segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

O meu idioma


* Por Guilem Rodrigues da Silva


Quando eu digo “terra” em português
esses dois erres soam em meus dentes
como partículas de terra
flor floresce em meus lábios
“mane” será mais bonita que “lua”
mas nunca “hav” do que “mar”
com suas praias sem fim
onde cada raio de sol
transforma um grão de areia num
diamante
O meu idioma é minha garantia de vida
uma constante lembrança
de dor
de alegria
de raiva
Aqui neste país tenho visto de tudo
digo “obrigado” ao óbvio
digo “vai bem?”
sem ser difícil ser sincero
Proíbem-se as bebidas alcoólicas
o cigarro
mas há o silêncio
os suspiros melancólicos
Ah!eu sei que tenho a possibilidade
de senti-me bem
apesar das preposições
que ainda hoje se queixam
das minhas violações
Mas o meu idioma
muito importante para mim
como as demais coisas do meu país terceiro-
mundo
são sufocadas pelo estranho conhecido
e é uma luta diária
com monólogos frente ao espelho
lendo e voz alta tudo sobre sabiás e palmeiras
para manter o meu idioma vivo
Cada vez que eu busco no dicionário uma
palavra
para escrevê-la corretamente
afasto-me das minhas raízes
Dentro em breve estarei nu e sem palavras
tremendo ao vento frio desta Escandinávia

* Poeta gaúcho residente na Suécia. Presidente da Associação dos Escritores do Sul da Suécia e membro do Sindicato dos Escitores da Suecia, da Associação Sueco-Dinamarquesa de Escritores e da Societé Européenne de Culture em Veneza. Autor de vários livros de poesia, entre os quais “Saudade e uma canção desesperada", que lançou em novembro do ano passado, no Rio de Janeiro.



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