sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Dia após dia


* Por Salvatore Quasimodo


Leio-te doces versos do passado,
e as palavras nascidas entre as vinhas,
as tendas, às margens de rios de terras
do leste, como agora caem lúgubres
e desoladas nesta profundíssima
noite de guerra em que não se escuta
voar no céu nenhum anjo da morte,
e o vento imita estrondos de desabes
se as divisórias de metal sacode
nos terraços de cima, e melancólicos
sobem dos cães que latem nos quintais
os protestos aos tiros das patrulhas
pelas ruas desertas. Alguém vive.
Alguém talvez viva. Mas nós, cerrados,
à escuta de uma antiga voz,
buscamos algo que ultrapasse a vida,
o escuro sortilégio da terra
onde mesmo entre tumbas de escombros
a erva daninha ergue a sua flor.

(Tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti).


* Poeta italiano, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1959.

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