Seja claro com as moscas e com os homens também
* Por Seu Pedro
Uma tarde, de pelo menos uma década atrás, sentei-me ao lado de um senhor, em um banco em uma larga e clara praça. Era noite, mas as lâmpadas tornavam aquela praça fácil de se ver tudo, e até de ler a expressão facial de uma pessoa, tal qual fosse de dia. Da janela do meu apartamento o via quase que diariamente. E não era solidão que o levava a passar horas da noite tomando uma água de coco ou refrigerante qualquer, vendidos nos trailers que varavam a madrugada. Eu havia me informado: era bem casado, pai de filhos já criados, mas que sempre o visitavam. O neto não o levaria àquele horário para aquela praça.
Movido pela curiosidade, um dia resolvi descer. E foi naquela noite que conheci o senhor alegre, que fitava as copas das árvores com muita atenção, como se houvesse alguma coisa escrita em alguma folha. Para puxar conversa, usei o fato de uma nova boate haver sido inaugurada dias antes ali em frente. Observei-lhe a grande movimentação de fregueses, logo acontecida. Foi quando o senhor sentenciou: “Acho que vai durar menos tempo do que se pensa”. E complementou: “Ali não existem fregueses fiéis. Os homens são como as moscas, gostam de locais amplos e bem iluminados”. A nossa prosa continuou com outros assuntos.
Confesso que, embora o achasse com jeito de profeta, pelo uso de enorme barba, não lhe dei crédito. Pensava eu que se um empresário soubesse gerir uma casa noturna, aquela boate ali existiria por muitos anos. E mesmo em casa, não me saia da cabeça aquela frase com ar de profecia. Passados dois anos, recordando daquela prosa, verifiquei que a boate não estava mais naquela enorme loja. As elegantes instalações foram colocadas em cima de alguns caminhões. Então me lembrei perfeitamente daquele homem falando: “O homem é igual às moscas...”.
As moscas não sentem cheiro, mas têm uma visão privilegiada e instintivamente pousam em mínimos lugares. Mas que estes estejam em locais amplos e claros. Em boates não têm mosca. Talvez por lá apareçam pernilongos, que são parecidos, mas não são moscas. As verdadeiras moscas não gostam da escuridão, e recolhem-se ao cair do sol, dando vez aos mosquitos machos e outras voadoras. Hoje, ao passar em frente a um antigo restaurante bem iluminado e repleto de tradicionais fregueses, vejo como foi sábio o homem do banco da praça. Sejamos claros quando tivermos alguma relação de negócio com alguém. Afinal, o homem verdadeiro é igual à mosca: gosta de tudo muito claro!
(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.
* Por Seu Pedro
Uma tarde, de pelo menos uma década atrás, sentei-me ao lado de um senhor, em um banco em uma larga e clara praça. Era noite, mas as lâmpadas tornavam aquela praça fácil de se ver tudo, e até de ler a expressão facial de uma pessoa, tal qual fosse de dia. Da janela do meu apartamento o via quase que diariamente. E não era solidão que o levava a passar horas da noite tomando uma água de coco ou refrigerante qualquer, vendidos nos trailers que varavam a madrugada. Eu havia me informado: era bem casado, pai de filhos já criados, mas que sempre o visitavam. O neto não o levaria àquele horário para aquela praça.
Movido pela curiosidade, um dia resolvi descer. E foi naquela noite que conheci o senhor alegre, que fitava as copas das árvores com muita atenção, como se houvesse alguma coisa escrita em alguma folha. Para puxar conversa, usei o fato de uma nova boate haver sido inaugurada dias antes ali em frente. Observei-lhe a grande movimentação de fregueses, logo acontecida. Foi quando o senhor sentenciou: “Acho que vai durar menos tempo do que se pensa”. E complementou: “Ali não existem fregueses fiéis. Os homens são como as moscas, gostam de locais amplos e bem iluminados”. A nossa prosa continuou com outros assuntos.
Confesso que, embora o achasse com jeito de profeta, pelo uso de enorme barba, não lhe dei crédito. Pensava eu que se um empresário soubesse gerir uma casa noturna, aquela boate ali existiria por muitos anos. E mesmo em casa, não me saia da cabeça aquela frase com ar de profecia. Passados dois anos, recordando daquela prosa, verifiquei que a boate não estava mais naquela enorme loja. As elegantes instalações foram colocadas em cima de alguns caminhões. Então me lembrei perfeitamente daquele homem falando: “O homem é igual às moscas...”.
As moscas não sentem cheiro, mas têm uma visão privilegiada e instintivamente pousam em mínimos lugares. Mas que estes estejam em locais amplos e claros. Em boates não têm mosca. Talvez por lá apareçam pernilongos, que são parecidos, mas não são moscas. As verdadeiras moscas não gostam da escuridão, e recolhem-se ao cair do sol, dando vez aos mosquitos machos e outras voadoras. Hoje, ao passar em frente a um antigo restaurante bem iluminado e repleto de tradicionais fregueses, vejo como foi sábio o homem do banco da praça. Sejamos claros quando tivermos alguma relação de negócio com alguém. Afinal, o homem verdadeiro é igual à mosca: gosta de tudo muito claro!
(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.
Boa reflexão, seu Pedro. Sempre me intrigou o fato de uma boate não durar mais do que um ou dois anos. Os entendidos me esclareceram que é próprio desse ramo de negócios a transitoriedade. O público se reduz e é preciso renovar a decoração. Agora vem esse lado comportamental: o motivo é a falta de luz. Muito bom!
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