
Importância das anotações
Um leitor pergunta-nos sobre a importância das anotações para um escritor no processo de redação de um livro. Depende! Alguns escrevem de improviso, sem programação prévia e sem precisar de lembrete algum, sobre o que quer que seja, assim, de repetente, ao sabor do que chamam de “inspiração”, e o fazem bem.
Aqui mesmo, no Literário, colunistas afirmaram que preferem escrever dessa maneira. Ou seja, ao sabor do momento e do acaso. Há, por outro lado, escritores que trazem tudo anotadinho, são primores de organização, mas na hora de redigir... A priori, não há, pois, nenhuma regra específica a esse respeito. Cada qual produz da forma que mais lhe aprouver e que se sinta bem.
Claro que as anotações, dependendo de como e o que se anota, auxiliam, e muito. Principalmente quando se está com a mente cansada, após horas e mais horas de texto. Confiar na memória, por mais privilegiada que esta seja, nessas circunstâncias, é um perigo. Volta e meia ela nos trai.
Este editor, em sua coluna de domingo passado, aqui no Literário, por exemplo, foi traído pela memória e se sentiu constrangido diante dos leitores. Conheceu Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, pessoalmente, e foi grande admirador desse jornalista e talentoso escritor, que primava, sobretudo, pelo bom-humor. Tem vários dos seus livros (dois dos quais autografados), com os personagens que Lalau criou, como o Mirinho (o Primo Altamirando); como o Bonifácio Ponte Preta, o Patriota (aquele que costumava caminhar pelas ruas do bairro comendo goiaba e assoviando o Hino Nacional); como Tia Zulmira e vai por aí afora.
Todavia, ao redigir sua crônica (versando, justamente, sobre as diferenças entre crônica e artigo), ao mencionar o saudoso Stanislaw Ponte Preta, chamou-o de “Rubens”, em vez de Sérgio, seu nome de fato. É o que dá confiar na memória! Se erramos até naquilo que temos absoluta convicção (e estes lapsos são para lá de comuns), imaginem quando se trata de algo sobre o que não estamos lá tão seguros!
Este editor conhece vários escritores que andam, para cima e para baixo, ou com caderninhos de notas – como eram os casos do poeta pantaneiro Manoel de Barros e do imortal autor de “Grande Sertão, Veredas”, Guimarães Rosa, revelados, em excelente crônica, escrita pelo correspondente da revista Caros Amigos em Mato Grosso do Sul, Bosco Martins, publicada aqui no Literário –, ou com blocos de anotação (o que vem a dar na mesma). Como se vê, há excelentes exemplos a favor de se ajudar a memória com um pouquinho que seja de organização e método.
Claro que alguns exageram. Este editor é amigo de um escritor (cujo nome se reserva o direito de omitir) que é obcecado por anotações. Mantém bloquinhos (que ganha de brinde de uma gráfica da qual é cliente de longa data, feitos com aparas de papel) espalhados por toda a casa.
Tem um na cozinha, outro na sala, outro em seu criado-mudo, junto à cama, outro no banheiro e assim por diante, além do que carrega sempre consigo, onde quer que vá, no bolso da camisa. Todas as vezes que lhe vem alguma idéia original à cabeça (e pelos seus tantos e tão bem aceitos livros, estas lhe vêm em profusão), anota-a meticulosamente, onde quer que esteja.
Mas vai mais longe ainda em sua obsessão. Sempre que um bloquinho desses fica cheio, numera-o e arquiva-o em uma gaveta do seu gabinete de trabalho. Outro dia ele mostrou a este editor sua coleção. Sem nenhum exagero, havia por volta de um mil deles, atados com elásticos, cada qual com as datas em que começaram e terminaram de ser redigidos.
Só é difícil de entender como ele os consulta nas horas de necessidade. Deve ter, lá, o seu método. Mas isso, reitero, é obsessão. O amigo mostrou-me os bloquinhos em branco que tem em “estoque”. São três enormes pacotes, cada qual com cinqüenta ou mais unidades! Anotar, tudo bem, mas tanto assim?!!
Voltaremos ao assunto, que nos parece fascinante, por causa das manias de determinados escritores que, reunidas, dariam, certamente, um delicioso livro de comportamento (embora resultassem, provavelmente, na perda de preciosas amizades). Quanto à pergunta do leitor, se sou a favor ou contra esse tipo de anotações, prefiro continuar em cima do muro: depende!
Boa leitura.
O Editor.
Um leitor pergunta-nos sobre a importância das anotações para um escritor no processo de redação de um livro. Depende! Alguns escrevem de improviso, sem programação prévia e sem precisar de lembrete algum, sobre o que quer que seja, assim, de repetente, ao sabor do que chamam de “inspiração”, e o fazem bem.
Aqui mesmo, no Literário, colunistas afirmaram que preferem escrever dessa maneira. Ou seja, ao sabor do momento e do acaso. Há, por outro lado, escritores que trazem tudo anotadinho, são primores de organização, mas na hora de redigir... A priori, não há, pois, nenhuma regra específica a esse respeito. Cada qual produz da forma que mais lhe aprouver e que se sinta bem.
Claro que as anotações, dependendo de como e o que se anota, auxiliam, e muito. Principalmente quando se está com a mente cansada, após horas e mais horas de texto. Confiar na memória, por mais privilegiada que esta seja, nessas circunstâncias, é um perigo. Volta e meia ela nos trai.
Este editor, em sua coluna de domingo passado, aqui no Literário, por exemplo, foi traído pela memória e se sentiu constrangido diante dos leitores. Conheceu Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, pessoalmente, e foi grande admirador desse jornalista e talentoso escritor, que primava, sobretudo, pelo bom-humor. Tem vários dos seus livros (dois dos quais autografados), com os personagens que Lalau criou, como o Mirinho (o Primo Altamirando); como o Bonifácio Ponte Preta, o Patriota (aquele que costumava caminhar pelas ruas do bairro comendo goiaba e assoviando o Hino Nacional); como Tia Zulmira e vai por aí afora.
Todavia, ao redigir sua crônica (versando, justamente, sobre as diferenças entre crônica e artigo), ao mencionar o saudoso Stanislaw Ponte Preta, chamou-o de “Rubens”, em vez de Sérgio, seu nome de fato. É o que dá confiar na memória! Se erramos até naquilo que temos absoluta convicção (e estes lapsos são para lá de comuns), imaginem quando se trata de algo sobre o que não estamos lá tão seguros!
Este editor conhece vários escritores que andam, para cima e para baixo, ou com caderninhos de notas – como eram os casos do poeta pantaneiro Manoel de Barros e do imortal autor de “Grande Sertão, Veredas”, Guimarães Rosa, revelados, em excelente crônica, escrita pelo correspondente da revista Caros Amigos em Mato Grosso do Sul, Bosco Martins, publicada aqui no Literário –, ou com blocos de anotação (o que vem a dar na mesma). Como se vê, há excelentes exemplos a favor de se ajudar a memória com um pouquinho que seja de organização e método.
Claro que alguns exageram. Este editor é amigo de um escritor (cujo nome se reserva o direito de omitir) que é obcecado por anotações. Mantém bloquinhos (que ganha de brinde de uma gráfica da qual é cliente de longa data, feitos com aparas de papel) espalhados por toda a casa.
Tem um na cozinha, outro na sala, outro em seu criado-mudo, junto à cama, outro no banheiro e assim por diante, além do que carrega sempre consigo, onde quer que vá, no bolso da camisa. Todas as vezes que lhe vem alguma idéia original à cabeça (e pelos seus tantos e tão bem aceitos livros, estas lhe vêm em profusão), anota-a meticulosamente, onde quer que esteja.
Mas vai mais longe ainda em sua obsessão. Sempre que um bloquinho desses fica cheio, numera-o e arquiva-o em uma gaveta do seu gabinete de trabalho. Outro dia ele mostrou a este editor sua coleção. Sem nenhum exagero, havia por volta de um mil deles, atados com elásticos, cada qual com as datas em que começaram e terminaram de ser redigidos.
Só é difícil de entender como ele os consulta nas horas de necessidade. Deve ter, lá, o seu método. Mas isso, reitero, é obsessão. O amigo mostrou-me os bloquinhos em branco que tem em “estoque”. São três enormes pacotes, cada qual com cinqüenta ou mais unidades! Anotar, tudo bem, mas tanto assim?!!
Voltaremos ao assunto, que nos parece fascinante, por causa das manias de determinados escritores que, reunidas, dariam, certamente, um delicioso livro de comportamento (embora resultassem, provavelmente, na perda de preciosas amizades). Quanto à pergunta do leitor, se sou a favor ou contra esse tipo de anotações, prefiro continuar em cima do muro: depende!
Boa leitura.
O Editor.
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