Lula e o câncer
* Por Luiz de Aquino
Indigna-me receber piadinhas de humor negro… Ou melhor, piadinhas sem humor algum envolvendo a doença de que padece Luiz Inácio Lula da Silva. Digo falta de humor sobretudo após ver, na tevê, que até o programa CQC, liderado por Marcelo Tass e enquadrado num gênero que chamaríamos de “jornalismo com humor cáustico”, tratou o caso como coisa séria, um tema em que o personagem central deve ser tratado com o respeito que dispensamos a qualquer ser humano, ainda que discordemos de sua linha política, de sua viga ideológica, de suas convicções sócio-econômicas.
Pela Internet, uma piadinha suportável seria tratada como tal, não viesse de pessoas que acrescentam as marcas de seu ódio ao ex-presidente da República. Trata-se de uma frase simplória, mais ou menos assim: “Se Lula perdesse a voz e tivesse de usar a linguagem dos sinais continuaria falando errado, pois falta-lhe um dedo”. Mas o pior é a proposta lançada nacionalmente por um sujeito que se diz médico – se de fato o for, quero passar bem longe de seu consultório, do hospital a que serve e mesmo de sua pessoa, pois mostra-se muito mal-preparado para o exercício da Medicina. Ele quer – e achou milhares ou até mesmo milhões de adeptos – que Lula vá se tratar no SUS; e insinua que, por ter sido presidente, ele é co-responsável pelo caos na saúde, então devia entrar na fila e aguardar dois ou três ou quatro meses para obter um diagnóstico; e no mesmo dia, neste mesmo caderno de Opinião Pública, o mesmo médico diz que a assessoria de Lula informou que o Papa Bento XVI (dezesseis, Sr. doutor) iria orar por Lula; e sugere que o Papa reze também pelos duzentos brasileiros que a cada dia descobrem sofrer de algum tipo de câncer.
Que ótimo! Que o Papa e todos os homens de boas intenções também orem por estes, sejam os duzentos brasileiros de cada dia e os milhares no resto do mundo!Tenho uma sugestão adicional para o caso brasileiro: que duzentos médicos, a cada dia em todo o país, concedam uma consulta gratuita para aliviar o congestionado Sistema Único de Saúde, aliviando assim a dor de tanta gente sofrida e carente! É comum profissionais de outras áreas fazerem isso amiúde – que o digam os professores de qualquer localidade, nível e circunstâncias; e são também milhares os médicos respeitáveis que se alinham em entidades e instituições sérias, voltadas para o bem social.
Estes, os médicos do bem, não têm tempo para fazer piadinhas nem espargir peçonha contra quem sofre, infringindo princípios morais costumeiros desde os tempos de Hipócrates (que nada tinha de hipócrita, como esse médico político-partidário de m...). Minha revolta, nestas linhas é de solidariedade para com alguém que sofre. Não vi esse médico mandar a falecida e admirável mulher de Fernando Henrique Cardoso se tratar no SUS; ele poupou também o vice-presidente de Lula, José Alencar – mas ironiza e roga praga contra o ex-presidente.
Minha revolta, Sr. doutor mal formado, ocorre em nome de milhões de brasileiros que sofrem pelo câncer – seja na própria carne ou no sangue, seja na dor de amigos e familiares. Qual a família brasileira imune ao câncer? Qual delas não amargou as dores e os custos dos tratamentos longos, caros e dolorosos? Ao insurgir-se contra Lula, valendo-se da doença insistente e teimosa, esse médico e seus simpatizantes agridem todos os que têm ou tiveram câncer; e ferem também pais, filhos, irmãos, parceiros de vida, amigos – todos os que se unem na luta contra essa moléstia terrível que, a cada dia aumenta impiedosamente o contingente de sofredores.
Em lugar de jogar praga e fazer piadinha, esse doutorzinho devia pesquisar, ajudar na busca da cura e da prevenção. Ou praticar religião, exercitar a solidariedade, estudar filosofia – e, nisso, levar junto os que, desgraçadamente, se alinham a ele. Já perdi um avô, um tio e um irmão afetivo por conta do câncer; minha mulher perdeu pai e mãe e ainda dois cunhados; são inúmeros os amigos nossos que engrossam a lista.
Nós, goianienses, somos colaboradores anônimos das campanhas do Hospital Araújo Jorge há muitas décadas. Simpatizante ou adversário das práticas políticas de Lula ou de quem quer que seja, jamais desejaria a desgraça aos meus semelhantes. A família brasileira quer respeito, saúde, segurança e bem-estar.
Mas cidadãos como esses, críticos mordazes do Brasil que, para eles, não dá certo, deviam mudar-se para a riqueza de algum país onde se sentissem melhor. Depois de assumirem seu ódio irreversível, talvez se tornassem homens-bombas. Ainda assim, eu rezaria por eles.
• Jornalista e escritor de Goiânia/GO
* Por Luiz de Aquino
Indigna-me receber piadinhas de humor negro… Ou melhor, piadinhas sem humor algum envolvendo a doença de que padece Luiz Inácio Lula da Silva. Digo falta de humor sobretudo após ver, na tevê, que até o programa CQC, liderado por Marcelo Tass e enquadrado num gênero que chamaríamos de “jornalismo com humor cáustico”, tratou o caso como coisa séria, um tema em que o personagem central deve ser tratado com o respeito que dispensamos a qualquer ser humano, ainda que discordemos de sua linha política, de sua viga ideológica, de suas convicções sócio-econômicas.
Pela Internet, uma piadinha suportável seria tratada como tal, não viesse de pessoas que acrescentam as marcas de seu ódio ao ex-presidente da República. Trata-se de uma frase simplória, mais ou menos assim: “Se Lula perdesse a voz e tivesse de usar a linguagem dos sinais continuaria falando errado, pois falta-lhe um dedo”. Mas o pior é a proposta lançada nacionalmente por um sujeito que se diz médico – se de fato o for, quero passar bem longe de seu consultório, do hospital a que serve e mesmo de sua pessoa, pois mostra-se muito mal-preparado para o exercício da Medicina. Ele quer – e achou milhares ou até mesmo milhões de adeptos – que Lula vá se tratar no SUS; e insinua que, por ter sido presidente, ele é co-responsável pelo caos na saúde, então devia entrar na fila e aguardar dois ou três ou quatro meses para obter um diagnóstico; e no mesmo dia, neste mesmo caderno de Opinião Pública, o mesmo médico diz que a assessoria de Lula informou que o Papa Bento XVI (dezesseis, Sr. doutor) iria orar por Lula; e sugere que o Papa reze também pelos duzentos brasileiros que a cada dia descobrem sofrer de algum tipo de câncer.
Que ótimo! Que o Papa e todos os homens de boas intenções também orem por estes, sejam os duzentos brasileiros de cada dia e os milhares no resto do mundo!Tenho uma sugestão adicional para o caso brasileiro: que duzentos médicos, a cada dia em todo o país, concedam uma consulta gratuita para aliviar o congestionado Sistema Único de Saúde, aliviando assim a dor de tanta gente sofrida e carente! É comum profissionais de outras áreas fazerem isso amiúde – que o digam os professores de qualquer localidade, nível e circunstâncias; e são também milhares os médicos respeitáveis que se alinham em entidades e instituições sérias, voltadas para o bem social.
Estes, os médicos do bem, não têm tempo para fazer piadinhas nem espargir peçonha contra quem sofre, infringindo princípios morais costumeiros desde os tempos de Hipócrates (que nada tinha de hipócrita, como esse médico político-partidário de m...). Minha revolta, nestas linhas é de solidariedade para com alguém que sofre. Não vi esse médico mandar a falecida e admirável mulher de Fernando Henrique Cardoso se tratar no SUS; ele poupou também o vice-presidente de Lula, José Alencar – mas ironiza e roga praga contra o ex-presidente.
Minha revolta, Sr. doutor mal formado, ocorre em nome de milhões de brasileiros que sofrem pelo câncer – seja na própria carne ou no sangue, seja na dor de amigos e familiares. Qual a família brasileira imune ao câncer? Qual delas não amargou as dores e os custos dos tratamentos longos, caros e dolorosos? Ao insurgir-se contra Lula, valendo-se da doença insistente e teimosa, esse médico e seus simpatizantes agridem todos os que têm ou tiveram câncer; e ferem também pais, filhos, irmãos, parceiros de vida, amigos – todos os que se unem na luta contra essa moléstia terrível que, a cada dia aumenta impiedosamente o contingente de sofredores.
Em lugar de jogar praga e fazer piadinha, esse doutorzinho devia pesquisar, ajudar na busca da cura e da prevenção. Ou praticar religião, exercitar a solidariedade, estudar filosofia – e, nisso, levar junto os que, desgraçadamente, se alinham a ele. Já perdi um avô, um tio e um irmão afetivo por conta do câncer; minha mulher perdeu pai e mãe e ainda dois cunhados; são inúmeros os amigos nossos que engrossam a lista.
Nós, goianienses, somos colaboradores anônimos das campanhas do Hospital Araújo Jorge há muitas décadas. Simpatizante ou adversário das práticas políticas de Lula ou de quem quer que seja, jamais desejaria a desgraça aos meus semelhantes. A família brasileira quer respeito, saúde, segurança e bem-estar.
Mas cidadãos como esses, críticos mordazes do Brasil que, para eles, não dá certo, deviam mudar-se para a riqueza de algum país onde se sentissem melhor. Depois de assumirem seu ódio irreversível, talvez se tornassem homens-bombas. Ainda assim, eu rezaria por eles.
• Jornalista e escritor de Goiânia/GO
Parabéns Luiz, pela raiva incontida, pela revolta contra os maus e o fato de que você, mesmo injuriado, ainda construiu algo de bom. Assino embaixo do seu desabafo.
ResponderExcluirEntão Luiz, bom saber que na mesma cidade em que moro, alguém também se indignou com tais babaquices. Diferentemente de você, que consegue verbalizar a indignação, normalmente as remoo. E desta vez, como você, também colaboro com o Hospital Araújo Jorge. Tento fazer a minha parte, de forma ativa.
ResponderExcluirParabéns pelo texto!