Sobre poder
* Por Jair Lopes
Na história da humanidade registra-se um período em que os homens viviam em bandos familiares pouco organizados, em atividade de coleta e caça de alimentos, eram os caçadores-coletores. A economia de caça e coleta implicava em viver em pequenos bandos, o número de indivíduos era limitado pela disponibilidade de fontes alimentícias e pela necessidade de mobilidade.
Há fortes indícios que esse número girava em torno de vinte e cinco indivíduos incluídos adultos e meia dúzia de crianças já andando. A própria estrutura do bando excluía qualquer apropriação de áreas de bandos vizinhos e de propriedade de bens. O ônus de propriedades móveis e de invasão de áreas de coleta de outros era maior que os benefícios que poderiam advir de tais opções. Claro que é razoável supor que em tempos de escassez pode ter havido conflitos entre os bandos, mas as indicações arqueológicas depõem contra essas confrontações. Mas, quando a necessidade ou a vontade ditaram o estabelecimento de aldeias, foi que essas populações vizinhas encontraram motivos para cobiçar os recursos de seus contíguos.
Ao contrário do modo de vida de caça e coleta, onde os pequenos bandos são mais apropriados para explorar fontes de alimentos, a concentração de alimentos mediante cultivo e pastoreio permite que populações sedentárias cresçam. As aldeias podem tornar-se cidades, com todas as implicações que esses aglomerados apresentam. Se uma aldeia agrícola decide apoderar-se das plantações de uma aldeia vizinha, ela se beneficiará porque sua própria população poderá expandir-se por causa do alimento adicional. Está claro que haveria antes o detalhe de uma batalha. Mas, desde que os benefícios superassem as perdas supervenientes, a aldeia que vencesse o conflito se colocaria numa posição vantajosa à custa dos vizinhos.
Com o advento de povoações permanentes ocorre também o nascimento do materialismo. A vida sedentária nas aldeias permite a acumulação de objetos não essenciais, e é com esses objetos que costumamos associar, o mais das vezes, os símbolos de status e riqueza. A experiência nos mostra que a acumulação de riquezas provoca o desejo de novas riquezas, e, em nenhum momento, essa sede de bens é saciada. Ou seja, ninguém é rico o suficiente para desprezar aquisição de mais e mais bens.
O fenômeno vai além do simples acumular coisas materiais, como um fim em si mesmo: pode ser definido como um psicomaterialismo, fenômeno parecido com a cobiça do poder. Riqueza e poder são irmãos xifópagos. E mais, o poder só é atrativo quando há um grande número de pessoas sobre as quais exercê-lo. A história recente do século passado nos dá a medida que essa compulsão pelo poder pode ser maléfica.
Com toda evidência, as possibilidades de procura, de manutenção e de expansão do poder foram muito maiores após a revolução agrícola do que antes. E a história nos mostra que há dois caminhos básicos para a expansão do poder: manobras políticas habilidosas ou operações militares bem sucedidas. Mais uma vez nos lembramos de Clausewitz: “A guerra é a continuação da política por outros meios”.
Concordando com Clausewitz, já que a natureza dos dois fenômenos é a mesma, ambas, guerra e política, sempre estão concorrendo para a tomada, aumento ou manutenção do poder. Ainda mais, como poder e materialismo na forma de riqueza são irmãos xifópagos, não há contradição em afirmar que a guerra que está a serviço do poder, e também a política, ambas têm como objetivo aumento da riqueza, seja de nações seja de indivíduos. Meio complicado, mas intrinsecamente verdade.
Poder gera riqueza que para ser mantida ou ampliada serve-se da guerra e/ou política para tal. Maquiavel na mais pura acepção: os meios, guerra e política, justificam os fins, poder e riqueza. Fico fascinado como pensadores antigos já tinham uma sintonia fina para perceber os grandes temas sócios antropológicos e os meios para alcançá-los que predominariam nossa sociedade atual.
• Escritor
* Por Jair Lopes
Na história da humanidade registra-se um período em que os homens viviam em bandos familiares pouco organizados, em atividade de coleta e caça de alimentos, eram os caçadores-coletores. A economia de caça e coleta implicava em viver em pequenos bandos, o número de indivíduos era limitado pela disponibilidade de fontes alimentícias e pela necessidade de mobilidade.
Há fortes indícios que esse número girava em torno de vinte e cinco indivíduos incluídos adultos e meia dúzia de crianças já andando. A própria estrutura do bando excluía qualquer apropriação de áreas de bandos vizinhos e de propriedade de bens. O ônus de propriedades móveis e de invasão de áreas de coleta de outros era maior que os benefícios que poderiam advir de tais opções. Claro que é razoável supor que em tempos de escassez pode ter havido conflitos entre os bandos, mas as indicações arqueológicas depõem contra essas confrontações. Mas, quando a necessidade ou a vontade ditaram o estabelecimento de aldeias, foi que essas populações vizinhas encontraram motivos para cobiçar os recursos de seus contíguos.
Ao contrário do modo de vida de caça e coleta, onde os pequenos bandos são mais apropriados para explorar fontes de alimentos, a concentração de alimentos mediante cultivo e pastoreio permite que populações sedentárias cresçam. As aldeias podem tornar-se cidades, com todas as implicações que esses aglomerados apresentam. Se uma aldeia agrícola decide apoderar-se das plantações de uma aldeia vizinha, ela se beneficiará porque sua própria população poderá expandir-se por causa do alimento adicional. Está claro que haveria antes o detalhe de uma batalha. Mas, desde que os benefícios superassem as perdas supervenientes, a aldeia que vencesse o conflito se colocaria numa posição vantajosa à custa dos vizinhos.
Com o advento de povoações permanentes ocorre também o nascimento do materialismo. A vida sedentária nas aldeias permite a acumulação de objetos não essenciais, e é com esses objetos que costumamos associar, o mais das vezes, os símbolos de status e riqueza. A experiência nos mostra que a acumulação de riquezas provoca o desejo de novas riquezas, e, em nenhum momento, essa sede de bens é saciada. Ou seja, ninguém é rico o suficiente para desprezar aquisição de mais e mais bens.
O fenômeno vai além do simples acumular coisas materiais, como um fim em si mesmo: pode ser definido como um psicomaterialismo, fenômeno parecido com a cobiça do poder. Riqueza e poder são irmãos xifópagos. E mais, o poder só é atrativo quando há um grande número de pessoas sobre as quais exercê-lo. A história recente do século passado nos dá a medida que essa compulsão pelo poder pode ser maléfica.
Com toda evidência, as possibilidades de procura, de manutenção e de expansão do poder foram muito maiores após a revolução agrícola do que antes. E a história nos mostra que há dois caminhos básicos para a expansão do poder: manobras políticas habilidosas ou operações militares bem sucedidas. Mais uma vez nos lembramos de Clausewitz: “A guerra é a continuação da política por outros meios”.
Concordando com Clausewitz, já que a natureza dos dois fenômenos é a mesma, ambas, guerra e política, sempre estão concorrendo para a tomada, aumento ou manutenção do poder. Ainda mais, como poder e materialismo na forma de riqueza são irmãos xifópagos, não há contradição em afirmar que a guerra que está a serviço do poder, e também a política, ambas têm como objetivo aumento da riqueza, seja de nações seja de indivíduos. Meio complicado, mas intrinsecamente verdade.
Poder gera riqueza que para ser mantida ou ampliada serve-se da guerra e/ou política para tal. Maquiavel na mais pura acepção: os meios, guerra e política, justificam os fins, poder e riqueza. Fico fascinado como pensadores antigos já tinham uma sintonia fina para perceber os grandes temas sócios antropológicos e os meios para alcançá-los que predominariam nossa sociedade atual.
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