terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Loucos?


* Por Eduardo Oliveira Freire


Uma vez, quando criança, gritei em pensamento.
 
Desde que me entendo por gente, quando a noite chegava e o sono vinha, ninguém dormia. Todos ficavam vagando por aí como zumbis e à espreita de quem está acordado, para mordê-lo e o transformar como igual. Ao amanhecer, todos voltavam ao normal e agiam como se nada tivesse acontecido.

No início, tinha medo, mas me acostumei com os sons que minha família emitia. Comecei a dormir tranquilamente, enquanto os outros acossavam. Sempre escutei gritos na alta madrugada, era um "acordado" que foi descoberto. Ao crescer, curti minha infância e juventude sem muito drama. A única coisa que me incomodava era os gritos ou quando alguém ficava a me observar para ver se dormiam realmente.

O tempo passou, tive mulher e filhos. Eram zumbis, também. Como estava habituado, nem me importei. Até quis ser mordido por eles para não ser mais diferente.

Quando surgiram as redes sociais, descobri o "grupo dos acordados". Entrei em contato e conversei bastante com os integrantes. A que dialogava mais comigo era Ana e nos conhecemos no mundo real. Era casada também e sofria de ver os seus na madrugada, caçando os acordados.

Nós nos apaixonamos, porém, não podíamos abandonar nossas famílias. Encontrávamos um jeito para passar a noite se amando trancados num quarto de motel, enquanto os zumbis noturnos perambulavam pela madrugada.

Será que somos os loucos?! Ou pertencemos aos poucos sãos que ainda existem no mundo?

* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/



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