quinta-feira, 24 de novembro de 2011







Já foi muito diferente…

* Por Fernando Yanmar Narciso

Quem me acompanha desde o início sabe que, para mim, não houve época melhor para ser jovem que a década de 80. O rock nacional, os comes e bebes (AKA porcarias), os brinquedos, os gibis, a TV aberta que ainda valia a pena ser assistida, tudo aquilo nos marcou tanto que quase esquecemos quão dura foi aquela década pros nossos pais. Há quantos anos não ouvimos palavras como hiperinflação, recessão, dívida externa, terceiro mundo e subdesenvolvimento quando se referem ao Brasil?
Os mais jovens, que nasceram nos anos 90, nem podem imaginar o que perderam...
Após a “contabilidade criativa” dos tempos do Milagre Econômico, a dívida do país atingiu níveis estratosféricos. A inflação havia chegado, no ano do movimento Diretas Já, a 100% anuais. Já não era brinquedo, concordam?
O país ansiava por mudanças, e todas as esperanças caíram sobre os ombros do garoto-propaganda das eleições diretas, Tancredo Neves.
No fim do movimento, apesar de os militares terem sido derrubados, ele foi eleito indiretamente, quer dizer, sem votos do povo, que por sinal o apoiava incondicionalmente. Porém, ele escondia do Brasil que já estava quase abotoando o paletó de madeira. Foi um verdadeiro choque quando na manhã de 15 de Março de 1985, após a missa de posse na noite anterior, meus pais foram informados que Tancredo fora internado para se tratar de uma diverticulite, e quem tomaria posse seria seu vice. Assim, o nosso primeiro presidente civil em 21 anos passava a ser seu vice, JOSÉ SARNEY, filho da ditadura.
Aí, mergulhamos em cinco anos de trevas absolutas... Foi preciso ser muito patriota e ter auto-estima muito grande para não passar uma gilete nos pulsos ou fugir do país. Durante os anos do Bigodinho como nosso cacique, nada mais e nada menos que três ministros da fazenda e três presidentes do Banco Central passaram pelo governo. Foram necessários quatro planos econômicos para acabar de f#$%& com o país.
A começar pelo Plano Cruzado, que foi feito totalmente às cegas e pegou a população de surpresa. No início, com o congelamento de preços e o corte dos zeros nas cédulas de cruzeiros, todos ficaram muito otimistas, com fé quase absoluta que aquilo salvaria o país, mas bastaram cinco meses do novo “plano econômico” para cairmos miseravelmente na real. Os estabelecimentos ficaram rapados, os preços dos alimentos dispararam de uma forma tão absurda que um mísero chiclete começava a manhã custando, digamos, 5 Centavos e chegava ao fim da tarde custando 1 Cruzado. Carne virou um artigo tão de luxo que até os ricos tinham dificuldade para conseguir, por muito tempo as tenebrosas latas de sardinha foram a única fonte de proteína animal do trabalhador.

Em apenas cinco anos a inflação passou de 100% ao ano para 80% AO MÊS! Uma situação bizarra que nenhum dos outros três planos econômicos do governo Sarney (Cruzado 2: A missão, Bresser e Os que sobreviverem, Verão) conseguiu contornar. E o que não dá pra compreender é que, nem com o país desabando sob nossos pés, Sarney foi digno de impeachment.
Noutros tempos era comum ornamentar cédulas com fotos de ilustres brasileiros, mas não apenas de políticos e antigos presidentes. Músicos como Villa-Lobos e escritores como Carlos Drummond e Cecília Meirelles viviam dentro dos bolsos de gerações passadas. No tempo de Sarney, havia imagens até de cientistas como Oswaldo Cruz e Carlos Chagas estampando as cédulas. Engraçado, Não acham? Talvez com isso a Casa da Moeda quisesse nos transmitir a mensagem que a inflação era um vírus, uma doença que precisava ser curada com urgência. Pena que, assim como a AIDS na época, não havia nada que a medicina e os ministros da fazenda pudessem fazer para contê-los.
É uma atitude típica de qualquer pessoa se lembrar com nostalgia de tudo de bom que lhes ocorreu durante a juventude e isolar no mais longínquo cofre de sua mente as coisas que aborreciam não só a ela, como a praticamente todos que viveram na época. Às vezes me passa pela cabeça a idéia de que as crianças e aborrecentes de hoje não sofrem o bastante, por isso não demonstram interesse por política, apenas aceitando que nada no país presta. Será que cinco anos de caos financeiro e sucessivos planos econômicos fracassados ajudariam a moldar o caráter deles?

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2 comentários:

  1. Caro jovem Fernando,

    Só para se ter uma idéia: 1980 - Brasil - Ditadura Militar - governo Figueiredo!
    Tancredo Neves, foi ministro da Justiça no governo do caudilho gaúcho Vargas e aos nazistas alemães!Nas eleições indiretas Tancredo, lançou-se candidato da oposição e encontrou em Ulysses Guimarães grande apoio!
    Sempre... Sarney continua mamando, sempre...
    Os meus 5 milhões, no corte dos zeros ficou 5 cruzados!!! Acorda Brasillll

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  2. A terapia de choque pode não educar suficientemente, porém é bastante pedagógica. A hiperinflação foi um pesadelo, que felizmente você não viveu, pois em 1985 tinha um ano de idade. Ainda bem que acabou. Foi interessante o seu resgate desse tempo relativamente recente da nossa história, que tanta insegurança trazia.

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