Aonde foram parar os ecologistas?
* Por
Mara Narciso
Antigamente, quem
defendia a Natureza era ecologista. Estavam certos, mas foram chamados de
ecochatos e ecoxiitas. Veio então o termo ambientalista. A imprensa dita séria
numa ocasião falava que o efeito estufa era uma retórica para assombrar o mundo
e que a presença humana na Terra era irrelevante nas mudanças climáticas.
Tempos depois, falavam no perigo da poluição e do esgotamento de recursos não
renováveis.
Falando em Natureza e
sua possível (ou impossível) recuperação, o Parque Estadual Lapa Grande tem
7,84 mil hectares, sendo um grande parque urbano em Montes Claros (395 mil
habitantes e que enfrenta racionamento de água há um mês). Desde os tempos da
festejada fazenda “Quebradas” de Dona Arinha e Pedro Veloso, localizada num
santuário de águas e flores, que se pensava em preservar a área. O casal
recebia amigos e até o Presidente Juscelino Kubitschek esteve lá.
O Parque criado em
2006 fica a 10 km da cidade, na região norte. Chega-se ao local pela Estrada do
Alfeirão. O Parque guarda um complexo de 58 grutas e abrigos, e 47 sítios
arqueológicos, uma vegetação de cerrado e mananciais que fornecem 30% da água
da cidade. Há a Trilha da Lapa Pintada, que possui pinturas rupestres, a Trilha
da Lapa Grande, a Trilha do Boqueirão da Nascente, a Trilha da Ponte de Pedra e
trilha para ciclismo. Também oferece formação em Educação Ambiental e mudas
nativas, cultivadas nos viveiros do Parque.
Para dar corpo ao
sonho, áreas foram desapropriadas, demarcadas e preservadas, seguindo normas
técnicas. A beleza do lugar, com muito verde e água cristalina abundante,
várias nascentes, ricas fauna e flora foi reposta e mantida. A espera durou
oito anos, e a visitação pública finalmente pôde ser liberada. Quando as
visitas começaram, seriam permitidas no máximo 100 pessoas por vez, sendo uma
de manhã e outra à tarde. Após 15 h não se entra mais. O sistema é frágil, e o
movimento da visitação pode desgastar animais e vegetação, em recuperação
populacional. São permitidos grupos de no máximo 15 pessoas para as trilhas,
sempre com condutores do Parque, pagando-se R$5,00 por pessoa e seguindo-se
normas de comportamento ambiental, explicitadas na entrada.
Fotogênico, o Parque é
frequente alvo de ensaios fotográficos. Tem seis mil pinturas rupestres com
idade estimada em 8.500 anos. Córregos de águas fresquinhas, correndo entre
bosques de rica flora e pontes atraentes são convites à visitação. Os guias
seguem os pequenos grupos para evitar avarias ao patrimônio, já com pichações
em algumas pinturas. Os nomes são
registrados e as pessoas sabem que ali é um lugar do qual não se tira nada,
apenas fotografias e não se deixa nada, a não ser as pegadas.
Felizes os que foram
degustar do cerrado recuperado por anos de tombamento e isolamento. Depois
disso, só daqui a décadas, e olhe lá. É que um fogo que as autoridades dizem
ter sido criminoso atacou a vegetação seca por cinco anos de chuvas escassas.
Foi na área da ampliação de 2014. Durante seis dias o Corpo de Bombeiros,
Polícia Militar, Defesa Civil, IEF, Ibama e Brigadistas Voluntários, dois
aviões, um helicóptero e carros-pipa da Copasa arriscaram a vida contra a sanha
das altas labaredas. Sob forte calor, a água jogada evaporava sem atingir a
base. Depois tratores fizeram aceiros, tentando isolar o fogo. O assombro
acompanhou Montes Claros cuja área urbana é muito próxima.
A voracidade do
incêndio destruiu mais de três mil hectares do Parque Florestal, 40% do total e
os trabalhos para contê-lo esgotou águas e energias dos combatentes, homens e
mulheres cobertos de fuligem e ricos em força, estoicismo e coragem, e por isso
receberam notável apoio da população. Fotos postadas na madrugada mostraram
obstinação impressionante. A população enviava água mineral, isotônicos e
frutas para os heróis.
Os gases liberados, o
solo sem cobertura, as cinzas carreadas para o leito dos rios e o possível
assoreamento são prejuízos que vão além dos limites do Parque. Com o fogo
apagado, viu-se a devastação implacável, na qual pequizeiros carregados foram
calcinados, animais perderam a vida, o solo e nascentes ficaram comprometidos e
nós perdemos a esperança tornada cinzas e carvão.
A destruição do nosso
parque, nossa maior tragédia ambiental, cuja recuperação poderá não ocorrer, a
falta de água e o calor de brasas são menos do que a morte do Rio Doce, do não
ter água nenhuma, ou dos ataques terroristas. Precisamos nos unir em prol do
Rio Doce, de Mariana, de Governador Valadares e do norte de Minas. Vamos à luta
Eduardo Gomes, Lucas Alves e João Marques! Precisamos de água e ajuda para que
a nossa fauna e flora possam sobreviver. Que tal se cada um de nós plantasse
dez mangueiras?
*Médica endocrinologista, jornalista
profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e
Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a
Hiperatividade”
Que judiação e que descaso para um Parque de tamanha importância... Possa a natureza ser mais forte que todos estes maus tratos. Abraços, Mara.
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