Relatividade da lógica
* Por Pedro J. Bondaczuk
As pessoas, muitas vezes, deixam de evoluir, em termos humanos (diríamos espirituais), por se despirem da sua humanidade. Entregam-se a um automatismo feroz e tolo, como se a vida pudesse ser racionalizada e balizada por regras fixas. Mas não pode. Agem como se a existência fosse um problema de matemática – mesmo que complexo – no qual, aplicando-se determinadas regras lógicas, pudessem obter um único resultado sempre.
Não dão asas aos seus sonhos. Racionam suas fantasias. Enrijecem suas emoções. Não ousam, em termos de raciocínio. Por isso, morrem à míngua de criatividade, mesmo que a tenham ao alcance das mãos. Ficam privadas das descobertas abstratas. Limitam seu entendimento. Falta-lhes luz.
Basta que se lhes apresente alguma idéia diferente das que cristalizaram na mente como dogma para que a ridicularizem, assumindo a postura de "donos da verdade". São autômatos com aparência humana. São meros produtos de condicionamentos. Recusam-se a pensar. Limitam-se a remoer elucubrações alheias.
Usam como pretexto para esse imobilismo mental a "ciência". Ocorre, como lembrou o físico Albert Einstein, que todo o princípio científico – posteriormente comprovado através de experiências passivas de reprodução – surgiu originalmente de um sonho, de uma idéia aparentemente "maluca", de uma fantasia.
Quando tentamos argumentar com essa gente, recebemos, por resposta, chavões desgastados pelo uso e nunca testados, ou pelo menos não comprovados quanto à sua veracidade. Acenam-nos, estes insensatos, com a "lógica". Só que esta, como tantos outros princípios e sistemas, também é produto da imaginação. Foi desenvolvida não por uma única pessoa, mas por inúmeras, que deram sua contribuição através dos tempos. Daí haver o deserto de idéias que caracteriza a nossa época. Falta ousadia e abunda o desalento.
Fica, para essa gente dogmática, rígida e robotizada, sem horizontes de longo prazo, esta reflexão do escritor Ernesto Sábato: "Quase nada do que é essencial ao homem diz respeito à lógica: nem os sonhos, nem a arte, nem as emoções, nem os sentimentos, nem o amor, nem o ódio, nem as esperanças, nem as angústias". E alguém pode se considerar "vivo" e "humano" sem isso?
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
* Por Pedro J. Bondaczuk
As pessoas, muitas vezes, deixam de evoluir, em termos humanos (diríamos espirituais), por se despirem da sua humanidade. Entregam-se a um automatismo feroz e tolo, como se a vida pudesse ser racionalizada e balizada por regras fixas. Mas não pode. Agem como se a existência fosse um problema de matemática – mesmo que complexo – no qual, aplicando-se determinadas regras lógicas, pudessem obter um único resultado sempre.
Não dão asas aos seus sonhos. Racionam suas fantasias. Enrijecem suas emoções. Não ousam, em termos de raciocínio. Por isso, morrem à míngua de criatividade, mesmo que a tenham ao alcance das mãos. Ficam privadas das descobertas abstratas. Limitam seu entendimento. Falta-lhes luz.
Basta que se lhes apresente alguma idéia diferente das que cristalizaram na mente como dogma para que a ridicularizem, assumindo a postura de "donos da verdade". São autômatos com aparência humana. São meros produtos de condicionamentos. Recusam-se a pensar. Limitam-se a remoer elucubrações alheias.
Usam como pretexto para esse imobilismo mental a "ciência". Ocorre, como lembrou o físico Albert Einstein, que todo o princípio científico – posteriormente comprovado através de experiências passivas de reprodução – surgiu originalmente de um sonho, de uma idéia aparentemente "maluca", de uma fantasia.
Quando tentamos argumentar com essa gente, recebemos, por resposta, chavões desgastados pelo uso e nunca testados, ou pelo menos não comprovados quanto à sua veracidade. Acenam-nos, estes insensatos, com a "lógica". Só que esta, como tantos outros princípios e sistemas, também é produto da imaginação. Foi desenvolvida não por uma única pessoa, mas por inúmeras, que deram sua contribuição através dos tempos. Daí haver o deserto de idéias que caracteriza a nossa época. Falta ousadia e abunda o desalento.
Fica, para essa gente dogmática, rígida e robotizada, sem horizontes de longo prazo, esta reflexão do escritor Ernesto Sábato: "Quase nada do que é essencial ao homem diz respeito à lógica: nem os sonhos, nem a arte, nem as emoções, nem os sentimentos, nem o amor, nem o ódio, nem as esperanças, nem as angústias". E alguém pode se considerar "vivo" e "humano" sem isso?
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
A angústia é bastante humana.
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