Focos diferentes
Um leitor pergunta: “quem lucra mais, o escritor, que passe a atuar também no jornalismo (o que se tornou mais fácil com a abolição do diploma de jornalismo) ou o jornalista que lá um belo dia se transforme em escritor?”. Há vários aspectos a se ponderar. Primeiro, nada impede que alguém exerça ambas funções, simultaneamente. É o caso da imensa maioria dos nossos colunistas (embora não dos colaboradores).
Aliás, no século XIX, e boa parte do século XX, as redações eram compostas quase que exclusivamente por escritores. No outro extremo, nem todos os jornalistas (diria que são raros) se aventuram no pantanoso campo da Literatura, que pode tanto consagrar, quanto “queimar” um intelectual de valor.
Claro que o foco e, sobretudo, a linguagem dessas duas atividades são diferentes. O do jornalismo, é o fato, nu e cru, exatamente como aconteceu. É, portanto, o máximo das heresias “criar” em cima da notícia. Esta tem que ser transmitida, sempre, rigorosamente como aconteceu (infelizmente não é, pelo menos não por todos. Mas... deixa pra lá!).
Já a linguagem do escritor é menos seca, mais solta, diria que liberta da chamada “objetividade”. Quanto mais criativa for, melhor. Seu foco pode até ser algum determinado fato, alguma notícia que não se esgote no dia seguinte e que mereça ser registrada em livro. Mas, em geral, não é a realidade, e sim o que é fictício. É certo que a verossimilhança é desejável, mas sequer se trata de regra, de condição sine qua non, de obrigação para o escritor.
É provável que o espírito da pergunta do leitor se refira às vantagens financeiras de cada atividade, supondo que uma mesma pessoa não exerça simultaneamente ambas. Nesse aspecto, o escritor, que se transforme em jornalista, lucra infinitamente mais (apesar de, convenhamos, o profissional de imprensa não ser remunerado no valor que merece ser, salvo raras exceções), a menos que se trate de um Paulo Coelho. Daí... pode viver, exclusivamente, sem receios e sem sustos, do lucro advindo da venda dos seus livros.
Nas redações, pelo menos, o sujeito terá emprego fixo, com registro em carteira, recolhimento para a Previdência e possibilidades de, um dia, se aposentar. Isso, sem falar em Fundo de Garantia e de outras tantas vantagens sociais e trabalhistas.
Na Literatura, todavia, irá depender, sempre e sempre, dos caprichos e vontades do leitor (supondo, é claro, que consiga ao menos editora para publicar seus livros). Pode, por exemplo, escrever uma obra-prima, dessas a salvo de qualquer reparo e.... nada acontecer. É verdade, também, que pode produzir o caricato e o ridículo, simultaneamente, ou seja, um tremendo besteirol, e vender rios de exemplares. Cada um compra o que quer. Mas é muito mais comum a ocorrência de inexplicáveis encalhes de excelentes livros do que baboseiras e infantilidades se transformarem em best-sellers. Contudo... acontecem, esteja certo.
Para responder, portanto, à pergunta do leitor, sem tergiversar e nem ficar em cima do muro, afirmo (por experiência própria) que o melhor é, mesmo, exercer, simultaneamente, as duas atividades. O profissional que fizer essa opção (claro, se tiver talento, cultura, aptidão e conhecimento técnico para as duas) contará com as garantias trabalhistas que o jornalismo lhe dá e poderá, de vez em quando, apostar na “roleta russa” da Literatura.
Boa leitura.
O Editor.
Um leitor pergunta: “quem lucra mais, o escritor, que passe a atuar também no jornalismo (o que se tornou mais fácil com a abolição do diploma de jornalismo) ou o jornalista que lá um belo dia se transforme em escritor?”. Há vários aspectos a se ponderar. Primeiro, nada impede que alguém exerça ambas funções, simultaneamente. É o caso da imensa maioria dos nossos colunistas (embora não dos colaboradores).
Aliás, no século XIX, e boa parte do século XX, as redações eram compostas quase que exclusivamente por escritores. No outro extremo, nem todos os jornalistas (diria que são raros) se aventuram no pantanoso campo da Literatura, que pode tanto consagrar, quanto “queimar” um intelectual de valor.
Claro que o foco e, sobretudo, a linguagem dessas duas atividades são diferentes. O do jornalismo, é o fato, nu e cru, exatamente como aconteceu. É, portanto, o máximo das heresias “criar” em cima da notícia. Esta tem que ser transmitida, sempre, rigorosamente como aconteceu (infelizmente não é, pelo menos não por todos. Mas... deixa pra lá!).
Já a linguagem do escritor é menos seca, mais solta, diria que liberta da chamada “objetividade”. Quanto mais criativa for, melhor. Seu foco pode até ser algum determinado fato, alguma notícia que não se esgote no dia seguinte e que mereça ser registrada em livro. Mas, em geral, não é a realidade, e sim o que é fictício. É certo que a verossimilhança é desejável, mas sequer se trata de regra, de condição sine qua non, de obrigação para o escritor.
É provável que o espírito da pergunta do leitor se refira às vantagens financeiras de cada atividade, supondo que uma mesma pessoa não exerça simultaneamente ambas. Nesse aspecto, o escritor, que se transforme em jornalista, lucra infinitamente mais (apesar de, convenhamos, o profissional de imprensa não ser remunerado no valor que merece ser, salvo raras exceções), a menos que se trate de um Paulo Coelho. Daí... pode viver, exclusivamente, sem receios e sem sustos, do lucro advindo da venda dos seus livros.
Nas redações, pelo menos, o sujeito terá emprego fixo, com registro em carteira, recolhimento para a Previdência e possibilidades de, um dia, se aposentar. Isso, sem falar em Fundo de Garantia e de outras tantas vantagens sociais e trabalhistas.
Na Literatura, todavia, irá depender, sempre e sempre, dos caprichos e vontades do leitor (supondo, é claro, que consiga ao menos editora para publicar seus livros). Pode, por exemplo, escrever uma obra-prima, dessas a salvo de qualquer reparo e.... nada acontecer. É verdade, também, que pode produzir o caricato e o ridículo, simultaneamente, ou seja, um tremendo besteirol, e vender rios de exemplares. Cada um compra o que quer. Mas é muito mais comum a ocorrência de inexplicáveis encalhes de excelentes livros do que baboseiras e infantilidades se transformarem em best-sellers. Contudo... acontecem, esteja certo.
Para responder, portanto, à pergunta do leitor, sem tergiversar e nem ficar em cima do muro, afirmo (por experiência própria) que o melhor é, mesmo, exercer, simultaneamente, as duas atividades. O profissional que fizer essa opção (claro, se tiver talento, cultura, aptidão e conhecimento técnico para as duas) contará com as garantias trabalhistas que o jornalismo lhe dá e poderá, de vez em quando, apostar na “roleta russa” da Literatura.
Boa leitura.
O Editor.
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