
No sinal
* Por Núbia Araújo Nonato do Amaral
O sinal ficou verde, franzino ele corre para o meio da pista com os seus saquinhos de balas de hortelã. O asfalto quente derrete a sola de seu chinelinho já tão gasto, mas ele segue firme. Aproxima-se dos carros. A moça bonita levanta o vidro de sua janela, o taxista profere um palavrão e a dona de cara boa olha de lado e cospe no chão.
O sinal abriu, ele volta para a calçada, só poderá ir para casa depois de vender o último saquinho de balas, caso contrário perderá o direito de jantar. Em casa, o pai conta o dinheirinho arrecadado e separa a metade para a sua cachaça A mãe barriguda faz muxoxo, diz que o menino fez corpo mole hoje. Ele engole a comida e joga seu corpinho no colchão. Sem banho e sem afago adormece e sonha
.
Em seu sonho as ruas não têm sinais, os carros não têm janelas e as pessoas lhe sorriem esperando ansiosas por suas balinhas. As moedas caem do céu como chuva. O pai feliz nada em meio a dezenas de garrafas de cachaça e a mãe sorridente arrasta sua renque de filhos.
Acorda assustado, sua mãe o sacode lhe empurrando uma caneca de café e o pão dormido. Lá fora o sol começa a dar os seus primeiros sinais. Na descida da viela um confronto entre policiais e bandidos do morro cruza o caminho do menino. E ali mesmo ele ficou, as balinhas se perderam esparramadas pelo chão.
Não houve comoção e nem manifestações pela cidade. No seu colchão que nem bem esfriou, dorme o irmãozinho e agora seu sucessor.
* Poetisa e colaboradora do Literário
* Por Núbia Araújo Nonato do Amaral
O sinal ficou verde, franzino ele corre para o meio da pista com os seus saquinhos de balas de hortelã. O asfalto quente derrete a sola de seu chinelinho já tão gasto, mas ele segue firme. Aproxima-se dos carros. A moça bonita levanta o vidro de sua janela, o taxista profere um palavrão e a dona de cara boa olha de lado e cospe no chão.
O sinal abriu, ele volta para a calçada, só poderá ir para casa depois de vender o último saquinho de balas, caso contrário perderá o direito de jantar. Em casa, o pai conta o dinheirinho arrecadado e separa a metade para a sua cachaça A mãe barriguda faz muxoxo, diz que o menino fez corpo mole hoje. Ele engole a comida e joga seu corpinho no colchão. Sem banho e sem afago adormece e sonha
.
Em seu sonho as ruas não têm sinais, os carros não têm janelas e as pessoas lhe sorriem esperando ansiosas por suas balinhas. As moedas caem do céu como chuva. O pai feliz nada em meio a dezenas de garrafas de cachaça e a mãe sorridente arrasta sua renque de filhos.
Acorda assustado, sua mãe o sacode lhe empurrando uma caneca de café e o pão dormido. Lá fora o sol começa a dar os seus primeiros sinais. Na descida da viela um confronto entre policiais e bandidos do morro cruza o caminho do menino. E ali mesmo ele ficou, as balinhas se perderam esparramadas pelo chão.
Não houve comoção e nem manifestações pela cidade. No seu colchão que nem bem esfriou, dorme o irmãozinho e agora seu sucessor.
* Poetisa e colaboradora do Literário
Nossa, Nubia, seu texto está por demais de lindo!
ResponderExcluirQue realidade dura essa que ronda tantas das nossas crianças... Parabéns pela sensibilidade!
Beijos
Depois não entendemos como um país que tem escola para todos tem esses índices imorais de analfabetismo. "Rei morto, rei posto". Tristíssimo, e ao vê-lo, nem sempre vemos tudo, ou algumas vezes - façamos o mea culpa -, não vemos nada.
ResponderExcluirRisomar, Mara, obrigado pelos comentários.
ResponderExcluirMuita gente ainda faz "cara de paisagem"
mantendo-se numa confortável alienação.
beijos as duas.