Mudei de opinião sobre aniversários
* Por Pedro J. Bondaczuk
Os meus aniversários – desde que atingi a maturidade e os
neurônios passaram a ditar meu comportamento, e não mais os hormônios, como
ocorria na adolescência – sempre foram motivos de tristeza e de inquietação, em
vez de alegrias e de festa, como a imensa maioria das pessoas os considera
mundo afora. Por que? Porque amo a vida de paixão e tenho plena consciência de
que, a cada ano que passa mais próximo fica o meu fim. Claro que ele já poderia
ter chegado, e a qualquer momento, até mesmo no útero materno, já que nossa
extinção não depende de um número específico de aniversários que fizermos.
Todavia, quando moço, não tinha essa consciência, embora tivesse essa intuição.
Hoje já não me aborreço tanto quando aniversario. Mas esta é uma postura
bastante recente.
Em 20 de janeiro de 2014, por exemplo, quando completei 71
anos, escrevi uma crônica, intitulada “Aniversários envelhecem”, em que ponderei,
em certo trecho: “Ora, se ‘gastamos’ parte da nossa principal fortuna, do
capital que sequer sabemos a quanto monta, que é o tempo, qual a razão de
comemorarmos, com bolo, velinhas, festa e tudo o mais, geralmente com alegria,
esse decréscimo de vida? Deveríamos nos entristecer, principalmente depois de
certa idade. Todavia... não ficamos tristes. Ficamos eufóricos. As pessoas não
nos hipotecam solidariedade típica das perdas, mas nos cumprimentam com efusão,
como se ganhássemos na loteria. É contraditório, não é mesmo? E ai de quem não
se lembra da data e não nos distingue com algum cumprimento, algum voto, algum
augúrio (a maior parte ‘da boca para fora’, nitidamente formais e, portanto,
hipócritas)”.
O que mudou nestes últimos três anos a esse propósito? A
rigor, nada mudou. Continuo não gostando de aniversários, sentindo-me “roubado”
em meu tempo. Só que agora, em vez de lamentar perdas ocorridas no correr dos
anos (que foram inúmeras), resolvi valorizar os ganhos que obtive, que não
foram poucos, e que me deixam admirado, exclamando, sempre que penso neles:
“Puxa, como eu consegui?!!!”. Uma dessas vitórias obtidas foi a realização de um dos sonhos que acalentei
quando menino: o de me tornar escritor. É certo que não sou nenhum Machado de
Assis e, embora tenha duas dezenas de livros escritos, consegui publicar apenas
quatro deles. Mas... consegui! Muita gente, bem melhor do que eu, não
conseguiu. Nenhuma das minhas obras publicadas se tornou best-seller, mas elas
existem, algumas estão em livrarias, outras em sebos, e muita gente já as
adquiriu e pode vir a adquirir. Se quem as comprou as leu, ou não, não posso
garantir. E muito menos, em caso afirmativo, se gostou do conteúdo. Mas o sonho
de infância, mesmo que de forma parcial, foi concretizado, ora bolas!. Quem
sabe ele ainda se realize integralmente e eu venha a me tornar leitura
obrigatória de multidões! Sei que é muita pretensão da minha parte. Mas já que
estou sonhando, que o sonho seja o mais elevado possível.
Outra fantasia que me passou pela cabeça, quando menino, foi
a de galgar, uma a uma, três academias de letras: a local (da minha cidade); a
regional (do Estado), e a nacional (a fundada por Machado de Assis). Claro que
nunca revelei isso a ninguém, para não ser motivo de chacota de imbecis.
Todavia, por um desses acasos da vida, não é que “galguei” o primeiro desses
três degraus?! Em novembro de 1992 fui eleito, e por unanimidade de votos, para
a Academia Campinense de Letras, para ocupar a cadeira de número catorze, que
ocupo com muito orgulho até hoje e há quase vinte e cinco anos (que serão
completados neste 2017). Sei que é pouco para quem sonhou tão alto. Mas muitos
e muitos e muitos escritores, bem melhores do que eu, não conseguiram nem isso!
É verdade que, a esta altura do campeonato, minha chance de galgar os outros
dois degraus, ou seja, de chegar à Academia Paulista de Letras e em seguida à
instituição fundada por Machado de Assis, beiram a zero. E daí? Monstros
sagrados das letras nacionais (quiçá mundiais), como Mário Quintana ou Carlos
Drummond de Andrade nunca foram eleitos para a ABL. E foram o que foram.
Ademais, por absurdo que pareça, nunca se sabe o que nos acontecerá no próximo
minuto, quanto mais amanhã.
Está aí a principal razão de eu haver mudado minha postura
em relação aos aniversários, às vésperas de celebrar mais um, amanhã, que será
o meu 74º. Em vez de lamentar o tempo que “perdi”, como fazia nos anos
anteriores, comemoro o tempo que “ganhei”, concretizando, mesmo que
parcialmente, um sonho de criança, o que, para mim, é muita coisa. Se serei
lembrado ou não por muita gente em um futuro distante (se é que a humanidade
terá algum futuro, o que é bastante duvidoso) é algo que nem eu e nem ninguém
pode prever. Todavia, os dados foram lançados. Mesmo que ainda parcialmente,
pelo menos parte da minha missão na Terra já está cumprida. Meu empenho,
doravante, será o de tentar e tentar e tentar cumprir o restante, confiando (um
pouco) na minha limitada capacidade e muito, muitíssimo, na força do acaso,
para que me propicie as circunstâncias ideais para minha plena realização
pessoal.
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Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas
(atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e
do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe,
ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma
nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance
Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991
a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição
comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio
de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O
Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
Nascer no dia de São Sebastião é certeza de ser lembrado. Hoje, quando escrevi a data pela primeira vez no dia (são 30, pelo menos a cada 24 h), lembrei-me: amanhã será aniversário de Pedro Bondaczuk. Será setenta e quantos(?), pois há algum tempo ele tinha feito 70. Em relação ao tempo, a cada aniversário é um ano a menos, concordo, mas celebramos por ter chegado lá. Os amigos nos animam com afeto, atenção, presentes e festejos. Será que é para compensar a perda?
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