sábado, 17 de setembro de 2011



Ecologicamente correto

* Por Clóvis Campêlo

Fico sempre sensibilizado quando estou na orla do Recife, curtindo a minha cerveja fabricada industrialmente e estupidamente gelada, e vejo as pessoas na beira-mar apanhando vasilhames e sacolas de plástico jogadas na areia pela população mal-educada ou devolvida pelo mar revolto. Essa atitude singela me emociona pela grandeza do seu gesto.
Enquanto as duas maiores economias do planeta, a China e os Estados Unidos, jogam diariamente na atmosfera e nos mares toneladas de lixo químico, indiferentes ao destino do planeta e preocupadas apenas com a sobrevivência dos seus lucros, admira-me o desprendimento e a inutilidade do gesto dessas pessoas. Geralmente são velhas senhoras preocupadas em preservar o meio ambiente e a vida das tartarugas marinhas, que confundem o plástico com as algas e morrem engasgadas.
Por outro lado, fico irritadíssimo quando nos supermercados me oferecem, a preços módicos, as tais sacolas ecologicamente corretas. Nesses momentos, sinto-me chantageado pelo sistema, que mais uma vez não abre mão dos seus lucros e tenta transferir para o cidadão consumidor o ônus da “preservação” ecológica do planeta. Para mim, essa é mais uma sacanagem para conosco.
Afinal, que responsabilidade podemos ter nós em relação a esses sistema de produção que polui e esgota os recursos naturais do planeta? Pergunto-me sempre e não encontro a resposta. Nós cidadãos comuns, somos tão vítimas quanto a natureza espoliada. A parte de responsabilidade que nos cabe, com certeza, diz respeito ao consumo desenfreado e impensado de tudo o que nos é oferecido pela produção industrial.
Segundo os estudiosos do assunto, o lixo inorgânico é uma invenção moderna. O advento da Revolução Industrial, no século XVIII, e a invenção de máquinas que modernizaram e agilizaram o sistema de produção capitalista, cada vez mais resultou na criação de resíduos e objetos descartáveis e inúteis que podem causar a poluição do solo e das águas do planeta, afetando a todos nós.
A grande contra-revolução possível e capitaneada por nós, consumidores, seria a seletividade do consumo em relação aos bens manufaturados pela produção industrial. Isso, no entanto, é muito difícil, pois implicaria numa atitude crítica do consumidor diante do sistema produtivo e dos produtos manufaturados que nos são oferecidos. Implicaria também em um sentimento de coletividade inexistente. Por mais amor que tenhamos à Mãe Natureza, não somos educados para isso.
Pelo contrário, sempre tentam nos fazer crer que o consumismo é um mal necessário e inerente ao mundo moderno e o que o individualismo e a concorrência entre indivíduos é uma das molas mestras do sucesso.
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* Poeta, jornalista e radialista

Um comentário:

  1. Solução impossível antes das duas próximas gerações. Consumir menos já é um começo.

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