Os feriados obrigatórios
* Por Ruth Barros
Não se discute que ficar de papo pro ar
é uma das melhores coisas da vida, principalmente se esse papo pro ar não for
corolário (conseqüência) de desemprego, tédio, falta de grana, contas
penduradas e outros desesperos. Mas nada enlouquece mais Anabel que os feriados
obrigatórios, ou seja, aqueles em que a maioria das pessoas vai enforcar um
pedaço da semana – como o Sete de Setembro que vem aí – e a grande maioria vai
ser obrigada a achar diversão, amigos, lugar para onde ir, etc, etc, além dos
gastos obrigatórios que essas atividades extras acarretam.
Pior ainda são os coitados que têm
filhos, não vão emendar feriados (os pais, é claro) e que são obrigados a
arranjar comida, diversão e balé para os pimpolhos presos em casa. Nos dias de
hoje as escolas praticamente todas aproveitam para ter esses descansos
prolongados e honestamente é impossível convencer empregadas, babás e quaisquer
variações no gênero que façam o mesmo, mesmo porque não é justo deixar um trabalhador
– alô, empregada doméstica é trabalhador feito qualquer outro – acorrentado ao
serviço durante um feriado. E definitivamente empregada não é função
obrigatória como pronto-socorro, médico ou jornalista. Jornalista aliás também
não deveria ser, mas para nosso desespero, praticamente todas as redações do
mundo trabalham nos feriados, sem contar os fins de semana.
Por outro lado, trabalhar enquanto todo
mundo está na praia, na cachoeira, no sítio dos amigos ou simplesmente na casa
da mamãe também é problema. Se por um lado resolve a questão do que fazer
nesses dias, por outro lado deixa uma sensação de fracasso “onde foi que eu
errei?”, todo mundo se divertindo e só a gente na labuta, ora bolas. O grande
consolo continua no botequim, ou no sujinho da esquina ou no mais sofisticado e
metido a besta, aliado a uma pequena vingancinha, pois afinal de contas, o povo
da noite e dos bares também tem que rebolar durante os feriados. E eles têm de
estar de prontidão para quando o nosso trabalho acaba e vamos para o bar tentar
esquecer do próximo fechamento.
Anabel Serranegra quer se solidarizar
com Plutão, que perdeu o status de planeta, em mais uma prova de que nada nesse
mundo é definitivo.
* Maria Ruth de Moraes e Barros,
formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como
correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De
volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV
Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e
autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista
Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.
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