Quem precisa de ações contra o racismo?
* Por
Mara Narciso
“O teu cabelo não nega, mulata, porque és
mulata na cor, mas como a cor não pega, mulata, mulata eu quero o seu amor!”
(Lamartine Babo, 1931)
O Governo do PT trouxe
o racismo ao Brasil criando as cotas e o Dia da Consciência Negra, um dia
dispensável, afinal não há racismo no Brasil. As pessoas de pele de cor escura
nem são notadas, e quem as vê, vê apenas uma pessoa, não vê sua cor. São frases
ditas por aí.
Ação racista na qual a
pessoa negra, mulata ou parda é discriminada e prejudicada em função da cor da
sua pele, ou a injúria racial, quando a pessoa é ofendida e humilhada em razão
da sua cor não são banais e precisam ser punidas pela força da lei. Num país
onde 60% da população se declara não branca necessita de ações afirmativas, e
quem discrimina merece punição.
O comercial de uma
empresa aérea passa na TV e você pensa, “o que esse negro folgado está fazendo
deitado aí?” Você é alguém que acredita que os negros têm vergonha de ser
negros e que querem ser brancos e para isso alisam seus cabelos e operam seus
narizes. Não imagina que, devido à discriminação constante, permanente e diária
imposta por séculos de opressão obriga ao ofendido disfarces necessários para
ser mais bem aceito. O cabelo liso é vendido como a imagem da civilidade. É
preciso amarrar, domar, prender, alisar. As atrizes que chegam a ser
protagonistas são aquelas mestiças com traços de brancas. A única miss Brasil
negra, Dayse Nunes, tinha tais traços. A pele escura era um detalhe exótico
numa mulher belíssima.
Num outdoor há um
grupo de meninos e um deles é negro, e lá está por lei. Frases do tipo “caso
você não tenha preconceito, curte e compartilhe” apresentando criança negra com
olhos verdes manipulados digitalmente, ou boneca Barbie de cabelos lisos e
traços de branca. Isso é racismo às avessas, que ofendem e ampliam o
preconceito.
O branco se sente
superior ao negro porque uma raça escravizou a outra. Com a abolição dos
escravos os negros foram jogados fora e os senhores bonzinhos aceitaram que os
escravos libertos ficassem ali trabalhando em troca de comida. Passaram-se 125
anos e o que temos? Um racismo cordial, de puro discurso demagógico. “Eu tenho
amigos negros que considero e trato muito bem”. “Eu acho o Dia da Consciência
negra importante”. “O pior negro é o que nega a sua condição”.
Até quem queira
defender os negros, se perde e acaba por se contradizer, como Fernando Henrique
Cardoso que disse ser “mulatinho com um pé na cozinha”, ou Chico Buarque, que
tem netos negros, e falou durante oito minutos que “nenhum brasileiro é
branco”, como se, caso fosse, seria melhor do que os não brancos.
Os pardos, mulatos e
negros, que passam por discriminação disfarçada de piada sabem que, em certas
circunstâncias, se passar por “branco” é mais leve. Fugir do sol, usar protetor
solar e maquiagem um pouco mais clara, alisar os cabelos, colocar luzes
douradas, estar bem-vestido dentro de um bom carro podem alterar o tratamento
recebido. O negro precisa se impor e ser muito melhor do que os demais para se
destacar. Os brasileiros de pele clara pensam que não existe preconceito no
Brasil. Na verdade, o que fazem alguns é praticá-lo com frases infames.
Olhar com
estranhamento, mandar entrar pelo elevador de serviço, insistir em não tirar
uma roupa da vitrine caso o negro não garanta que vá comprá-la, entender que
Joaquim Barbosa é um herói apenas pelo fato de ser negro, achar que alguém de
pele escura não possa ter dinheiro e poder, ou que a mulher negra esteja
disponível são atitudes racistas. Premiar alguém negro como concessão, como
gesto de boa vontade é racismo; fazer piada com características positivas ou
negativas da raça negra é racismo.
No dia em que a
população brasileira puder ver uma família negra na capa de uma revista de
circulação nacional e nela não reconhecer a família de Pelé ou de Barack Obama
ou de alguma celebridade, achando aquilo normal, então não se precisará mais de
cotas e nem de dias de consciência nenhuma. Por enquanto, vamos com esses
penduricalhos até então necessários para se falar e resolver precariamente o
assunto. O negro não precisa de favores, apenas de oportunidades iguais, afinal
“o lugar do negro é onde ele quiser!”
*Médica endocrinologista, jornalista
profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e
Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a
Hiperatividade”
Brasileiros(as), sobretudo alienados religiosos acham que Jesus era branco, parecido com as descrições dos filmes de Hollywood! Nas minha observações, preconceitos ou discriminações raciais parte mais das vezes deles mesmo. Conheço negros e negras que se acham moreno(a), marrom, chocolate, cor de canela... A meu ver no Brasil existe mais o preconceito sócio-econômico!
ResponderExcluirFalar do racismo é adentrar numa areia movediça, num buraco sem fundo. Todos os brasileiros são testemunhas de atos racistas impetrados por eles mesmo ou pelos outros. Obrigada, José Calvino pelo comentário.
ExcluirBastante lúcido esse seu olhar sobre o racismo, ostensivo ou disfarçado, que diariamente presenciamos. Caldeirão étnico, o Brasil é sim, e paradoxalmente, um país racista.
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