terça-feira, 22 de novembro de 2011







Intervalo

* Por Evelyne Furtado

O relógio da sala tirou-a de uma curva. O som vindo de muitas gerações a fez derrapar. Maldisse o relógio. Maldisse o tempo. Vociferou contra a realidade da reta estrada. Tentou retornar, mas a vida insistia em lhe chamar.
Atendeu o telefone com voz de muitos anos atrás. Do outro lado o presente a intimava. Pôs o pé direito no chão, ao mesmo tempo em que fazia uma oração. Deixou o vestido de casa largado sobre o tapete ao lado da cama e entrou no banheiro ainda no piloto automático.
Depois de um banho com direito a água morna e laranjeira, o real pareceu-lhe mais atraente e a tarde até lembrava uma manhã auspiciosa. Hora de recomeçar de onde parara sei lá quantas horas atrás. Ao sair de casa o velho relógio marcava discretamente os segundos. Respirou fundo e bendisse a vida.

• Poetisa e cronista de Natal/RN

4 comentários:

  1. Fiz as pazes com o tempo, tornei-me sua aliada.
    Consigo assim enxergar os dias que se passam
    como sendo únicos.
    Beijos

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  2. Nossa, uma viagem no tempo entre um e outro afazer da irrealidade cotidiana. Prazer enorme em ler esta gema de prosa poética. Parabéns, Evelyne.

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  3. Que coisa mais linda, Evelyne! Apaixonei-me pelo tempo lendo sua poemização dele.
    Destaco: "Atendeu o telefone com voz de muitos anos atrás."
    Que lindeza! Parabéns!

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  4. Núbia, Marcelo e Mara: vocês são mais preciosos que o tempo. Beijos e obrigada.

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