O amor quando não engrandece, esmaga
* Por Mara Narciso
De longe parecem casais comuns, longevos, cuja vida a dois durou uma existência, e o amor venceu. Chegando mais perto e dissecando a história, temos outra versão.
No primeiro caso vemos o homem nascido em 1908 e a mulher em 1910. No começo tiveram direito a poema dedicado ao primeiro beijo, que naquela época acontecia pouco antes do casamento. Também sofreram a rejeição dos pais dela. O sogro morreu, eles se casaram, mas não foram felizes para sempre, pois ele nunca foi fiel. Tiveram onze filhos, e ele teve outros fora do casamento. Ela chorava e decidiu sair de casa. Procurou um irmão e pediu para que fosse recebida na casa dele com os cinco filhos que tinha até então. Mas voltou ao lar, isso há 70 anos, pois não foi acolhida. O casamento durou de 1931 a 1986, ano da morte dela, que os separou há 25 anos. Já velhos, ele lhe pediu perdão pelas infidelidades, e afirmou que a amava muito.
O segundo casal formou-se por acaso. Não houve paixão de nenhum dos lados, e ela, embora fosse lindíssima, e inteligente, nunca recebeu dele um único elogio. Também não consta que o tenha elogiado. O casamento se deu em 1953. Traição era a tônica dele, discreto em seus encontros. Quando ela soube, dez anos após o acontecido, e com um casamento de 31 anos, optou pela separação, e ele saiu de casa. E então? Esses casamentos a moda antiga, por durarem muito, deram certo? E sem contar outros tantos que dormem em quartos separados por décadas, e parecem levar uma vida de casal normal. Eles venceram? Ou foram vencidos?
Depois vieram casamentos de outros feitios, nos quais ambos dividiam direitos e deveres, inclusive os financeiros. Ainda se casava virgem e o casamento legalizava o sexo. Foi na década de 1970. Muitos deles ainda estão de pé. Essa mudança de padrão levou a um desconforto por parte dos homens, pois precisaram aprender a cuidar da casa e das crianças, pois quando jovens isso não lhes foi ensinado. O que se notou posteriormente foi que a paciência passou a ser menor a cada dia, para as duas partes. Os casamentos de 20 a 30 anos de duração começaram a fazer água e a turma passou a se separar. Muitos ainda tentaram colar os cacos dos relacionamentos desfeitos. Em vão. Novas separações, e com dores multiplicadas.
Naquela época, amor e casamento eram acoplados. Hoje andam desvinculados, e a irritabilidade está maior a cada dia. Gente que namorou oito anos, na volta da lua-de-mel de uma semana afirmou que o casamento tinha sido um erro. Outras sabiam das manias do namorado, que ao se casar, mostraram-se insuportáveis. Por exemplo, a paixão por animais abandonados, que era vista como qualidade, mas depois que o marido mudou-se para o canil e cheirava a cão-sem-dono, casamento e hábito mostraram-se irreconciliáveis. Tempo? Nove anos como namorados e seis meses como casados.
Sexo e matrimônio não precisam vir juntos, e isso é aceito por boa parte das pessoas. Assim, muitos não veem motivo para se casar. Sempre existiu, mas se ampliaram a frequência dos relacionamentos tempestuosos, aqueles do vai e volta, o chamado efeito ioiô. Ficam naquela de “junta e separa” por incontáveis vezes. As pessoas envolvidas, especialmente as mulheres, se rasgam em sofrimento. Daí se pode perguntar se é bom separar-se em definitivo, ou não? “Se eu fosse você, não terminava. Às vezes ficamos mais presas a um amor, quando ele termina do que quando nos mantemos na relação”, disse Martha Medeiros no livro Feliz por Nada. Surpreendente, não?
Estranho sentimento que precisa de correspondência. Os demais não reclamam de reciprocidade. Não se pede ao outro para sentir junto com a gente medo, alegria, tristeza, saudade ou raiva. Mas o amor só é bom quando é mútuo, pois senão, altera sua característica positiva, transmutando-se em ódio.
Não, não dá para compreender o amor.
*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”-
* Por Mara Narciso
De longe parecem casais comuns, longevos, cuja vida a dois durou uma existência, e o amor venceu. Chegando mais perto e dissecando a história, temos outra versão.
No primeiro caso vemos o homem nascido em 1908 e a mulher em 1910. No começo tiveram direito a poema dedicado ao primeiro beijo, que naquela época acontecia pouco antes do casamento. Também sofreram a rejeição dos pais dela. O sogro morreu, eles se casaram, mas não foram felizes para sempre, pois ele nunca foi fiel. Tiveram onze filhos, e ele teve outros fora do casamento. Ela chorava e decidiu sair de casa. Procurou um irmão e pediu para que fosse recebida na casa dele com os cinco filhos que tinha até então. Mas voltou ao lar, isso há 70 anos, pois não foi acolhida. O casamento durou de 1931 a 1986, ano da morte dela, que os separou há 25 anos. Já velhos, ele lhe pediu perdão pelas infidelidades, e afirmou que a amava muito.
O segundo casal formou-se por acaso. Não houve paixão de nenhum dos lados, e ela, embora fosse lindíssima, e inteligente, nunca recebeu dele um único elogio. Também não consta que o tenha elogiado. O casamento se deu em 1953. Traição era a tônica dele, discreto em seus encontros. Quando ela soube, dez anos após o acontecido, e com um casamento de 31 anos, optou pela separação, e ele saiu de casa. E então? Esses casamentos a moda antiga, por durarem muito, deram certo? E sem contar outros tantos que dormem em quartos separados por décadas, e parecem levar uma vida de casal normal. Eles venceram? Ou foram vencidos?
Depois vieram casamentos de outros feitios, nos quais ambos dividiam direitos e deveres, inclusive os financeiros. Ainda se casava virgem e o casamento legalizava o sexo. Foi na década de 1970. Muitos deles ainda estão de pé. Essa mudança de padrão levou a um desconforto por parte dos homens, pois precisaram aprender a cuidar da casa e das crianças, pois quando jovens isso não lhes foi ensinado. O que se notou posteriormente foi que a paciência passou a ser menor a cada dia, para as duas partes. Os casamentos de 20 a 30 anos de duração começaram a fazer água e a turma passou a se separar. Muitos ainda tentaram colar os cacos dos relacionamentos desfeitos. Em vão. Novas separações, e com dores multiplicadas.
Naquela época, amor e casamento eram acoplados. Hoje andam desvinculados, e a irritabilidade está maior a cada dia. Gente que namorou oito anos, na volta da lua-de-mel de uma semana afirmou que o casamento tinha sido um erro. Outras sabiam das manias do namorado, que ao se casar, mostraram-se insuportáveis. Por exemplo, a paixão por animais abandonados, que era vista como qualidade, mas depois que o marido mudou-se para o canil e cheirava a cão-sem-dono, casamento e hábito mostraram-se irreconciliáveis. Tempo? Nove anos como namorados e seis meses como casados.
Sexo e matrimônio não precisam vir juntos, e isso é aceito por boa parte das pessoas. Assim, muitos não veem motivo para se casar. Sempre existiu, mas se ampliaram a frequência dos relacionamentos tempestuosos, aqueles do vai e volta, o chamado efeito ioiô. Ficam naquela de “junta e separa” por incontáveis vezes. As pessoas envolvidas, especialmente as mulheres, se rasgam em sofrimento. Daí se pode perguntar se é bom separar-se em definitivo, ou não? “Se eu fosse você, não terminava. Às vezes ficamos mais presas a um amor, quando ele termina do que quando nos mantemos na relação”, disse Martha Medeiros no livro Feliz por Nada. Surpreendente, não?
Estranho sentimento que precisa de correspondência. Os demais não reclamam de reciprocidade. Não se pede ao outro para sentir junto com a gente medo, alegria, tristeza, saudade ou raiva. Mas o amor só é bom quando é mútuo, pois senão, altera sua característica positiva, transmutando-se em ódio.
Não, não dá para compreender o amor.
*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”-
Posso estar errada ou fantasiando que é
ResponderExcluira hipótese mais provável. Sou simples em
minhas interpretações, diante do amor me
sinto pequena.
Se amo relevo, perdoo, me empresto, me lasco...
Tem razão...melhor não coisificar.
Abraços
Núbia, pela crônica, pareço não acreditar, porém confio no amor e acredito no casamento. Só não defendo ficar juntos a qualquer custo, mesmo duas almas irreconciliáveis. E olha que nem toquei no tema violência doméstica. Enfim, os casamentos atuais podem durar menos tempo, mas são mais autênticos e realistas do que os do passado. Que sejam ótimos então, pelo tempo que for.
ResponderExcluirAntes de tudo, fidelidade a si mesmo. Caso contrário, casamento é hipocrisia. E quantos de fachada existem por aí, né? Muito lúcida sua argumentação, Mara. Um grande abraço e parabéns pelo texto.
ResponderExcluirVerdade, Marcelo. Não critico o casamento em si, entidade que ainda acredito, no entanto repudio casamentos que não existem, pois casamento é quando as pessoas se amam, se querem, têm planos em comum, executam ideais juntos e o mais importante, um quer ficar perto do outro, respeitando a individualidade, é claro, perto, porém sem oprimir. Não sendo tudo isso, acabou. Melhor partir para sempre.Obrigada por comentar.
ResponderExcluirVisitem meu blog "Sem excesso e com saúde", no site TECLAI, no link:
ResponderExcluirhttp://www.teclai.com.br/index.php?option=com_content&view=category&layout=blog&id=107&Itemid=213
São textos sobre doenças e, claro, saúde.
Obrigada!