terça-feira, 22 de novembro de 2011





Ilustração Van Gogh

Os moicanos tomam cana

* Por Talis Andrade

A Abdias Moura

(trechos)


O bater delirante das máquinas de escrever e dos teletipos
o tilintar dos telefones
o estalante correr das letras nas linotipos
dissonante música dos jovens na caldeira
De todos os quadrantes
chegavam visitantes
que o governador cancelou as audiências
o bispo fechou o responsório
A Imprensa o poder
o ilusório poder
do homem comum se sentir defendido
por repórteres com o nome de José
o nome de Maria
repórteres que gostavam do cheiro do povo
do cheiro das ruas
Terminado o serão
caminhantes na noite
os jornalistas surgiam na zona
nos bares o som arranhado das radiolas de ficha
o rodopio vagaroso dos sambas-canção
o balbucio meloso das confissões de inclinação
Do Diário de Pernambuco
Waldimir Maia Leite
José Maria Garcia
Antonio Camelo
Do Diário da Noite
Fernando Calheiros
Rosalvo Melo
Ivan Maurício
Do Jornal do Commercio
Edson Regis
José de Souza Alencar
A zona um ponto de encontro
Os jornalistas colocavam a conversa em dia
escondendo os furos
as matérias exclusivas
a rotativa engolindo bobinas de papel
iria regurgitar em notícias
Nos bares a verdade nua
o que se dizia
não se escrevia
Nos bares a carne crua
os jornalistas não pagavam
por uma noite de amor

* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).

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