quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Coisas de ontem


* Por Núbia Araujo Nonato do Amaral


Lembro-me que todo o carnaval íamos para a casa de minha tia o que para nós era uma viagem. Morávamos em São Gonçalo e minha mãe com aquela renque de meninas seguia para o outro lado da baía.

O que para mim era uma aventura, para ela poderia se tornar uma tortura, sozinha com cinco meninas pouco dinheiro na bolsa e muita lábia, ela levava a gente no bico direitinho.

Não havia fricote por nada, ninguém reclamava e íamos nós e Deus. Chegávamos na casa da minha tia completamente extenuadas mas a recepção valia a pena: biscoitos, leite com achocolatado, gomas e o carinho do Dindo que tinha para cada uma de nós um apelido.

O meu apelido? Não acredito na relevância da informação e nem de que forma isso seria um acréscimo ao texto. O apelido? Tsc...porquinha. Como assim o motivo?

Afffff, o Dindo que aliás era padrinho da minha irmã, mas o Dindo de todas, nos apelidou por características peculiares. Japinha, amarelinha, zoiuda, Martinha (essa era afilhada, se safou).

Ele dizia que meu nariz era de batata e na verdade nem era, mas ele gostava de implicar comigo. Dindo já se foi há muitos anos, cheguei a visitá-lo no hospital, mas aquela alma alegre já não estava mais lá, somente uma carcaça frágil, ainda toquei de leve o seu grande nariz de batata.

Deixei pra chorar depois, sozinha. Armazenei lembranças e a gargalhada dele quando me deixava enfezada. Percebo neste exato momento que o Dindo chegou de mansinho e apertando de leve o meu nariz de batata (palavras dele), me roubou um suspiro daqueles.

 * Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário


Um comentário:

  1. Um objeto qualquer nos traz o passado como um sopro, geralmente quente e benfazejo. Tão bom. Quanto ao apelido, nariz. de batata...Como diz Pedro Bondaczuk, "ora, ora, ora".

    ResponderExcluir