Hino ao crítico
* Por Vladimir Mayakowski
Da paixão de um cocheiro e de uma lavadeira
tagarela, nasceu um rebento raquítico.
Filho não é bagulho, não se atira na lixeira.
A mãe chorou e o batizou: crítico.
O pai, recordando sua progenitura,
vivia a contestar os maternais direitos.
com tais boas maneiras e tal compostura
defendia o menino do pendor à sarjeta.
Assim como o vigia cantava a cozinheira,
a mãe cantava, a lavar calça e calção.
Dela o garoto herdou o cheiro da sujeira
e a arte de penetrar fácil e sem sabão.
Quando cresceu, do tamanho de um bastão,
sardas na cara como um prato de cogumelos,
lançaram-no, com um leve golpe de joelho,
à rua, para tornar-se cidadão.
Será preciso muito para ele sair da fralda?
um pedaço de pano, calças e um embornal.
Com o nariz grácil como um vintém por lauda
ele cheirou o céu afável do jornal.
E em certa propriedade um certo magnata
ouviu uma batida suavíssima na aldrava,
e logo o crítico, da teta das palavras
ordenhou as calças, o pão e uma gravata.
Já vestido e calçado, é fácil fazer pouco
dos jogos rebuscados dos jovens que pesquisam,
e pensar, quando a estes, ao menos, é preciso
mordiscar-lhes de leve os tornozelos loucos.
Mas se infiltra na rede jornalística
algo sobre a grandeza de Puchkin ou Dante,
parece que apodrece ante a nossa vista
um enorme lacaio, balofo e bajulante.
Quando, por fim, no jubileu do centenário,
acordares em meio ao fumo funerário,
verás brilhar na cigarreira-souvenir o
seu nome em caixa alta, mais alvo do que um lírio.
Escritores, há muitos. Juntem um milhar.
E ergamos em Nice um asilo para os críticos.
Vocês pensam que é mole viver a enxaguar
a nossa roupa branca nos artigos?
(Tradução de Augusto de Campos e Boris Schnaiderman).
* Por Vladimir Mayakowski
Da paixão de um cocheiro e de uma lavadeira
tagarela, nasceu um rebento raquítico.
Filho não é bagulho, não se atira na lixeira.
A mãe chorou e o batizou: crítico.
O pai, recordando sua progenitura,
vivia a contestar os maternais direitos.
com tais boas maneiras e tal compostura
defendia o menino do pendor à sarjeta.
Assim como o vigia cantava a cozinheira,
a mãe cantava, a lavar calça e calção.
Dela o garoto herdou o cheiro da sujeira
e a arte de penetrar fácil e sem sabão.
Quando cresceu, do tamanho de um bastão,
sardas na cara como um prato de cogumelos,
lançaram-no, com um leve golpe de joelho,
à rua, para tornar-se cidadão.
Será preciso muito para ele sair da fralda?
um pedaço de pano, calças e um embornal.
Com o nariz grácil como um vintém por lauda
ele cheirou o céu afável do jornal.
E em certa propriedade um certo magnata
ouviu uma batida suavíssima na aldrava,
e logo o crítico, da teta das palavras
ordenhou as calças, o pão e uma gravata.
Já vestido e calçado, é fácil fazer pouco
dos jogos rebuscados dos jovens que pesquisam,
e pensar, quando a estes, ao menos, é preciso
mordiscar-lhes de leve os tornozelos loucos.
Mas se infiltra na rede jornalística
algo sobre a grandeza de Puchkin ou Dante,
parece que apodrece ante a nossa vista
um enorme lacaio, balofo e bajulante.
Quando, por fim, no jubileu do centenário,
acordares em meio ao fumo funerário,
verás brilhar na cigarreira-souvenir o
seu nome em caixa alta, mais alvo do que um lírio.
Escritores, há muitos. Juntem um milhar.
E ergamos em Nice um asilo para os críticos.
Vocês pensam que é mole viver a enxaguar
a nossa roupa branca nos artigos?
(Tradução de Augusto de Campos e Boris Schnaiderman).
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