esta expectativa subiu para mais de 70 anos. Eu já passei dos 60 anos de idade, portanto, na balança da existência, em carne e osso, já tenho média para dizer que passei da expectativa. Isto me faz feliz e agradecido a Deus, mesmo que tenha dúvidas se a vida que levo não é pior do que a “vida”.
Não é para que sofram comigo; mas tive uma infância remediada, isto porque Deus me arranjou uma família, pai e mãe, extra, aliviando o peso de um caçula para uma mãe biológica, Hedwig, que nunca me escondeu que mãe é aquela que abre mão do filho para que tenha menos sofrimento, embora a dor da separação. Para ela e meus irmãos eu pedia ajoelhado à beira da caminha, ao final da oração do Pai Nosso, que dirigia ao Papai do Céu.
Do meu pai biológico, Werner, levado pela bebida no fim da vida, pelas “perseguições” de guerra, simplesmente por ter nascido alemão, não lembro de ter estado em seus braços, embora tenha a sensação que os seus braços sempre estiveram abertos para me acasalar. De adolescente fui forjado adulto, aos 15 anos, pela falta de meus pais adotivos, cuja perda é maior quando me lembro quão bons Flávio e Lúcia foram comigo. Que bom! Sempre fui amado!
Aprendi a ler e escrever, e amar o próximo, embora no desejo de haver sido um ministro de Deus eu tenha falhado. Pelo menos Dele procuro ser um multiplicador voluntário, e assim preencho meu tempo, dividido com a minha família. Só existe uma família indivisível: a família celestial. As outras são mutantes a dependerem de circunstâncias.
Assim, passei por algumas famílias, até solidificar-me com Alternir, tendo menores somente duas lindas filhas; Samantha e Sammhira, o fim de linha de um “desleriado”. Acredito, então, que não precisarei mais andar buscando destinos pelo mundo. Já completará 16 anos que moro aqui, neste Sertão. Mais de um quarto de minha vida!
As dores, resultado da doença da diabete que me acompanha há mais de uma década, que nem por insistente progressão me tirou a doçura de viver, me castigaram no ultimo semestre do ano que findou. Úlcera diabética? E eu até então pensava que úlcera era só na boca do estomago! E se alojou no meu maior calo, que já foi operado duas vezes e insiste, ele e sua ulcera, em retornar ao meu dedão, de onde já foi “expulso”. Venho tratando, mas consciente de que progredindo terei que me submeter a essa cirurgia. Como tantos, eu terei de amputar pelo menos um pé. Ainda não aconteceu. No entanto me preparo, pois se houver necessidade, sei que nos evangelhos, em todas as versões e traduções, está escrito: ”Se a tua mão te escandaliza corta-a e lança-a fora de ti”.
Se uma mão pode ser cortada, não há problema em que me cortem um pé, desde que não me cortem o raciocínio da cabeça, por onde penso e faço a boca proclamar “Quão grande és tu!”; quando me dirijo ao nosso Deus, nem me tirem as mãos com as quais escrevo textos literários, mensagens e notícias para meu jornal, trabalho do qual sobrevivo, e tenho uma pergunta a fazer: "Agora que não tenho mais intenção de correr mundo ou fugir de qualquer realidade; pernas, para que te quero?”
(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.
Já vi pés, pernas, mãos e braços serem amputados devido ao diabete. Muitos recursos deverão ser tentados antes desse recurso derradeiro que é a assinatura da falência da medicina em casos de úlceras diabéticas. Espero que esse mal não te aconteça, mas se acontecer, há as próteses e as fisoterapias para readaptá-lo a nova ordem. Desejo-lhe sorte!
ResponderExcluirSeu Pedro, de tanto caminhar por este imenso país, está claro sua vocação de bípede. Tem duas pernas e assim será até o passo final, quando subirá pelas alturas ao encontro de quantos lhe quiseram bem...e deixará outros tantos na saudade. De tão querido, jamais será esquecido. Parabéns pela crônica tocante. E saúde!
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