segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Maravilhosa

* Por Daniel Santos

Nada cala os tambores na cidade fatigada. Os dias entram pelas noites com insônia de profundas olheiras, numa compulsão requebrosa pelo divertimento a todo custo, ansiedade sem o cabresto do recato.

Houvesse um colapso, as tensões se aliviariam, mas recorrente é o frenesi que toma todo o sítio das promoções vantajosas, das produções milionárias, das platéias que se convulsionam roufenhas à exaustão.

Sempre prestes, incapaz de escapar ao incessante gerúndio, a cidade atrai turistas, forasteiros, curiosos e os imiscui na rotina da alegria ruidosa que preenche todos os horários, sem noção de prazo nem de limites.

Canta, dança, sua e emite à atmosfera eflúvios da própria alma, da sua inquieta essência. Assim, o delírio em suspensão volta a se depositar, grão após grão, sobre essa que desconhece descanso, tranqüilidade.

Quando a fadiga beira a ruína, o troar dos tambores reanima criaturas quase esgotadas, sem licença para a pausa. E prossegue, assim, o permanente show das multidões sem consciência do próprio desespero.

* Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.

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