Preço e valor
A maioria das pessoas – salvo se for alguém versado em economia – confunde, via de regra, os conceitos de “preço” e de “valor” dos produtos que adquire. São coisas bastante distintas. Um é o que aquele que nos vende cobra pelo bem que adquirimos. Outro, é quanto esse objeto (ou serviço) de fato vale.
O valor final do objeto de compra e venda embute uma série de custos e, entre eles, claro, a indefectível margem de lucro. Ninguém produz e nem comercializa seja lá o que for para “empatar”, para favorecer a sociedade, sem levar nenhum tipo de vantagem. Isso não existe! Pelo contrário. Quanto mais o produtor conseguir ganhar, tanto melhor (para ele, claro!). Essa é a lógica que move toda a cadeia de produção, seja do que for e, de forma mais abrangente, é o motor que move a economia.
Este é o principal tema tratado por Raj Patel no livro “O valor de nada”, best-seller em vários países, lançado não faz muito no Brasil pela Zahar Editora. O lançamento fornece-me oportuno “gancho” para refletir sobre um tema recorrente da realidade cotidiana de todos nós, ou seja, o consumo de bens e serviços, alguns essenciais, mas a imensa maioria, supérfluos, perfeitamente dispensáveis, que, contudo, se não fossem consumidos deteriam as engrenagens econômicas, gerariam desemprego em massa, causariam o caos, desorganizando a vida social mundo afora.
Perdi a conta da quantidade de livros que abordei apenas neste ano. Minha proposta, ao traçar estes comentários informais (e põe informalidade nisso!) tem (e convém esclarecer mais uma vez) duplo objetivo: trazer à baila temas atuais, alguns aqueles “eternos”, atemporais, que nunca perdem a atualidade e sugerir a você, leitor atento e bem-informado, leituras que, suponho, possam lhe ser, de alguma forma, úteis.
Já me acusaram de estar fazendo propaganda de editoras. Tolice! Afinal, não me limito a comentar lançamentos. Comento, também, obras há muito esgotadas, que não são mais encontradas nem nos mais completos “sebos”. Mas que fazem parte do acervo de muitas bibliotecas. Ademais, não sugiro livros de alguma editora específica, mas creio haver tratado de lançamentos de dezenas delas. Até porque, se tivesse que fazer propaganda de alguma, faria a das que lançaram obras de minha autoria. E não tratei de nenhuma delas. Portanto...
Bem, reiterado o esclarecimento, vamos ao que nos interessa. “O valor de nada” parte da premissa de que “tudo custa mais caro do que pensamos”. Feita a constatação – nada difícil de fazer – fica a pergunta: por que? É a ela que Raj Patel tenta responder, e consegue, com argumentos sólidos e informações que apenas quem conhece a fundo o assunto pode transmitir. E o autor conhece, e muito.
Para quem não sabe nada a seu respeito, peço licença para fornecer alguns dados que considero pertinentes. O Dr. Raj Patel (e merece ser citado com este título), é um economista (tinha que ser!), ativista e acadêmico, nascido em Londres, filho de mãe queniana e pai fijiano, ou seja, natural do arquipélago de Fiji, no Oceano Pacífico. Em 2010, obteve a cidadania norte-americana. Seu currículo é dos mais invejáveis.
É, por exemplo, bacharel em Filosofia, Política e Economia em Oxford. Trabalhou no Banco Mundial e na Organização Mundial do Comércio. É consultor do “Special Rapporteur on the Right to Food” das Nações Unidas. É ex-professor de Yale e atua nas universidades Kwala-Zulu-Natal, na África do Sul e da Califórnia, em Berkeley. Viveu e trabalhou no Zimbabwe, na África do Sul e nos Estados Unidos. Como se vê, o cara é “fera”.
O título do livro (e desconfio que sua própria concepção), inspirou-se em uma citação de Oscar Wilde que diz: “Hoje em dia as pessoas sabem o preço de tudo e o valor de nada”. E o autor questiona, antes de trazer as respectivas respostas: “Por que as coisas custam o que custam? O que se esconde por trás dos preços das etiquetas?”. Escondem-se coisas que nós, incautos e quase sempre indefesos consumidores, sequer desconfiamos, nem remotamente. Patel, com base na economia, na história e na sociologia (e, sobretudo, em sua vasta experiência pessoal) nos fornece estas e outras tantas respostas.
O economista afirma (e, posteriormente, comprova) que “o valor da etiqueta não se resume ao custo de produção somado à margem de lucro” (deveria se resumir para que nós, consumidores, fôssemos tratados com respeito e com justiça). “Ah, nessa definição de preços entra o fator Oferta e Procura, a lei natural de mercado”, dirá, talvez, o leitor. E entra mesmo. Mas Patel comprova que a questão vai além desse mecanismo natural. “Há outros custos envolvidos que são ignorados”.
Raj Patel mostra que até os produtos “grátis” não são tão de graça assim. Enfatiza, por exemplo, que o celular gratuito ofertado pelas operadoras redunda no aumento de produção do aparelho. Se, por um lado, traz um resultado benéfico, que é a absorção de mais mão de obra, gerando empregos, por outro exige que haja maior extração de minérios na África, feita à base de trabalho semi-escravo ou escravo mesmo. Como se vê, redunda num custo humano altíssimo, proibitivo.
No âmago da questão, fica implícito que o cerne do livro, a verdadeira mensagem que o autor nos deixa, é um alerta para os riscos, óbvios, porém solenemente ignorados, do consumismo desbragado, sem freios e incentivado pela propaganda, que caracteriza o mundo globalizado do início da segunda década do século XXI.
Produtores e consumidores se esquecem que os recursos do Planeta são esgotáveis e que muitos deles já estão no limite, muito próximos do esgotamento. O que leva Raj Patel a advertir: “Consumismo é vício social que contamina indivíduos desavisados”. Oxalá não precisemos aprender esta lição básica de poupança pelo meio mais duro, posto que eficaz: pelo do sofrimento.
Boa leitura.
O Editor.
A maioria das pessoas – salvo se for alguém versado em economia – confunde, via de regra, os conceitos de “preço” e de “valor” dos produtos que adquire. São coisas bastante distintas. Um é o que aquele que nos vende cobra pelo bem que adquirimos. Outro, é quanto esse objeto (ou serviço) de fato vale.
O valor final do objeto de compra e venda embute uma série de custos e, entre eles, claro, a indefectível margem de lucro. Ninguém produz e nem comercializa seja lá o que for para “empatar”, para favorecer a sociedade, sem levar nenhum tipo de vantagem. Isso não existe! Pelo contrário. Quanto mais o produtor conseguir ganhar, tanto melhor (para ele, claro!). Essa é a lógica que move toda a cadeia de produção, seja do que for e, de forma mais abrangente, é o motor que move a economia.
Este é o principal tema tratado por Raj Patel no livro “O valor de nada”, best-seller em vários países, lançado não faz muito no Brasil pela Zahar Editora. O lançamento fornece-me oportuno “gancho” para refletir sobre um tema recorrente da realidade cotidiana de todos nós, ou seja, o consumo de bens e serviços, alguns essenciais, mas a imensa maioria, supérfluos, perfeitamente dispensáveis, que, contudo, se não fossem consumidos deteriam as engrenagens econômicas, gerariam desemprego em massa, causariam o caos, desorganizando a vida social mundo afora.
Perdi a conta da quantidade de livros que abordei apenas neste ano. Minha proposta, ao traçar estes comentários informais (e põe informalidade nisso!) tem (e convém esclarecer mais uma vez) duplo objetivo: trazer à baila temas atuais, alguns aqueles “eternos”, atemporais, que nunca perdem a atualidade e sugerir a você, leitor atento e bem-informado, leituras que, suponho, possam lhe ser, de alguma forma, úteis.
Já me acusaram de estar fazendo propaganda de editoras. Tolice! Afinal, não me limito a comentar lançamentos. Comento, também, obras há muito esgotadas, que não são mais encontradas nem nos mais completos “sebos”. Mas que fazem parte do acervo de muitas bibliotecas. Ademais, não sugiro livros de alguma editora específica, mas creio haver tratado de lançamentos de dezenas delas. Até porque, se tivesse que fazer propaganda de alguma, faria a das que lançaram obras de minha autoria. E não tratei de nenhuma delas. Portanto...
Bem, reiterado o esclarecimento, vamos ao que nos interessa. “O valor de nada” parte da premissa de que “tudo custa mais caro do que pensamos”. Feita a constatação – nada difícil de fazer – fica a pergunta: por que? É a ela que Raj Patel tenta responder, e consegue, com argumentos sólidos e informações que apenas quem conhece a fundo o assunto pode transmitir. E o autor conhece, e muito.
Para quem não sabe nada a seu respeito, peço licença para fornecer alguns dados que considero pertinentes. O Dr. Raj Patel (e merece ser citado com este título), é um economista (tinha que ser!), ativista e acadêmico, nascido em Londres, filho de mãe queniana e pai fijiano, ou seja, natural do arquipélago de Fiji, no Oceano Pacífico. Em 2010, obteve a cidadania norte-americana. Seu currículo é dos mais invejáveis.
É, por exemplo, bacharel em Filosofia, Política e Economia em Oxford. Trabalhou no Banco Mundial e na Organização Mundial do Comércio. É consultor do “Special Rapporteur on the Right to Food” das Nações Unidas. É ex-professor de Yale e atua nas universidades Kwala-Zulu-Natal, na África do Sul e da Califórnia, em Berkeley. Viveu e trabalhou no Zimbabwe, na África do Sul e nos Estados Unidos. Como se vê, o cara é “fera”.
O título do livro (e desconfio que sua própria concepção), inspirou-se em uma citação de Oscar Wilde que diz: “Hoje em dia as pessoas sabem o preço de tudo e o valor de nada”. E o autor questiona, antes de trazer as respectivas respostas: “Por que as coisas custam o que custam? O que se esconde por trás dos preços das etiquetas?”. Escondem-se coisas que nós, incautos e quase sempre indefesos consumidores, sequer desconfiamos, nem remotamente. Patel, com base na economia, na história e na sociologia (e, sobretudo, em sua vasta experiência pessoal) nos fornece estas e outras tantas respostas.
O economista afirma (e, posteriormente, comprova) que “o valor da etiqueta não se resume ao custo de produção somado à margem de lucro” (deveria se resumir para que nós, consumidores, fôssemos tratados com respeito e com justiça). “Ah, nessa definição de preços entra o fator Oferta e Procura, a lei natural de mercado”, dirá, talvez, o leitor. E entra mesmo. Mas Patel comprova que a questão vai além desse mecanismo natural. “Há outros custos envolvidos que são ignorados”.
Raj Patel mostra que até os produtos “grátis” não são tão de graça assim. Enfatiza, por exemplo, que o celular gratuito ofertado pelas operadoras redunda no aumento de produção do aparelho. Se, por um lado, traz um resultado benéfico, que é a absorção de mais mão de obra, gerando empregos, por outro exige que haja maior extração de minérios na África, feita à base de trabalho semi-escravo ou escravo mesmo. Como se vê, redunda num custo humano altíssimo, proibitivo.
No âmago da questão, fica implícito que o cerne do livro, a verdadeira mensagem que o autor nos deixa, é um alerta para os riscos, óbvios, porém solenemente ignorados, do consumismo desbragado, sem freios e incentivado pela propaganda, que caracteriza o mundo globalizado do início da segunda década do século XXI.
Produtores e consumidores se esquecem que os recursos do Planeta são esgotáveis e que muitos deles já estão no limite, muito próximos do esgotamento. O que leva Raj Patel a advertir: “Consumismo é vício social que contamina indivíduos desavisados”. Oxalá não precisemos aprender esta lição básica de poupança pelo meio mais duro, posto que eficaz: pelo do sofrimento.
Boa leitura.
O Editor.
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O preço de um serviço ainda é mais difícil de calcular do que de um bem. São absurdos e sem relação com nada. Algumas vezes o prestador cobra pela cara e/ou vestimenta do contratador.
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