Woodstock 40 anos: Hoje é Dia de Rock
* Por Raymundo Araujo Filho
Quando aconteceu Woodstock, minha família e eu estávamos fazendo um “estágio” em Portugal, pois meus pais foram “convidados” a sair do Brasil, pela ditadura militar. Por lá, em outra ditadura pós Salazar (ainda vivo), a de Marcelo Caetano, não se ouviu falar de Woodstock.
Tampouco o país tinha número expressivo de jovens, com grande contingente tendo sido mandado para morrer e matar na "Guerra do Ultramar" (contra a independência de Angola e Moçambique, principalmente).
Quando retornamos ao Brasil, em São Paulo, onde fiquei uns 3 meses, fui apresentado ao Woodstock, por primos e amigos. Chapei geral!
Se eu já tinha uma cultura musical egressa do Tropicalismo, com acordes modernos e em fusão do Rock com MPB (os Novos Baianos foram os melhores e mais radicais nesta fusão), a descoberta do que foi Woodstock, não só em termos musicais, mas de todo aquele resgate filosófico, estético e artístico, realmente um divisor de águas no mundo moderno, ao meu ver.
Há um ano, li um artigo sobre Woodstock, escrito por um "general sem exército", que finalizava dizendo que assim como Woodstock e os Panteras Negras, tudo esvaiu-se em drogas, e conservadorismo de muitos de seus participantes na época. Achei (e acho) uma visão reacionária e parcial, deste que foi um dos maiores, senão o maior evento cultural e polítipo de massas no mundo.
Só em Woodstock chegaram 600 mil pessoas – em fins da década de sessenta – e são inatingíveis os números no mundo, que assistiram e foram influenciados pelo evento. Não importa o destino de muitos daqueles que por lá estiveram. Suas vidas individuais não me interessam. O que me interessa é a repercussão do evento e o que ele gerou. Afinal, as obras transcendem seus autores (ainda bem!). E este foi máximo e libertador, além de estética, cultural e politicamente de grande importância e significado.
O que por lá se tocou de música, leu-se de poesia e produziu-se culturalmente, influenciando gerações inteiras pelo mundo todo, não está no gibi. Até hoje, conheço jovens na casa dos 20 que têm grande afinidade com Woodstock, o que prova o vigor ainda presente deste festival, ainda por agora. Ainda bem (de novo!)
Woodstock influenciou e alavancou de forma vigorosa a luta da sociedade civil estadunidense contra a guerra do Vietnam e do belicismo dos WASPs e estadunidenses em geral. Woodstock pôs todo mundo nu, literalmente. E mostrou que amar e fazer amor deve ser livre e estimulado.
Ainda hoje, tenho como preferência musical muitos dos artistas que por lá tocaram. Não citarei nenhum, pois teria de omitir outros tantos. Ali, naquele palco, fizeram misérias. E, se não conseguiram interromper a chuva (lembram? No rain, no rain!), mostraram que brincar com ela era muito bom.
Ao meu ver, Woodstock assustou tanto a burguesia mundial, que nunca mais brincaram em serviço, os Falcões. O mundo mudou muito depois disso. Lamentavelmente a esquerda brasileira e mundial, hegemonicamente ainda fechada e devota ao Socialismo (i)Real da URSS, ficaram tal e qual Carolina na janela, e não viram as Bandas tocarem. Chamavam de alienados um grupo de jovens que protestavam contra Nixon e a Guerra do Vietnam, e não davam moleza para o Stalinismo. Esquerda mais conservadora dos que queria combater....
Talvez um resquício daquela caretice foi o que fez o tal "general sem exército da esquerda atual", a dizer que tudo virou drogas, conservadorismo e capitalismo, o que é uma baita inverdade. Como um senhor já senil, a maldizer as belezas da juventude já passada....
Quando retornamos ao Brasil, por volta de 72, minha turma de escola foi levada por uma professora de Português e Literatura, jovem e moderninha, para vermos Hoje é Dia de Rock, no Teatro Ipanema. Peça de José Vicente (Prêmio Molière), com grande e ótimo elenco e bastidores, com nomes como : Luiz Carlos Ripper (Cenografia), Coreografia- Klauss Vianna (Prêmio Molière), Direção - Rubens Corrêa (Prêmio Molière), Direção Musical - Cecília Conde, Atores - Isabel Ribeiro, Ivan de Albuquerque, Ivone Hoffmann, José Wilker, Kaká Versiani, Nildo Parente, Rubens Corrêa, entre outros.
Virei habitué do Teatro Ipanema e, quando perdi a conta de quantas vezes já tinha visto a peça, já eram 11 vezes (Depois, eu fiquei meio tonto e perdi a conta).
Assim, independente da trajetória de alguns personagens de grandes feitos na história e nas artes, penso que devemos sempre reverenciar os bons fluidos dos legados que nos tocaram profunda e indelevelmente. Os fatos, ao fim das coisas, sempre prevalecem sobre as pessoas. A não ser, nos casos raríssimos, quando as pessoas são os próprios fatos (Martin Luther King, Ho Chi Mim, Einstein...).
Assim, nestes 40 anos de Woodstock e 38 anos de Hoje é Dia de Rock (ficou em cartaz de 71 a 73 – o que foi um fenômeno, por si só), vale a lembrança propositiva, mas não saudosista destas obras humanas, que nos fazem ter a certeza que o bicho humano ainda poderá ser capaz de muitas coisas boas. Quando eu não sei....
E, só para reafirmar a frase que projetei após a queda do Muro de Berlim, e que tanto chateia os que pensam que são vanguardas políticas, só porque ocupam espaços institucionais conservadores e bem comportados, mas de muito pouca inserção popular: Sou muito mais um filho de Woodstock, do que órfão do Muro de Berlim.
Assim como hoje, estou muito mais para as jornadas de Luta anticapitalistas, iniciada ferozmente pela juventude libertária presente, quase que sozinha (onde estava a esquerda tradicional?), contra as reuniões da OMC em Davos, ou qualquer parte do mundo.
E, há pouco tempo, assisti emocionado, o filme Woodstock, ao lado de minha mãe (já na casa dos 80) que, também emocionada só exclamava: “Que Juventude linda!”
É isso aí, bicho!
* Raymundo Araujo Filho é médico veterinário homeopata e não tem o costume de ser cabotino com a própria juventude, nem com a juventude alheia.
* Por Raymundo Araujo Filho
Quando aconteceu Woodstock, minha família e eu estávamos fazendo um “estágio” em Portugal, pois meus pais foram “convidados” a sair do Brasil, pela ditadura militar. Por lá, em outra ditadura pós Salazar (ainda vivo), a de Marcelo Caetano, não se ouviu falar de Woodstock.
Tampouco o país tinha número expressivo de jovens, com grande contingente tendo sido mandado para morrer e matar na "Guerra do Ultramar" (contra a independência de Angola e Moçambique, principalmente).
Quando retornamos ao Brasil, em São Paulo, onde fiquei uns 3 meses, fui apresentado ao Woodstock, por primos e amigos. Chapei geral!
Se eu já tinha uma cultura musical egressa do Tropicalismo, com acordes modernos e em fusão do Rock com MPB (os Novos Baianos foram os melhores e mais radicais nesta fusão), a descoberta do que foi Woodstock, não só em termos musicais, mas de todo aquele resgate filosófico, estético e artístico, realmente um divisor de águas no mundo moderno, ao meu ver.
Há um ano, li um artigo sobre Woodstock, escrito por um "general sem exército", que finalizava dizendo que assim como Woodstock e os Panteras Negras, tudo esvaiu-se em drogas, e conservadorismo de muitos de seus participantes na época. Achei (e acho) uma visão reacionária e parcial, deste que foi um dos maiores, senão o maior evento cultural e polítipo de massas no mundo.
Só em Woodstock chegaram 600 mil pessoas – em fins da década de sessenta – e são inatingíveis os números no mundo, que assistiram e foram influenciados pelo evento. Não importa o destino de muitos daqueles que por lá estiveram. Suas vidas individuais não me interessam. O que me interessa é a repercussão do evento e o que ele gerou. Afinal, as obras transcendem seus autores (ainda bem!). E este foi máximo e libertador, além de estética, cultural e politicamente de grande importância e significado.
O que por lá se tocou de música, leu-se de poesia e produziu-se culturalmente, influenciando gerações inteiras pelo mundo todo, não está no gibi. Até hoje, conheço jovens na casa dos 20 que têm grande afinidade com Woodstock, o que prova o vigor ainda presente deste festival, ainda por agora. Ainda bem (de novo!)
Woodstock influenciou e alavancou de forma vigorosa a luta da sociedade civil estadunidense contra a guerra do Vietnam e do belicismo dos WASPs e estadunidenses em geral. Woodstock pôs todo mundo nu, literalmente. E mostrou que amar e fazer amor deve ser livre e estimulado.
Ainda hoje, tenho como preferência musical muitos dos artistas que por lá tocaram. Não citarei nenhum, pois teria de omitir outros tantos. Ali, naquele palco, fizeram misérias. E, se não conseguiram interromper a chuva (lembram? No rain, no rain!), mostraram que brincar com ela era muito bom.
Ao meu ver, Woodstock assustou tanto a burguesia mundial, que nunca mais brincaram em serviço, os Falcões. O mundo mudou muito depois disso. Lamentavelmente a esquerda brasileira e mundial, hegemonicamente ainda fechada e devota ao Socialismo (i)Real da URSS, ficaram tal e qual Carolina na janela, e não viram as Bandas tocarem. Chamavam de alienados um grupo de jovens que protestavam contra Nixon e a Guerra do Vietnam, e não davam moleza para o Stalinismo. Esquerda mais conservadora dos que queria combater....
Talvez um resquício daquela caretice foi o que fez o tal "general sem exército da esquerda atual", a dizer que tudo virou drogas, conservadorismo e capitalismo, o que é uma baita inverdade. Como um senhor já senil, a maldizer as belezas da juventude já passada....
Quando retornamos ao Brasil, por volta de 72, minha turma de escola foi levada por uma professora de Português e Literatura, jovem e moderninha, para vermos Hoje é Dia de Rock, no Teatro Ipanema. Peça de José Vicente (Prêmio Molière), com grande e ótimo elenco e bastidores, com nomes como : Luiz Carlos Ripper (Cenografia), Coreografia- Klauss Vianna (Prêmio Molière), Direção - Rubens Corrêa (Prêmio Molière), Direção Musical - Cecília Conde, Atores - Isabel Ribeiro, Ivan de Albuquerque, Ivone Hoffmann, José Wilker, Kaká Versiani, Nildo Parente, Rubens Corrêa, entre outros.
Virei habitué do Teatro Ipanema e, quando perdi a conta de quantas vezes já tinha visto a peça, já eram 11 vezes (Depois, eu fiquei meio tonto e perdi a conta).
Assim, independente da trajetória de alguns personagens de grandes feitos na história e nas artes, penso que devemos sempre reverenciar os bons fluidos dos legados que nos tocaram profunda e indelevelmente. Os fatos, ao fim das coisas, sempre prevalecem sobre as pessoas. A não ser, nos casos raríssimos, quando as pessoas são os próprios fatos (Martin Luther King, Ho Chi Mim, Einstein...).
Assim, nestes 40 anos de Woodstock e 38 anos de Hoje é Dia de Rock (ficou em cartaz de 71 a 73 – o que foi um fenômeno, por si só), vale a lembrança propositiva, mas não saudosista destas obras humanas, que nos fazem ter a certeza que o bicho humano ainda poderá ser capaz de muitas coisas boas. Quando eu não sei....
E, só para reafirmar a frase que projetei após a queda do Muro de Berlim, e que tanto chateia os que pensam que são vanguardas políticas, só porque ocupam espaços institucionais conservadores e bem comportados, mas de muito pouca inserção popular: Sou muito mais um filho de Woodstock, do que órfão do Muro de Berlim.
Assim como hoje, estou muito mais para as jornadas de Luta anticapitalistas, iniciada ferozmente pela juventude libertária presente, quase que sozinha (onde estava a esquerda tradicional?), contra as reuniões da OMC em Davos, ou qualquer parte do mundo.
E, há pouco tempo, assisti emocionado, o filme Woodstock, ao lado de minha mãe (já na casa dos 80) que, também emocionada só exclamava: “Que Juventude linda!”
É isso aí, bicho!
* Raymundo Araujo Filho é médico veterinário homeopata e não tem o costume de ser cabotino com a própria juventude, nem com a juventude alheia.
A vida é bela e vale à pena, quando se luta. Sem luta, sem posicionamento ante aquilo que nos constrange e esmaga, somos mais um cordeiro a caminho do abatedouro. Isso, aprendemos com Woodstock e seus já lendários realizadores. Os caretas se apavoraram, então, com o poder revolucionário da libido, da poesia, da simples alegria de lutar e viver. Parabéns pela crônica em louvor aos velhos e bons tempos ... que vão voltar, pq tudo é cíclico. Aguardemos, pois.
ResponderExcluirRaymundo
ResponderExcluirVocê me fez reviver doces momentos de minha juventude, e a sentir saudade daquela geração que pregou o amor e a paz. E o enfoque que você deu nesta crônica vem mais uma vez provar que a juventude que estava em Woodstock ( e de certa forma todos nós estávamos lá...) era consciente de que nada é mais absurdo do que as guerras e as demais injustiças sociais, embora muitos a considerassem alienada, de alienados não tínhamos nada.Parabéns pelo lindo texto!
Abraços
Risomar
Não é mesmo fácil fazer uma avaliação sociológica desse grande encontro. O mais estranho dessa grandiosidade toda é que, seungdo dizem, não houve um planejamento real do evento, e as pessoas foram chegando e chegando. Ainda hoje as cenas emocionam.
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