

Maravilhosa
* Por Daniel Santos
Nada cala os tambores na cidade fatigada. Os dias entram pelas noites com insônia de profundas olheiras, numa compulsão requebrosa pelo divertimento a todo custo, ansiedade sem o cabresto do recato.
Houvesse um colapso, as tensões se aliviariam, mas recorrente é o frenesi que toma todo o sítio das promoções vantajosas, das produções milionárias, das platéias que se convulsionam roufenhas à exaustão.
Sempre prestes, incapaz de escapar ao incessante gerúndio, a cidade atrai turistas, forasteiros, curiosos e os imiscui na rotina da alegria ruidosa que preenche todos os horários, sem noção de prazo nem de limites.
Canta, dança, sua e emite à atmosfera eflúvios da própria alma, da sua inquieta essência. Assim, o delírio em suspensão volta a se depositar, grão após grão, sobre essa que desconhece descanso, tranqüilidade.
Quando a fadiga beira a ruína, o troar dos tambores reanima criaturas quase esgotadas, sem licença para a pausa. E prossegue, assim, o permanente show das multidões sem consciência do próprio desespero.
* Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.
* Por Daniel Santos
Nada cala os tambores na cidade fatigada. Os dias entram pelas noites com insônia de profundas olheiras, numa compulsão requebrosa pelo divertimento a todo custo, ansiedade sem o cabresto do recato.
Houvesse um colapso, as tensões se aliviariam, mas recorrente é o frenesi que toma todo o sítio das promoções vantajosas, das produções milionárias, das platéias que se convulsionam roufenhas à exaustão.
Sempre prestes, incapaz de escapar ao incessante gerúndio, a cidade atrai turistas, forasteiros, curiosos e os imiscui na rotina da alegria ruidosa que preenche todos os horários, sem noção de prazo nem de limites.
Canta, dança, sua e emite à atmosfera eflúvios da própria alma, da sua inquieta essência. Assim, o delírio em suspensão volta a se depositar, grão após grão, sobre essa que desconhece descanso, tranqüilidade.
Quando a fadiga beira a ruína, o troar dos tambores reanima criaturas quase esgotadas, sem licença para a pausa. E prossegue, assim, o permanente show das multidões sem consciência do próprio desespero.
* Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.
Maravilhosa, caro Daniel, não é, somente, a cidade que você descreve. É essa crônica enxuta e bem-escrita, um primor de Literatura, com "L" maiúsculo! Parabéns!
ResponderExcluirPrezado, Daniel! Eu o leio! Portanto, acalme-se! Olha o coração! Hehehehhehe...
ResponderExcluirCidade cheia de vida....
ResponderExcluirNada como um dia após o outro...
bela crônica, Daniel.
Caro Pedro, obrigado pelo entusiasmo que palavras generosas realçaram. Rodrigo, não sabia que me lia, mas agora que falou ...redobrou meu ânimo para escrever. Cel, a fênix mora nesssa tal cidade ... ou a cidade é a própria fênix?
ResponderExcluirÉ ver São Paulo. O gerúndio valoriza os acontecimentos, sem trégua e nem descanso. É um retrato sem imagem formal, mas com tudo que explica as insanas megalópolis. O recado foi muito bem dado. Espero ter tido imaginação à altura para entendê-lo, caro Daniel.
ResponderExcluirEntendeu, e muito bem, cara Mara. A cidade é qquer uma, desde que grande, onde espetáculos e competições esportivas reúnem com freqüência muitos milhões de pessoas, sem que se possa descansar nunca: é a fadiga na ordem do dia.
ResponderExcluirBelo texto, a ponto de podemos ouvir daqui os tambores da cidade fatigada
ResponderExcluirA Mara enxergou São Paulo, já eu vi no texto o moto perpétuo do Rio - que nos legou este mestre, a condensar em pequenas gemas as graças e desgraças das metrópoles. Minha admiração,Daniel.
ResponderExcluirObrigado, Murta e Marcelo, dois criadores maiúsculos. E vc acertou, Marcelo: ao escrever, pensei mesmo no Rio.
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