sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010




Buiu *

** Por Silvana Alves

Buíu, 32 anos, nascido no Maranhão e criado pelas ruas do Brasil.

Buíu, como gosta de ser chamado teve pai, mãe e sete irmãos. Todos nascidos e criados no Maranhão. Buíu, era o quarto filho, negro, baixo e magro ele chama a atenção pela facilidade de conversação e carisma. Atualmente mora numa casa de recuperação para pessoas, que passaram pelo “fantástico mundo das drogas”. É assim, que ele descreve essa viagem. Ainda quando criança, aos oito anos de idade, quando pela lógica deveria ir à escola e brincar, ele perdeu sua mãe. E sua vida mudou completamente. Conheceu o sabor do álcool pelas mãos do próprio pai. Após alguns meses da perda da mãe e esposa, logo se casou com outra mulher.

Na época disse aos filhos que precisava de uma mulher para cuidar da casa, crianças e para satisfazê-lo com suas vontades masculinas. Mas, por algum motivo Buíu e a madrasta não conseguiram se entender. E ele então resolveu sair de casa, não foi para a casa de nenhum parente, ele simplesmente foi morar na rua, com oito anos de idade.

Seu pai tentou levá-lo para a casa novamente, mas não conseguiu. Nas ruas ele aprendeu a malandragem e o famoso jeitinho brasileiro, não demorou muito, e já estava roubando e usando drogas. Aos 12 anos de idade, já estava em São Paulo, logo Rio de Janeiro, Espírito Santo, voltou para São Paulo passando por diversas cidades do interior, até pousar em Guaratinguetá.

Na Terra das Garças Brancas desde os 25 anos, ele já morou em vários buracos, debaixo de várias pontes e em vários brejinhos. Em todos esses anos e lugares, sua companhia foi a droga e o álcool. Até ser atendido por uma pastoral, dessas que cuidam de moradores de rua, mendigos, andarilhos. É dessa maneira que a sociedade vê quem mora na rua. E ele então, após relutar muito, foi levado uma, duas, três... sete, oito... e muitas vezes mais para uma casa de recuperação.

Lá ficou por pouco tempo, saía e voltava, pois seu organismo sentia a falta do álcool e da pedra. Hoje aos 32 anos, está de volta à casa de recuperação. Trabalha cuidando da arborização do local, e ainda como servente de pedreiro em uma chácara próxima do local. Limpo e com fé em Deus, hoje seu único desejo é se recuperar por inteiro, sair da casa, ter um trabalho digno e constituir uma família.

Frases ditas por Buíu:

- Quando você tá na rua, mesmo sem emprego, sem dinheiro, a droga vem “facinho”(sic). Você consegue com uma facilidade incrível, as pessoas oferecem como se fosse água, sendo que água mesmo, você fica dias sem beber.

- Ir pra rua foi uma necessidade que tive, quem tem família precisa agradecer todos os dias e valorizar. Não volto mais pra casa do pai. Meu pai ainda tá vivo, e tenho contato apenas com uma irmã. A madrasta morreu. Mas, prefiro ficar aqui, na rua em qualquer lugar, voltar pra casa do pai, não volto.

- Quando eu conseguir me curar de vez do álcool e da droga, quero um emprego e arrumar uma namorada, casar e ter um casal de filhos. Constituir uma família e dar a eles o que não tive. Dar a eles a vida.

- Deus tem um propósito pra tudo. Se eu estou aqui falando minha vida pra você, ou é para eu te ajudar, ou é pra você me ajudar. Deus nunca faz nada em vão e minha história terá um final feliz, e você vai poder contar isso.....

* História verídica narrada por Silvana Alves em “Histórias e Vidas de Rua”, do Livro “Anjos da Rua”.


** Jornalista formada pela FATEA (Faculdade Integrada Teresa D´Ávila). Duas palavras falam por mim: vida e poesia.










4 comentários:

  1. Relato importante
    pois mostra a dura
    face de quem viveu ou vive
    nesse inferno.
    Beijos

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  2. Triste sina a desse jovem e de tantos outros em situações semelhantes. Torço para que encontre um bom caminho. Parabéns, Silvana!

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  3. Não entendi muito bem esta colocação:
    "Nas ruas ele aprendeu a malandragem e o famoso jeitinho brasileiro, não demorou muito, e já estava roubando e usando drogas."
    Abraços

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  4. Não acredito que ter uma casa seja a real vontade do seu entrevistado. Com essa história, a moradia com todas as suas paredes o aprisionará mais do que as pedras. Essa idealização, até necessária, do que seja felicidade, é uma fantasia comprada dos outros. Na verdade ele não quer que nada mude. Faz que sim para agradar aos demais.

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