Rezadores
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Por Marcelo Sguassábia
Se
há carpideiras, por que não há rezadores?
Desde
que executada com a responsabilidade e o respeito que todas as
religiões merecem, e desde que também aceita de boa vontade pelas
diferentes esferas da corte celeste, talvez a ideia vingasse nesse
estranho mundo de meu Deus.
O
ofício dos rezadores (pelo menos o que imaginei) se aproxima muito
do das mulheres carpideiras, pagas para chorar os finados – sem que
tenham nutrido por eles a mínima simpatia ou tido, em vida, vínculo
de parentesco ou ao menos de vizinhança.
Os
rezadores fariam as vezes de quem teria que rezar, cumprindo a
obrigação de outro. Seja uma penitência estabelecida por padre no
confessionário, seja simplesmente para fazer a reza no lugar do
freguês, em intenções diversas designadas por ele.
Dois
fatores se somam para que os rezadores já chegassem se apossando de
um contingente enorme de interessados nos seus préstimos. Por um
lado, temos a escassez de tempo das pessoas. Por outro, o interesse
cada vez maior delas por espiritualidade, esoterismo e derivações
correlatas. Se não conseguem se livrar das agruras desse mundo,
sabem também que dele nada se leva, e querem garantir um cantinho
com algum conforto lá no andar de cima.
A
aferição da qualidade do serviço seria feita por fervorômetro,
aparelho desenvolvido em start-up de ponta com aportes de
investidores internacionais. Como o nome diz, o aparelho mediria o
fervor da prece, com base na variação do campo magnético na aura
do rezador. Os relatórios e gráficos de performance seriam enviados
em tempo real para o cliente.
Dependendo
da necessidade e da urgência, o contratante poderia adquirir os
serviços de mais rezadores. Os módulos abrangeriam de um a milhares
deles, que iriam se alternar em turnos de oração ou rezariam
simultaneamente, conforme o pacote escolhido.
Sendo
o serviço desvinculado de qualquer religião, este teria de ser
prestado em espaço neutro e ecumênico. Call-centers de grandes
multinacionais, vazios devido à crise, certamente estariam sendo
locados para os ofícios de prece coletiva.
Não
aprovaria, intimamente, a novidade. Mas não me espantaria se a
visse, amanhã mesmo, posta em prática. E logo ali, na esquina.
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Marcelo
Sguassábia é redator publicitário. Blogs:
WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e
WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).
Quem reza é que vai para o céu, ou quem contratou seus serviços?
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