sexta-feira, 1 de junho de 2018

Pílulas literárias 257 - Eduardo Oliveira Freire


Pílulas literárias 257



* Por Eduardo Oliveira Freire


OPERADO

Não conseguia separar sua vida privada do trabalho. Quando se aposentou, precisou fazer uma cirurgia, pois o lado profissional continuava a estrangular o outro lado. Hoje, passa bem, mas quando observa a cicatriz, sente saudade da parte que se foi, mesmo que outrora tomasse a maior parte de sua vida.

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ATO FALHO

Quando transa com a mulher, ao invés de chamá-la pelo nome, diz o da sogra, já falecida.

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CONTATO COM O EU PROFUNDO

Caminhava num emaranhado de máscaras. De repente, deparou-se com o minotauro. Acordou com a luz do sol em seus olhos e automaticamente colocou as mãos na testa. Sentiu um protuberante par de chifres.

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VIOLÊNCIAS

A menina corria com um vestido curto e, de vez em quando, mostrava a calcinha. Dois homens a olhavam fixamente e um deles passou levemente a língua por entre os lábios. Quando a mãe viu a cena, repreendeu a filha e obrigou-a a colocar uma bermuda. A menina engoliu o choro e obedeceu, para continuar a brincar na rua. Com o tempo, a marca do tapa materno fundiu-se com a vermelhidão de toda a bochecha, causada pela correria com as outras crianças;

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BALA PERDIDA

O colecionador a resgata e guarda junto com outros projéteis. “Agora está em família”.


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* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo
cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/


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