sexta-feira, 28 de agosto de 2009


A (ainda) mal-resolvida novela

Hoje, proponho-lhe um teste, arguto e paciente leitor do Literário (que pode, quem sabe, ser questão de um dos tantos vestibulares que ainda restam País afora). Responda-me, sem pestanejar, de que gênero são os seguintes livros (se romances ou novelas):
“Cândido ou o otimismo”, de Voltaire (1759); “A morte de Ivan Ilitch”, de Leon Tolstoi (1886); “Um estudo em vermelho”, de Sir Arthur Conan Doyle (1887); Billy Budd, de Herman Melville (1891); “A volta do parafuso”, de Henry James (1898); “Tufão”. De Joseph Conrad (1903); “A metamorfose”, de Franz Kafka (1915); “O velho e o mar”, de Ernest Hemmingway (1952); “Adeus Columbus”, de Phillip Roth (1959); “Aura”, de Carlos Fuentes (1962) e “O exército de um homem só”, de Moacyr Scliar (1973).
Pensou? Já chegou a alguma conclusão? Se sua resposta foi que estes livros são novelas, está certíssimo. Caso, porém, tenha respondido que são romances, não está de todo errado. Muitos professores poderão considerar que você acertou (caso essa questão conste de algum vestibular que você venha a encarar). “Mas como?!”, perguntará, intrigado e atôtino o sujeito que gosta das coisas bem explicadinhas.
Tentarei explicar, o melhor que posso, esse impasse, com alguma coerência. Para isso, no entanto, com a finalidade de organizar o raciocínio e ser o mais objetivo possível, recorro à enciclopédia eletrônica Wikipédia.
A novela é (ainda) um gênero literário limítrofe. Ou seja, ora é confundida com um conto mais extenso, ora com um pequeno romance. A intenção do autor, que se utiliza dessa forma de narrar uma história, é que, afinal de contas, importa. A caracterização de gênero é mera preocupação acadêmica de professores de literatura ou de críticos.
Wikipédia nos informa que a origem da novela remonta aos primórdios do Renascimento. Sua criação é atribuída ao escritor italiano Giovanni Boccaccio (1313-1375), com seu clássico “Decameron”. O livro é estruturado como uma espécie de compilação de dez novelas, contadas por dez personagens (daí seu título, do grego deca, dez), sendo sete moças e três rapazes, refugiados numa casa de campo para escaparem dos horrores da peste negra, que nesse período dizimou mais da metade da população mundial.
Boccaccio fez com que seus dez personagens, ao longo de dez dias de confinamento, para se ocuparem de algo e evitarem o tédio, contassem, todos os dias, uma história cada um. Estas deveriam ser subordinadas a algum tema proposto previamente por alguém do grupo.
Mais de um século depois, uma escritora recorreria ao mesmo expediente. A mesma estrutura criada por Boccaccio seria usada pela rainha consorte de Henrique II, Margarida de Navarra (1492-1549), para escrever o seu “Heptameron”.
Wikipédia ressalta que foi “apenas nos séculos XVIII e XIX que os escritores fundaram a novela enquanto estilo literário regido por normas e preceitos. Os alemães foram, então, os mais prolíficos criadores desse tipo de narrativa (em alemão novelle, plural novellen). Para estes, a novela é uma narrativa de dimensões indeterminadas – desde algumas páginas até centenas – que se desenvolve em torno de um único evento ou situação conduzindo a um inesperado momento de transição que tem como corolário um desfecho simultaneamente lógico e surpreendente”.
Por enquanto, essas informações bastam. Todavia, prometo voltar amanhã ao assunto trazendo à baila o que os estudiosos de literatura consideram como as características distintivas desse gênero que, convenhamos, é sumamente ambíguo.
Para mim, enquanto escritor (e tenho certeza que para você também), pouco me importa se alguma das minhas tantas narrativas seja considerada um romance mais curto, um conto mais longo ou venha a ser rotulada, genericamente, de “novela”. Como, no entanto, para estudiosos de literatura isso conta, e parece que muito, voltarei, com certeza, amanhã a este mesmo assunto.

Por enquanto, boa leitura.

O Editor.

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