Fale-me de flores
* Por Pedro J. Bondaczuk
O computador (e principalmente a mais
utilizada das suas tantas funções, que é o acesso à internet) se tornou
ferramenta indispensável para os que lidam com textos: jornalistas, escritores,
publicitários etc. Além de acabar com os borrões, as rasuras, as folhas e mais
folhas de papel amassadas e jogadas no lixo, do tempo da máquina de escrever,
confere, ao redator, agilidade, presteza e, sobretudo, organização.
Outra coisa que essa máquina fantástica
pôs fim foi à bagunça na biblioteca. Agora, quando quero pesquisar algum dado,
indispensável num texto que esteja escrevendo, não preciso mais revirar meus
livros, irritado e afoito com a perda de tempo, à cata da tal informação. Basta
apelar para o Google (ou qualquer outro serviço de busca), para completar a
pesquisa rapidinho, em tempo recorde, com ordem e com eficiência.
Mas a maior ajuda que o computador me
dá é a de proporcionar interatividade com o público leitor, e não mais somente
da minha cidade (como nos tempos de jornal), nem apenas, eventualmente, do
Estado ou até mesmo do País. Conquistei afetos (e desafetos) em diversas partes
do mundo (sem nenhum exagero), como Japão, Austrália, Estados Unidos, Canadá,
Holanda, Finlândia, Bélgica e vai por aí afora. E essas pessoas não se limitam
a opinar sobre minhas crônicas, contos e poemas, mas chegam a me pautar.
Raro é o dia (não me lembro de nenhum)
em que não me sugerem temas para serem desenvolvidos. Nem todos, claro, estão
bem-intencionados. Alguns fazem isso como uma espécie de desafio, para testar a
minha cultura e minha agilidade mental. Outros agem assim até por brincadeira,
apresentando assuntos que aparentemente não se prestam a crônicas e que, por
ironia, acabam se constituindo nas melhores sugestões. Outros, até, querem
apenas confrontar idéias, para ver se as minhas são iguais às suas.
Um dos temas mais recentes que me foram
sugeridos (neste caso, foi praticamente imposto), foi o das flores. Um leitor
pediu que escrevesse a respeito, mas “objetivamente”, sem divagações e sem
recorrer a artifícios, digamos, poéticos. Embora pareça de uma simplicidade
franciscana, creio que ficarei devendo a essa pessoa. Primeiro, para escrever
com objetividade sobre o assunto, eu precisaria ser botânico (o que não sou).
Segundo, porque as flores, tirando o seu aspecto decorativo, não servem para
praticamente nada (a não ser para fabricar perfume ou servir como matéria-prima
para o mel, mas não sou abelha). E terceiro, porque tenho um trauma com a
utilização delas comercialmente. Explico.
Um poeta raramente tem tino para
negócios. Da minha parte, confesso, não tenho nenhum. Há quase 30 anos (em
1978), cismei de abrir uma floricultura. Como não entendia patavina do assunto,
contratei um excelente floricultor. Encontrei um ponto perfeito, na cidade,
investi o que tinha e o que não tinha em vitrines, balcões etc., gastei uma
bolada em publicidade, mas.. não deu certo. Não consegui, sequer, recuperar
metade do investimento feito. Para não afundar, de vez, em dívidas, resolvi
fechar o negócio e me dedicar, apenas, ao que sei fazer bem (ou relativamente
bem, como queiram): escrever.
Observem que embarquei nessa atividade
com a cabeça de poeta e não de negociante. Até o nome da floricultura tinha um
quê de poético: “Tulipa Escarlate”. “Por que não vermelha, que é um termo mais
simples?”, perguntará, com certeza, o crítico leitor, vislumbrando nesse nome
um quê de pedantismo da minha parte. Sei lá! Foi a primeira denominação que me
veio à cabeça. Fui traído, provavelmente, pelo subconsciente, pois este é o
título de um dos meus poemas preferidos, dos tantos que escrevi.
Como se vê, não sou a pessoa mais
indicada para escrever, pelo menos com objetividade, sobre flores. Meus
conhecimentos sobre botânica, por exemplo, são superficiais. São aqueles mesmos
que adquiri nas aulas de Biologia do antigo curso científico (hoje denominado
de Ensino Médio) no Colégio Cesário Mota de Campinas. Dão para o gasto (afinal,
fui um rematado CDF), mas estão muito longe de me tornar especialista na matéria.
Já minha experiência prática, conforme expus acima, foi, no mínimo,
desastrosa.
Mas não vou frustrar, de todo, o
caríssimo leitor. Se não consigo falar, objetivamente, de flores, o faço
poeticamente. Aliás, já fiz isso dezenas de vezes. Trago, pois, à sua
apreciação um dos poemas que escrevi sobre o tema, composto em abril de 1967,
intitulado “Ternamente”, e que, à certa altura, tem uma estrofe que repete ao
seu apelo (ou seria ordem? Ou seria desafio? Ou seria uma tentativa de me expor
ao ridículo?):
“Fale-me
de flores,
mostre-me
flores,
oferte-me
flores.
Seja,
você, também,
uma
flor rubra
de
carinhos e de sonho,
assim,
de mansinho,
ternamente”.
Serve, caro leitor? Agora, devolvo-lhe
a bola: fale-me de flores!!! Pode ser em linguagem poética, não me importo!
*
Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas
(atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e
do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe,
ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma
nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance
Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991
a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição
comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio
de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O
Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
Objetivamente, a principal função da flor é o fruto.
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