Dor
da separação
A separação das pessoas que amamos
(pais, filhos, netos, namoradas, esposas, parentes ou amigos) é uma
circunstância inevitável na vida de todos nós. As razões e ocasiões,
obviamente, é que variam. Varia, também, a intensidade da dor que sentimos,
conforme o grau de afeição que tínhamos por quem fomos forçados, por algum
motivo, a nos separar. Mas se houver um mínimo de afeto envolvido, essa
horrível sensação de perda, a frustração da ausência e a incerteza quanto ao reencontro,
se fazem sempre presentes, e não raro nos deixam profundas cicatrizes na alma,
que se apagam, apenas, quando morremos.
Pior é quando a separação é
irreversível. Quando a pessoa que amamos, por exemplo, se muda para uma cidade,
para a qual dificilmente iremos algum dia por causa da distância (ou ela não
virá, pelo mesmo motivo), quando não para outro país e, às vezes, até para
outro continente, do outro lado do mundo.
Essa mudança, claro, também pode ser a
nossa. Não importa, no caso, quem mudou. Importa que nos separamos de quem nos
dava afeto e por quem nutríamos profunda afeição. Muitíssimo pior, ainda, é
quando é a morte que nos separa. Aí, não tem jeito mesmo. Temos que nos
contentar somente com lembranças que, não raro, em vez de nos consolarem,
multiplicam nossa sensação de perda e de desamparo, a nossa carência afetiva.
Refiro-me, aqui, ao citar separações de
pais, filhos e/ou esposa, a lares equilibrados e harmoniosos em que reinem o
respeito e o amor mútuos. Há aqueles (que sequer podem receber esse honrado
nome) que são autênticas sucursais do inferno, cuja saída se constitui em
libertação e, portanto, em
alívio. Desses , deixo para tratar em outra ocasião.
Sempre chega, em nossa vida, o momento
de cortarmos, pela segunda vez, o cordão umbilical, que nos liga a nossos pais
(a primeira, óbvio, é na maternidade, em nosso nascimento). Em alguns casos,
isso tarda muito a acontecer, em outros, é precoce, rápido e fulminante.
Muitos adolescentes, naquela fase
típica, tão nossa conhecida, pela qual todos passamos algum dia, a da rebeldia
sem causa, entendem que, saindo de casa, estarão manifestando seu senso de
independência, embora não estejam preparados para esse exercício. Quebram a
cara, evidentemente! Alguns têm a humildade do retorno. Outros sofrem o diabo,
mas não dão o braço a torcer.
Temos um terceiro momento de corte do
cordão umbilical, mas desta vez é o que nos liga à prole que geramos. E essa
separação, convenhamos, não dói menos do que as duas anteriores. Não raro, a
dor é até maior. Cansamo-nos de ouvir (e de afirmar) que os filhos não são
propriedades nossas (não são mesmo) e que os geramos não para o nosso deleite e
proveito, mas para o mundo (e é de fato). Contudo, quando chega o momento de
mostrar isso na prática... É um Deus nos acuda!
Ainda quando os filhos saem de casa
para uma condição melhor – ou porque lhes surgiu alguma oportunidade
profissional imperdível, ou porque fizeram um casamento feliz e por amor ou por
outra circunstância favorável qualquer – não nos sentimos tão mal.
Contudo, mesmo que não confessemos a
ninguém, isso, sem dúvida nenhuma, dói. Não são raras as vezes em que (se não
dizemos, pelo menos pensamos assim) achamos que os filhos nunca deveriam
crescer. Deveriam permanecer, para sempre, com aquela idade entre os seis e
sete anos, em que mais do que pessoas de carne e osso, são “ pura poesia
ambulante”. Mas crescem. E lá um belo dia, chega o momento de “baterem asas” do
ninho.
Para nós, porém, seu status nunca muda.
Quando nos referimos aos filhos, até inconscientemente, chamamo-los,
invariavelmente, de “minhas crianças”, mesmo que tenham cinqüenta anos ou mais
nas costas e numerosa prole. Quem já não se pilhou dizendo isso? É uma atitude
para lá de normal. Eu digo isso a todo o momento, para a esposa, para os amigos,
para os conhecidos etc.
Não raro, os filhos, quando casam,
passam a morar na mesma cidade, às vezes no mesmo bairro, quando não na mesma
rua que nós. No princípio, nos visitam praticamente todos os dias. Com o tempo,
todavia, essas visitas vão se espaçando, se espaçando, se espaçando,
tornando-se crescentemente menos constantes, até que se limitam, apenas, ao
nosso aniversário, aos Dias das Mães e dos Pais, à Páscoa e ao Natal, quando
muito. Isso quando não cessam de vez e não se tornam anuais ou até de décadas.
Restam-nos, então, somente uma multidão
de lembranças – a primeira vez que cada um se sentou sozinho, as primeiras
engatinhadas, os primeiros passos, as primeiras palavras balbuciadas e vai por
aí afora – e a dor da separação, que fica latejando, latejando e latejando em
nosso peito e em nossa memória, sem nunca cessar. Como se vê, amar é muito
bom... mas dói como quê!
Boa leitura!
O Editor.
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As inúmeras rupturas vão machucando nossos dias cada uma com a sua intensidade dolorosa. Sobreviveremos?
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