terça-feira, 24 de novembro de 2015

Macarronada à Brigadeiro


*Por José Calvino


1 colher de sopa de chocolate “dos padres” (os consumidores batizaram porque a embalagem reproduzia um detalhe da tela do pintor Alessandro Sani, retratando dois monges católicos sorridentes); 1 lata de leite Moça (porque na embalagem havia a figura de uma vendedora de leite, aliás que permanece até hoje); Manteiga nas mãos para não grudar; Leva ao fogo em caçarola, sempre mexendo e retira do fogo deixando esfriar fazendo bolinhas e passando confeitos nas miçangas brancas e coloca nas forminhas de papel.”

A receita de brigadeiro acima encontrada no baú de lembranças de minha esposa Maura Correia é, e sempre será, uma das paixões nacionais pelos doces, herdada dos portugueses. Existem diversas versões, mas por que o nome do docinho é “Brigadeiro”?

Algumas pesquisas apontam que: “O doce teria sido inventado no Rio Grande do Sul. Até hoje, lá é o único Estado (sic) que ainda chama o brigadeiro de negrinho. O mesmo foi promovido  a brigadeiro em 1945, quando o militar e político Eduardo Gomes (1896-1981) disputou com Eurico Gaspar Dutra a Presidência da República, sendo derrotado nas votações. Voltou a disputar a presidência, em 1950, perdendo novamente a eleição para o caudilho gaúcho Getúlio Vargas. No seu slogan editorial, dizia: ‘Vote no brigadeiro, que é bonito e solteiro’, mas, não obteve os votos satisfatórios para a vitória, mesmo  tendo fascinado as brasileiras. As cariocas por exemplo, lideradas por  uma jovem de nome Heloisa Nabuco, pertencente a uma tradicional família do Rio de Janeiro, fez tudo para homenagear o amigo. Elas  faziam campanha política com os ‘negrinhos’, vendendo-os pelo nome de ‘brigadeiro’, em benefício do fundo de campanha...”

Bem, caros leitores, vamos deixar os deliciosos docinhos pra lá. A frase que dá o título a esta crônica é óbvia, até porque me lembro bem dos meus velhos tempos de estudante (anos 50/60), quando os alunos e boêmios do Recife, no final das aulas e das farras, pediam nos botecos a inesquecível Macarronada à Cavalo, servida no prato um macarrão branco, tendo por cima dois ovos fritos e molho de tomate. Quando a gente estava com pouco dinheiro, pedíamos a iguaria, com a diferença de que naquela condição financeira o que vinha por cima do macarrão era apenas um ovo. Os anarquistas e adversários políticos do brigadeiro Eduardo Gomes logo arrumaram um jeito de parodiar a situação e diziam comparando que, em 1922, durante a revolta dos 18 do Forte de Copacabana, um tiro havia atingido os seus testículos, ficando o mesmo com um só ovo. Por isso a macarronada ficou conhecida pelo nome: Macarronada à Brigadeiro.


*Escritor, poeta e teatrólogo pernambucano.



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