O
meu idioma
* Por Guilem
Rodrigues da Silva
Quando
eu digo “terra” em português
esses
dois erres soam em meus dentes
como
partículas de terra
flor
floresce em meus lábios
“mane”
será mais bonita que “lua”
mas
nunca “hav” do que “mar”
com
suas praias sem fim
onde
cada raio de sol
transforma
um grão de areia num
diamante
O
meu idioma é minha garantia de vida
uma
constante lembrança
de
dor
de
alegria
de
raiva
Aqui
neste país tenho visto de tudo
digo
“obrigado” ao óbvio
digo
“vai bem?”
sem
ser difícil ser sincero
Proíbem-se
as bebidas alcoólicas
o
cigarro
mas
há o silêncio
os
suspiros melancólicos
Ah!eu
sei que tenho a possibilidade
de
senti-me bem
apesar
das preposições
que
ainda hoje se queixam
das
minhas violações
Mas
o meu idioma
muito
importante para mim
como
as demais coisas do meu país terceiro-
mundo
são
sufocadas pelo estranho conhecido
e
é uma luta diária
com
monólogos frente ao espelho
lendo
e voz alta tudo sobre sabiás e palmeiras
para
manter o meu idioma vivo
Cada
vez que eu busco no dicionário uma
palavra
para
escrevê-la corretamente
afasto-me
das minhas raízes
Dentro
em breve estarei nu e sem palavras
tremendo
ao vento frio desta Escandinávia
* Poeta gaúcho residente na Suécia. Presidente da Associação dos
Escritores do Sul da Suécia e membro do Sindicato dos Escitores da Suecia, da
Associação Sueco-Dinamarquesa de Escritores e da Societé Européenne de Culture em Veneza. Autor de vários
livros de poesia, entre os quais “Saudade e uma canção desesperada", que
lançou em novembro do ano passado, no Rio de Janeiro.
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