domingo, 3 de junho de 2018

Editorial - O homem e as religiões


O homem e as religiões


A existência e natureza de Deus têm sido preocupação constante do homem, desde que tomou consciência de si e do mundo que o cercava. O ser primitivo das cavernas, em determinado momento (impossível de ser determinado quando), intuiu que foi "criado" por "alguém" ou por alguma "força poderosa", que extrapolava sua restritíssima compreensão, responsável também por tudo o que havia ao seu redor, onde os seus sentidos alcançavam e muito além desse alcance.

Surgiu então, absolutamente disforme, a primeira ideia de "divindade". Originalmente, esse humanoide, até por instinto, apenas temia esse "desconhecido" tão poderoso. Não lhe passava pela cabeça que pudesse ter qualquer espécie de contato com Ele ou rogar por uma proteção, no ambiente hostil, inóspito e perigoso que o cercava.

Tudo era um mistério. Desde o fenômeno hoje considerado mais simples e trivial, entendido por qualquer criança que recém tenha aprendido a falar, até o mais complexo e inexplicável, que o homem contemporâneo não consegue explicar, com todo o instrumental de que dispõe.

Tanto o nascimento, quanto a morte, quer de semelhantes, quer de outros animais e vegetais, tinha para esse ser rústico e deslumbrado um aspecto de magia. Despertava milhares de indagações, que ainda não podia racionalizar, sem que atinasse com qualquer resposta.

Em um outro estágio, projetou esse "Deus" intuído em suas "manifestações", pluralizando, por consequência, a divindade. Esta não seria única. Haveria muitos "deuses", como o Sol, a Lua, as estrelas, as chuvas, os trovões, as tempestades etc. Os indígenas ainda são assim. O passo seguinte foi o de tentar algum tipo de contato com essas "entidades superiores".

Homens muito especiais, pelo seu poder de concentração e raciocínio, e principalmente de convencimento, acreditaram que podiam "conversar" com os deuses e obter seus favores. Criam que caça abundante, por exemplo, era consequência do atendimento de seus pedidos para que isso ocorresse. Ou que quando esta escasseava, era por causa de algum deslize ou afronta às divindades, que exigiriam reparação. Convenceram suas comunidades de que só eles tinham esse poder. Surgiu, assim, a classe dos sacerdotes e com ela a religião (de "religare", religação com Deus) institucionalizada.

As pessoas convencidas pelos "intermediários" entre os deuses e os homens, não questionavam seus ensinamentos. Limitavam-se a acreditar. Tinham "fé". Ou seja, criam no incrível, sem a mínima sombra de dúvida, mesmo que a crença contrariasse toda e qualquer lógica. Alguns tornavam-se fanáticos e queriam impor aos outros, não raras vezes de maneira violenta, aquilo que lhes fora ensinado pelos sacerdotes. Muito sangue foi (e continua sendo) derramado em nome da religião.

Com o passar do tempo, a natureza dessa entidade misteriosa e apenas intuída ou idealizada, Deus, mudou, de acordo com os vários povos e seus estágios de civilização. Surgiram os deuses antropomórficos dos gregos e romanos, por exemplo, com características, vícios e paixões humanos. Ou os mágicos indianos. Ou o Deus único dos judeus, também sujeito a iras, rompantes, dúvidas e erros, como os homens, mas com poder absoluto.

Dele, derivou o dos cristãos, o do "três em um". Quem está certo? Quem não está? As igrejas são o único meio válido para que o homem se aproxime de seu Criador? É possível "conversar" com Deus? Há, de fato, outra vida, invisível, espiritual, além desta? Em caso afirmativo, existem, de fato, requisitos para nos credenciar a ela? Ninguém sabe, embora haja tantos que se arroguem em doutores nessa matéria. O que existe são especulações e nada além delas. Apenas uma certeza subsiste, que ciência alguma ou qualquer espécie de racionalização conseguiu derrubar: Deus existe!.

Como ele é, quais suas manifestações, qual o alcance de seu poder, sua eternidade etc, escapam ao entendimento humano. Tudo isso que nos cerca não pode, e certamente não é, fruto do "acaso". E se for, essa casualidade seria Deus, dada sua perfeição. O importante não é o nome que se lhe dá. E muito menos as explicações e tentativas de racionalização feitas pela instituição "religião". Trata-se de um conceito muito íntimo de cada um.

Provavelmente, não há duas pessoas, mesmo que supostamente seguidoras da mesma fé, que entendam Deus exatamente da mesma forma. O livro de Fernando Bressane, "Psicologia e Cristianismo" (inédito) é uma tentativa de racionalizar um conceito que ainda é irracional para a maioria dos 7,6 bilhões de seres humanos que há no Planeta.

Didático e fascinante, não apenas pelo tema, mas pela forma de exposição, vale-se de uma série de disciplinas oriundas da Filosofia, para explicar a evolução do pensamento religioso nos últimos séculos, até chegar aos nossos dias, mormente do cristianismo, pretensamente professado por pouco mais de um bilhão de indivíduos no mundo, cuja maior parte, na verdade, ainda mantém as práticas religiosas do humanoide das cavernas. Daquele que teve o lampejo de que "alguém" ou "alguma força" o criou, mas que não avançou nas especulações sobre "quem" ou "o quê" foi.

Os cristãos, ao longo dos mais de dois milênios de sua vinda, desumanizaram Jesus Cristo. Tiraram a sua grandeza. Não entenderam a sua mensagem. Não desvendaram (e sequer tentaram) seu mistério. Comercializaram sua imagem. E em seu nome, muitos praticam exatamente tudo o que Ele condenou.

A humanidade, em termos de especulação no campo religioso, teve inegável evolução, pelo simples fato de hoje ser possível externar ideias diferentes dos dogmas das igrejas institucionalizadas. Há somente dois séculos, isso poderia equivaler ao suicídio. A simples menção do assunto, que não fosse de conformidade com os cânones do Vaticano, valeria uma condenação por heresia por tribunais da "Santa Inquisição". O incauto estaria sujeito à fogueira ou, na melhor das hipóteses, à masmorra, para "reeducação".


Boa leitura!

O Editor.


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