sábado, 21 de novembro de 2015

Da vogal “U”


* Por Guilherme de Almeida


Por uma ruína de perfumes
passeia o monstro de veludo:
olhar de faca de dois gumes,
riso de marfim de piano mudo.

Passos de pés andando plumas,
na lentidão do gesto bruxo
por entre os seus cabelos brumas.
jóias que são luas de luxo.

Passa. É uma estrela errante e nula:
vácuo no azul, fuga noturna.
E, por um céu que se coagula,
entorna em torno o óleo de uma urna.

Bálsamo bom, ultra-absoluto,
que tudo cura e a cujo influxo
mundos de luz, mundos de luto
fluem à flux em fluxo e refluxo.


* Poeta e jornalista, eleito “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, membro das Academias Paulista e Brasileira de Letras.

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