quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Prosa


* Por Assionara Souza


"Ao cair da tarde" não é um bom modo de começar um poema
E nisso, veja que interessante, o poema começou por si mesmo
Independente de qualquer coisa, como um herói de quadrinhos
Que se mexe somente na imaginação quando o pulo dos olhos
Se dá exatamente de um quadrinho para outro enquanto lemos

Ao cair da tarde, portanto, e juro que isso é a mais pura verdade
Estávamos todos interligados naquele circuito louco imaginativo
De repente, passando os olhos por ali, me deparei com o poema
E, pasmem!, era um poema de amor

Pois não é que o garoto escreveu um poema de amor!, pensei
Mas nisso eu já estava lendo o poema
À medida que lia, alguma coisa criou em mim uma vontade
Isso mesmo, uma vontade de escrever
E é por isso que estou aqui, aparentemente sem motivo algum

Mas isso só aconteceu ao cair da tarde...
Bom, não é bem assim. Talvez tudo tenha acontecido antes
Você pode ficar pensando: antes quando?
Antes hoje mesmo, quando saí a rua e encontrei dois poetas
Ambos estavam, como direi...? À paisana!


O primeiro poeta, bem, era uma poeta
E ela estava andando na calçada e me viu e eu também a vi
Pensei: que coisa curiosa, um poeta andando não difere quase
em absolutamente nada de qualquer pessoa que esteja por aí

Mas o segundo poeta estava parado, sentando, quieto, calado
Fui lá, cheguei, parei. E aí, Nome Sobrenome! Como está tudo?
Bem, desperto do transe, tornou-se outra vez poeta, mais sério
Falante. Informou-me das últimas notícias subjetivas do mundo
E agora, ao cair da tarde, essa besta vontade de escrever em verso


* Jornalista 

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