domingo, 20 de novembro de 2011







Abelhas

* Por Jair Lopes

Desde que os antigos humanos trocaram o modo de vida de caçadores-coletores para pastores-agricultores, as primeiras colônias se viram compelidas a domesticar animais e plantas para facilitar a sobrevivência, principalmente porque a nova configuração social acarretou maior densidade populacional. Assim, muitas plantas, muares, ovinos, bovinos, galináceos e insetos, foram compulsoriamente atrelados ao modus vivendi humano nas aldeias e tribos. Obviamente isso não aconteceu a um só tempo, nem num mesmo lugar.
Com facilidade, costumamos associar os mamíferos e aves à nossa civilização por se tratar de animais “visíveis” que não deixam dúvidas que estão ali. Contudo, dois pequenos insetos da maior importância convivem conosco a quase tanto tempo quando os outros animais domesticados: bichos-da-seda e abelhas.
Os bichos-da-seda para se reproduzirem constroem casulos onde colocam seus ovos. Os humanos usam essas ootecas para tecer a seda. Os historiadores acreditam que a produção de seda teve início na China, por volta de 3.000 a.C., revelando que as pessoas já deviam ter começado a domesticar o bicho-da-seda por volta dessa época. Em 2009, uma equipe de cientistas liderada por investigadores chineses comparou o genoma de bichos-da-seda selvagens e de produção industrial tendo concluído que a domesticação deste animal, há cinco mil anos, resultou de um evento único embora se desconheça se os animais fundadores foram recolhidos num único lugar. Desde o início esses insetos têm contribuído em progressão geométrica para a indústria de vestuários e confecção em geral.
Já, com relação às abelhas, há que se notar que antes do século dezenove as populações dependiam do mel para adoçar suas beberagens e comidas, e ainda não existia açúcar industrial. As pessoas conseguiam mel em colméias e não é preciso dizer que se arriscavam a levar doloridas ferroadas para consegui-lo. As abelhas, segundo registros mais antigos, foram domesticadas no oriente por vota de três mil anos atrás.
No século dezenove, o reverendo americano Lorenzo Lorraine Langstroth melhorou significativamente a estrutura das colméias para permitir métodos mais eficientes para a produção do mel. De então para cá, a indústria melífera aperfeiçoou-se cada vez mais e se tornou indispensável para os modos de vida escolhidos pelos homens tanto do oriente como do ocidente. O mel entra na composição de centenas de alimentos, além de ser grandemente utilizado na indústria farmacêutica. Cera, própolis e geléia real são subprodutos também muito explorados pela apicultura.
Com o desenvolvimento da agricultura em larga escala, verificou-se que a apicultura tinha mais uma utilidade ainda. A polinização. As grandes plantações se valem das abelhas e outros insetos para aumentar a produtividade, plantas fecundadas são mais prolíferas e, assim, abelhas criadas junto às culturas, contribuem significativamente para plantas mais produtivas. É consórcio que traz benéficos incalculáveis à agricultura.
Então, por milênios, as abelhas conviveram em relativa paz com homens e a eles deram o produto de seu trabalho sem maiores dissabores, e os humanos esperavam contar com esse serviço por mais alguns milênios talvez. Só que, parece, essa relação está entrando acabando, vai deixar de existir dentro de muito pouco tempo se nada for feito.
Desordem de Colapso de Colônia (CCD em inglês) é um fenômeno em que abelhas operárias de uma colméia de abelhas melíferas européias e africanizadas, de repente desaparecem. Enquanto tais desaparecimentos ocasionalmente ocorriam ao longo da história da apicultura, o termo CCD foi aplicado pela primeira vez a um aumento drástico no número de desaparecimentos de colônias de abelhas europeias nos EUA no final de 2006. Esse colapso de colônias é alarmante porque, como dissemos, muitas produções agrícolas em todo o mundo são polinizadas por abelhas.
Alertados para o fato, apicultores europeus observaram fenômenos semelhantes na Bélgica, França, Holanda, Grécia, Itália, Portugal e Espanha, e relatórios iniciais também vieram da Suíça e da Alemanha, embora em menor grau. Enquanto na Irlanda do Norte relatórios dão conta de um declínio superior a 50%. Outros casos possíveis de CCD também têm sido relatados em Taiwan desde abril de 2007. No Brasil, interior de São Paulo, também se fala em grandes perdas nos apiários, embora não haja relatórios conhecidos a respeito.
A causa ou causas dessa síndrome ainda não são compreendidas. Em 2007, algumas autoridades atribuíram o problema a fatores biológicos como ácaros e doenças de insetos (isto é, patógenos, incluindo Nosema apis e vírus de paralisia aguda de Israel). Outras causas propostas incluem mudanças ambientais por pesticidas que podem levar a desnutrição dos insetos. Mais possibilidades especulativas têm incluído modificação celular por radiação.
Também foi sugerido que pode ser devido a uma combinação de muitos fatores e que nenhum fator é a causa principal ou central. O relatório mais recente (USDA - 2010) afirma que: "com base em uma primeira análise de amostras coletadas em abelhas mortas, tem-se notado o elevado número de vírus e outros patógenos, pesticidas e parasitas presentes em colônias que sofreram CCD. Este trabalho sugere que uma combinação de fatores ambientais pode desencadear uma cascata de eventos e contribuir para debilitação dos insetos de forma que estes ficam vulneráveis a outras doenças”. Contudo, não há qualquer convergência de resultados nos estudos efetuados até o presente e, principalmente, não se sabe o porquê dos eventos. O que se sabe com certeza, é que as abelhas continuam desaparecendo e essa síndrome está se espalhando pelo Planeta e não há nenhuma solução a vista a médio e curto prazo. Cientistas preocupados projetam que dentro de uns vinte anos não mais haverá abelhas produzindo mel industrialmente. Quem viver provavelmente terá muito menos doçura em sua vida então.

• Escritor

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