domingo, 15 de novembro de 2015

Sucessos efêmeros


* Por Rosana Hermann


  
O vídeo ‘Tapa na Pantera’, disponível no YouTube,  foi do zero ao sucesso total em menos de uma semana, um arranque de mídia poucas vezes registrado na história das comunicações, principalmente por ter sido totalmente espontâneo. O próprio diretor da pequena peça surpreendeu-se com o número de visitas e comentários que a cena interpretada por Maria Alice Vergueiro provocou na audiência. Não houve nenhum estímulo, nenhuma divulgação. O vídeo foi disponibilizado no site, como todos os outros milhões que lá estão e, em questão de dias, já era o mais comentado entre adolescentes e jovem adultos do Brasil.

Jornais impressos e online entrevistaram seus criadores e realizadores, fóruns debateram seu conteúdo, emails, comunidades e mensagens eletrônicas se multiplicavam em progressão geométrica divulgando seu link.

Mas, assim como a onda que se ergueu no mar que se ergue em segundos, estoura na areia e acaba, a onda da Pantera também passou. Passou como a do sanduíche-iche, a Katilce beijada pelo Bono Vox e todos os outros sucessos instantâneos da Internet que seguem a velocidade da vida online. À medida que a largura da banda cresce, diminui o tempo de sucesso no instável equilíbrio do apogeu.

Hoje, o sucesso na rede é como a chuva que cai e passa. Dependendo do volume da precipitação, pode causar inundações de acessos, derrubar servidores e isolar pessoas em ilhas de solicitação. Mas em pouco tempo, o nível da água desce, a água é absorvida pelo solo, evapora e acaba.

Nada disso é novidade, mas há uma vertente nova na interpretação desses fatos: a nossa necessidade desses sucessos efêmeros. Precisamos destas ondas como precisamos da chuva. Essas pequenas bobagens transitórias, esses acontecimentos, temperam nosso cotidiano, às vezes amargo, às vezes sem sal e sabor. Esse mesmo papel é representado  pelas novelas, na vida de muitos brasileiros que têm mais tempo de ficar em casa e acompanhar uma obra que dura meio ano. Mas para as pessoas de vida mais agitada, essas pequenas chuvas são canapés de informação, pequenos bocados de emoção, que substituem a importância dos personagens da novela de forma descartável, sem compromisso.

Precisamos saber o que acontece, qual a boa do momento, para discutir com colegas de trabalho ou puxar assunto no elevador. Porque hoje, a vida é assim: fazemos contato com muita gente, mas nos relacionamos de fato com poucos. Não temos assuntos comuns, próprios, a não ser falar mal do chefe e dos colegas de mercado. Os assuntos, então, são esses, as figuras da mídia, as chuvas passageiras, que umedecem e refrescam nossas vidas tão secas.  

*Rosana Hermann é Mestre em Física Nuclear pela USP de formação, escriba de profissão, humorista por vocação, blogueira por opção e, mediante pagamento, apresentadora de televisão.


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