sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Ídolos do século


O homem, a despeito da ilimitada capacidade de raciocínio de que dispõe (ao menos potencialmente), sempre teve irresistível atração e, mais do que isso, incontrolável obsessão pela idolatria. Já idolatrou, por exemplo, o sol, a lua, o fogo, o vento, a água e diversos animais, atribuindo-lhes poderes mágicos que eles não têm e nunca tiveram. Os povos mais evoluídos criaram deuses com feições, defeitos e paixões humanos. Houve os que inventaram ídolos de seres que sequer existiram (e que, claro, não existem), figuras aberrantes, com cabeça de cão (ou águia, ou hiena etc.) e corpo humano, entre outras aberrações. E constituíram-nos em deuses, com todo um ritual, dogmas e procedimentos para os idolatrar de forma apaixonada e fanática. 

Fora dos templos, adoraram desportistas que se destacavam nos Jogos Olímpicos (os originais, disputados nos arredores do Monte Olimpo, na Grécia), generais, imperadores, gladiadores etc. Nos tempos atuais, idolatram astros e estrelas dos esportes, atores e atrizes do teatro, cinema e televisão, cantores dos mais diversos gêneros etc.etc.etc.

Todos os períodos da História – que se constitui, na verdade, numa pornográfica sucessão de guerras, injustiças, maldades, contradições e violências de toda a sorte – têm seus ídolos, seus Baals, seus “bezerros de ouro”, seus objetos de culto aos quais a maioria se inclinava e venerava (o que, por estranho que pareça, ainda fazem com constância e compunção).

Daí o mundo, que poderia ser um Paraíso de risos e venturas, ser este perverso “vale de lágrimas”, de sofrimentos e dores. Esgotados todos os símbolos de idolatria, o homem houve por bem idolatrar seus semelhantes, rotulando os de suposta conduta ilibada de “santos”, aos quais atribuíram, além de imortalidade, poderes que eles nunca tiveram e jamais terão. Fabricaram imagens que supostamente têm suas feições e passaram a adorar a esses objetos que, juram por todas as juras, são “milagrosos”, lhes erigindo altares e estabelecendo cultos repletos de rituais. Praticamente todos os dias surgem  novas “religiões” em alguma parte do mundo. Ora são criadas por fanáticos, ora por desequilibrados, ora por meros espertalhões. E o estranho é que todas passam a ter fiéis adeptos.

E não são, apenas, as pessoas simples, humildes e carentes de conhecimentos e informações, que agem dessa forma e praticam (aberta ou disfarçadamente) algum tipo de idolatria, que rotulam de religião. E ai de quem ousar contestar esse procedimento! Muita gente sábia já perdeu a vida em fogueiras por muito menos do que a mera contestação.

Nem sempre, é verdade, os idolatrados são pessoas (em geral guerreiros, em detrimento dos sábios e dos idealistas). A psiquiatra Nise da Silveira, no livro “Jung Vida e Obra”, aponta quais foram, por exemplo, os ídolos do século passado (sem que os “idólatras” sequer se dessem conta dessa idolatria): “O século XX conhece grandes ídolos: raça, sexo, Estado, partido, dinheiro, máquina...”.

Isso explica a razão do mundo estar como está: poluído, ameaçado de ter seu equilíbrio natural definitivamente rompido, injusto, perverso e sofrido. Uma pergunta se insinua e se impõe a respeito: qual a verdadeira religião do homem contemporâneo, aquela que ela professa de fato, sinceramente, sem falsidade ou disfarce, e não apenas de maneira formal, como a que declara seguir?

Mais de novecentas milhões de pessoas ao redor do mundo declaram-se cristãs, como nos mostram as estatísticas. Quantas, todavia, exercem, de fato, o cristianismo? Dez por cento? Cinco? Dois? São poucos! Não gosto de abordar o tema religião, porquanto trata-se de questão de foro íntimo de cada um.

Analiso-a, contudo, com o olhar frio, desapaixonado e objetivo do cientista, do sociólogo, do estudioso do comportamento e concluo, com tristeza e decepção, que os objetos de culto do homem contemporâneo são: seu clube esportivo (quem nunca ouviu alguém dizer que encara o time de futebol pelo qual torce como religião?), o dinheiro, o automóvel, enfim, os tantos e tantos e tantos objetos de ostentação e futilidade que há por aí.

É lamentável, mas trata-se da realidade nua e crua atual mundo afora. As pessoas apegam-se a bobagens, sem valor ou sentido, e investem suas vidas nelas. Recusam-se a raciocinar e a entender o quão primitivo, irracional e tolo é esse procedimento.

O sociólogo A. Greeley aponta um dos cultos mais disseminados nesta segunda década  do século XXI: “Basta visitar o salão anual do automóvel para reconhecer ali uma manifestação religiosa profundamente ritualizada. O culto do veículo sagrado tem seus fiéis e seus iniciados”. E ele está errado? Infelizmente, não!!! Quantas pessoas, tidas e havidas como equilibradas e racionais, não assassinam outras apenas porque elas ousaram avariar (não raro, causar apenas um quase imperceptível arranhão na lataria) seus “sagrados” e idolatrados carrões?!

Oxalá neste século XXI a humanidade tenha o bom-senso de substituir todos os ídolos, sem exceção, por valores perenes, que engrandecem e sublimam o homem, como bondade, justiça, solidariedade e profundo amor um pelo outro, entre tantos. E que adore, somente, única e exclusivamente, o Criador do universo, Onipotente, Onipresente, Onisciente, Perfeito e Eterno.

 Boa leitura!

O Editor.

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