terça-feira, 25 de agosto de 2009


Atentos à continuidade

Ainda com relação ao tema tratado na véspera, ou seja, o da utilização dos mesmos personagens em livros subseqüentes – não importa se romances, contos ou novelas – observo que esse procedimento requer certo cuidado num detalhe essencial que, no cinema, é chamado de “continuidade”.
Não se pode cair, impunemente, em contradição. Não em texto. Se numa história anterior, criamos um tal de “Zé das Couves” mulato, de cabelos negros e encaracolados, baixinho e de olhos negros, esse mesmo indivíduo não pode, na história seguinte, ser branquelo, loiro, de cabelos lisos e olhos azuis. A menos, claro, que se trate de homônimo. Nesse caso, porém, o leitor tem que ser informado, não importa de que maneira.
No cinema, erros de continuidade são bastante comuns. São cochilos do profissional ao qual cabe cuidar de cada cena, nos seus mínimos detalhes, durante as filmagens. Há casos, por exemplo, que o personagem aparece de boné em um “take” e no seguinte está de cabeça descoberta. Ou que numa cena veste camisa vermelha e na seqüência da ação esta se torna (miraculosamente) azul. E vai por aí afora.
Há até sites na internet especializados, apenas, em detectar e criticar essas mancadas. Elas são muito, mas muito mesmo mais comuns do que se pensa. Nós é que não estamos sempre atentos a esses importantes detalhes, que podem arruinar, por mera falta de atenção (ou relaxo?) uma excelente produção (não raro caríssima).
Houve um filme, desses de época, em que numa batalha de legionários romanos, um dos soldados podia ser visto nitidamente portando um baita Rolex no pulso! Convenhamos, Roma pode ter sido, e de fato foi, o maior império mundial da história. Mas não estava tão avançada assim! Legionário com relógio de pulso?! Foi demais para a minha cabeça!
Em outro filme, ficou visível um soldado romano vestindo calças jeans por baixo do saiote que os combatentes usavam na época. Esses erros de “continuidade”, em texto, ressaltam muito mais. São como um painel de néon, piscando, piscando e piscando escandalosamente.
Não vou fazer (óbvio) a maldade de mencionar esses tipos de contradição em livros até famosos. Afinal, também sou escritor e detestaria se meus eventuais cochilos (espero não ter nenhum a depor contra mim) fossem escancarados ao público. Mas que eles existem, e muitos, não tenham dúvidas.
Há personagens, por exemplo, que se tornam “mutantes” e não apenas de uma história para outra, mas num mesmíssimo enredo. Ou mudam de cor, ou crescem, ou diminuem de tamanho etc.. Ou seja, passam por processos que são impossíveis na natureza. Está aí uma burrada que não podemos cometer! Um pouquinho mais de capricho e uma releitura mais atenta ao texto antes de dá-lo por concluído, evitariam essas mancadas tão chatas (e, infelizmente, tão comuns)..
Nunca vi esse assunto ser trazido à baila, mas, creia, amigo escritor, que isso é importantíssimo e não mero detalhe, que possa ser ignorado impunemente.. Para que dar munição aos críticos, que podem “torpedear” nosso sonho de nos tornarmos best-sellers e induzir leitores s não comprarem o livro que escrevemos com tanto entusiasmo e esperança, se, sem erro nenhum, eles já são capazes de encontrar até “pêlo em ovo”?
Ainda a propósito da utilização dos mesmos personagens em livros diferentes, um leitor nos observa que omiti o nome de Monteiro Lobato. Não se tratou de omissão. Esse caso é tão conhecido, mas tão conhecido, que achei que seria redundância citá-lo. De qualquer maneira, está feito o registro. E, redundante por redundante, aduzo que Monteiro Lobato foi um gênio da Literatura, não somente nacional, mas mundial, que mereceria maior reconhecimento e reverência do que de fato teve. Quem sabe tenha sido (na minha modesta opinião, de fato foi) mais um dos milhões de injustiçados do Nobel?!

Boa leitura.

O Editor.

Um comentário:

  1. Isso mesmo, Pedro, o magnífico Lobato é um gênio. Devo a ele, mais até que aos estudos, grande parte do que sei, pq o escritor, com suas histórias maravilhosas, me apresentou ao conhecimento de forma amorosa. E ainda hoje, quando me perguntam qual o livro que mais me marcou, respondo sem vacilar: "O minotauro".

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