quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Quem precisa de ações contra o racismo?


* Por Mara Narciso


“O teu cabelo não nega, mulata, porque és mulata na cor, mas como a cor não pega, mulata, mulata eu quero o seu amor!” (Lamartine Babo, 1931)
          
O Governo do PT trouxe o racismo ao Brasil criando as cotas e o Dia da Consciência Negra, um dia dispensável, afinal não há racismo no Brasil. As pessoas de pele de cor escura nem são notadas, e quem as vê, vê apenas uma pessoa, não vê sua cor. São frases ditas por aí.

Ação racista na qual a pessoa negra, mulata ou parda é discriminada e prejudicada em função da cor da sua pele, ou a injúria racial, quando a pessoa é ofendida e humilhada em razão da sua cor não são banais e precisam ser punidas pela força da lei. Num país onde 60% da população se declara não branca necessita de ações afirmativas, e quem discrimina merece punição.

O comercial de uma empresa aérea passa na TV e você pensa, “o que esse negro folgado está fazendo deitado aí?” Você é alguém que acredita que os negros têm vergonha de ser negros e que querem ser brancos e para isso alisam seus cabelos e operam seus narizes. Não imagina que, devido à discriminação constante, permanente e diária imposta por séculos de opressão obriga ao ofendido disfarces necessários para ser mais bem aceito. O cabelo liso é vendido como a imagem da civilidade. É preciso amarrar, domar, prender, alisar. As atrizes que chegam a ser protagonistas são aquelas mestiças com traços de brancas. A única miss Brasil negra, Dayse Nunes, tinha tais traços. A pele escura era um detalhe exótico numa mulher belíssima.

Num outdoor há um grupo de meninos e um deles é negro, e lá está por lei. Frases do tipo “caso você não tenha preconceito, curte e compartilhe” apresentando criança negra com olhos verdes manipulados digitalmente, ou boneca Barbie de cabelos lisos e traços de branca. Isso é racismo às avessas, que ofendem e ampliam o preconceito.

O branco se sente superior ao negro porque uma raça escravizou a outra. Com a abolição dos escravos os negros foram jogados fora e os senhores bonzinhos aceitaram que os escravos libertos ficassem ali trabalhando em troca de comida. Passaram-se 125 anos e o que temos? Um racismo cordial, de puro discurso demagógico. “Eu tenho amigos negros que considero e trato muito bem”. “Eu acho o Dia da Consciência negra importante”. “O pior negro é o que nega a sua condição”.

Até quem queira defender os negros, se perde e acaba por se contradizer, como Fernando Henrique Cardoso que disse ser “mulatinho com um pé na cozinha”, ou Chico Buarque, que tem netos negros, e falou durante oito minutos que “nenhum brasileiro é branco”, como se, caso fosse, seria melhor do que os não brancos.

Os pardos, mulatos e negros, que passam por discriminação disfarçada de piada sabem que, em certas circunstâncias, se passar por “branco” é mais leve. Fugir do sol, usar protetor solar e maquiagem um pouco mais clara, alisar os cabelos, colocar luzes douradas, estar bem-vestido dentro de um bom carro podem alterar o tratamento recebido. O negro precisa se impor e ser muito melhor do que os demais para se destacar. Os brasileiros de pele clara pensam que não existe preconceito no Brasil. Na verdade, o que fazem alguns é praticá-lo com frases infames.

Olhar com estranhamento, mandar entrar pelo elevador de serviço, insistir em não tirar uma roupa da vitrine caso o negro não garanta que vá comprá-la, entender que Joaquim Barbosa é um herói apenas pelo fato de ser negro, achar que alguém de pele escura não possa ter dinheiro e poder, ou que a mulher negra esteja disponível são atitudes racistas. Premiar alguém negro como concessão, como gesto de boa vontade é racismo; fazer piada com características positivas ou negativas da raça negra é racismo.

No dia em que a população brasileira puder ver uma família negra na capa de uma revista de circulação nacional e nela não reconhecer a família de Pelé ou de Barack Obama ou de alguma celebridade, achando aquilo normal, então não se precisará mais de cotas e nem de dias de consciência nenhuma. Por enquanto, vamos com esses penduricalhos até então necessários para se falar e resolver precariamente o assunto. O negro não precisa de favores, apenas de oportunidades iguais, afinal “o lugar do negro é onde ele quiser!”

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”   


3 comentários:

  1. Brasileiros(as), sobretudo alienados religiosos acham que Jesus era branco, parecido com as descrições dos filmes de Hollywood! Nas minha observações, preconceitos ou discriminações raciais parte mais das vezes deles mesmo. Conheço negros e negras que se acham moreno(a), marrom, chocolate, cor de canela... A meu ver no Brasil existe mais o preconceito sócio-econômico!

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    1. Falar do racismo é adentrar numa areia movediça, num buraco sem fundo. Todos os brasileiros são testemunhas de atos racistas impetrados por eles mesmo ou pelos outros. Obrigada, José Calvino pelo comentário.

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  2. Bastante lúcido esse seu olhar sobre o racismo, ostensivo ou disfarçado, que diariamente presenciamos. Caldeirão étnico, o Brasil é sim, e paradoxalmente, um país racista.

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