quarta-feira, 19 de agosto de 2009


Os injustiçados

Bjornstierne Bjornson, Frédéric Mistral, José Echegaray Eizaguirre e Giosué Carducci. Você conhece esses nomes? Não? Pois são ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura do início do século XX. Enquanto isso, o nosso Machado de Assis sequer foi indicado para essa honraria. É verdade que sua vasta e instigante obra só agora ficou conhecida em âmbito internacional. Mas que merecia um reconhecimento pelos seus méritos literários, creio não restar nenhuma dúvida.
Não cometerei a mesma injustiça da Academia Sueca, encarregada da premiação e não direi que os (para mim) ilustres desconhecidos não tenham reunido méritos para a premiação. Até porque, nunca li nenhum livro deles. Não estou, pois, habilitado a avaliar o seu talento. Mas o nosso Machadão também reuniu méritos para lá de excepcionais, e com sobras. Foi, portanto, um dos milhões de injustiçados do Nobel, que neste ano completa 108 anos de existência.
Outros que mereceriam ser laureados, e nunca foram lembrados, foram, por exemplo, Fernando Pessoa, Jorge Luís Borges, John dos Passos, F. Scott Fitzgerald, Morris West e uma infinidade de escritores, hoje tidos e havidos como autênticos clássicos. É certo que nomes ilustríssimos foram lembrados e que, na época da sua premiação, muitos deles foram contestadíssimos. Hoje, essa contestação já não existe mais.
Ninguém pode dizer, por exemplo, que a premiação dada a Sully Prudhomme (o primeiro escritor a receber um Nobel de Literatura) tenha sido injusta. Ou que as de Henryk Sienkiewicz (autor de “Quo Vadis”), Rudyard Kipling, Rabindranath Tagore, Romam Roland, Knut Hamsun, Anatole France, William Butler Yeats, George Bernard Shaw, Henri Bérgson, Thomas Mann, Sinclair Lewis, Luigi Pirandelo, Eugene O’Neil, Pearl S. Buck, Gabriela Mistral, Herman Hesse, André Gide, T. S. Elliot, William Faulker, Bertrand Russell, François Mauriac, Ernest Hemmingway, Albert Camus, John Steinbeck, Jean-Paul Sartre, Miguel Angel Astúrias, Pablo Neruda, Octávio Paz ou Gabriel Garcia Márquez foram imerecidas. Foram lembranças oportunas, justas, justíssimas.
Injustos foram os esquecimentos de William Sommerset Maugham, Guimarães Rosa, Mário Vargas Llosa, Carlos Drummond de Andrade e uma infinidade de gênios literários, que sequer chegaram perto de uma indicação.
Outra coisa que causa estranheza é o baixo número de mulheres premiadas. Entre 105 escritores que já receberam o Nobel de Literatura, elas foram, apenas, ONZE! Isso mesmo, praticamente só dez por cento do total. Essa omissão fica ainda muito mais clara e evidente se atentarmos para o fato que 51,5% da população mundial é composta por pessoas do sexo feminino.
Voltando às indagações, você conhece, leitor amigo, o romancista francês Jean-Marie Gustave Lê Clézio? Não? Eu o conheço apenas de nome. Ele foi o último dos ganhadores do Nobel de Literatura, o do ano passado. Qual dos seus livros está entre os best-sellers, não digo mundiais, mas do seu país natal, a França? Nenhum! E ainda assim, foi premiado como o melhor escritor do mundo de 2008! Dá para entender isso? Qual o critério da Academia Sueca para premiar alguém? Existe algum? Fica a indagação.

Boa leitura.

O Editor.

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