quinta-feira, 15 de setembro de 2011




Possibilidades


* Por Fabiana Borgia

Tempo é algo que aprendemos que existe, desde que nascemos, desde que aprendemos a contar, desde que notamos o que ele nos faz. Isso tudo no nível da consciência. Mas o tempo também pode ser atemporal. Viagem? Sim. E real. O que ficou para trás pode ser hoje e sempre. Sonhos passados podem acabar sendo sonhos presentes. Outro ponto importante: sonhos nunca devem ser deixados para trás.
Eu sempre quis ver alguns de meus poemas virarem música. Pode ser que isso aconteça. Ou não. Mas eu preciso acreditar que isso é possível. Possibilidades. A física quântica fala sobre possibilidades.
O que a física tem a ver com tudo isso? Sabemos muito pouco sobre as coisas. Talvez, por isso viver seja tão bom, porque nunca esgotamos nossa possibilidade de ser.
Eu não entendo nada de física, de química ou de matemática. Mas há algumas poucas coisas que absorvemos.
Vivi anos querendo publicar meus livros. Anos. Um sonho desde criança, que veio quando cresci. A coragem veio depois. Muita coisa foi excluída. Escrever nos revela demais. Tomei coragem quando perdi a oportunidade de lançar meu livro, quando deixei sonhos para trás, quando vi que deixaria tudo. Errei. E consertei o meu erro. Então, meu primeiro livro surgiu com tudo.
Assistindo um DVD que um amigo me deu, tirei algumas conclusões.
A gente tem medo de sentir falta da química. O desejo por algo que nem existe mais deve ser por isso. Temos medo de esquecer, ou melhor, sentir falta da química.
A física quântica fala de possibilidades, como eu já mencionei. Não em termos de física, mas por que precisamos nos moldar sempre ao que fomos, ao que passamos? Por que não podemos esquecer que temos passado, para tentar um futuro completamente diferente de como nos projetamos? Simplesmente porque não queremos esquecer. Porque aceitamos um mundo pronto, com todas as regras já estabelecidas. Porque esquecemos que evoluímos. Porque esquecemos que criamos e recriamos realidades. Porque nos acomodamos. Porque todos estes pensamentos não fazem parte do nosso cotidiano. Porque preferimos deixar as coisas exatamente como estão. Porque tememos mudanças. Porque estamos acostumados a nos acostumarmos com as coisas. Temos medo da falta da química, mas também de não saber nem mais o que somos. Pior. Mesmo com tais atitudes, ainda assim não sabemos quem somos, porque nos camuflamos nos hábitos, nos padrões.
Se o tempo não existe, nem mesmo o passado existe. Então o que somos nós? Desta forma, entendo que o passado tem toda uma relevância no contexto de nossas vidas. Afinal, se somos assim, se chegamos até aqui, é porque fizemos exatamente tudo da forma como fizemos. Como isso não pode ser relevante? De fato, isso é muito relevante, mas não a ponto de nos tornarmos escravos disso tudo, como se nossos potenciais estivessem esgotados em escolhas, já feitas anteriormente, ou até mesmo por coisas impostas.
Até mesmo o que foi imposto, talvez pudesse ser escolhido? Na verdade, será que o imposto, a submissão não é ato da própria escolha?
Confesso que acho o passado fundamental. Mas esta idéia de possibilidades me dá um conforto enorme. Eu não preciso ser tudo o que eu fui, porque eu posso ser melhor do que isso, a partir da minha idéia de criação. Eu quero criar, até mesmo um passado diferente. Como fazê-lo? Vivendo um presente diferente que contradiz o passado, como se tivéssemos escolhido, em tempos atrás, coisas completamente diferentes das quais escolhemos. Como se tudo isso desafiasse nossa própria personalidade. É preciso aceitar o novo. E mais do que isso: a possibilidade do novo. Isso significa ser dono da própria vida. Isso significa abrir os olhos. Aprender com o mundo e saber que é possível recriar todo este mundo. Podemos nos transformar em outras pessoas.
Então, em termos de futuro, eu posso ser o que eu quiser. Não preciso seguir uma única linha. E isso significa dizer que serei tudo. Várias vezes eu já me senti tudo. E todos os dias eu me sinto parte do mundo, parte do todo, ou quem sabe, de tantos mundos, que nós sem sequer supomos. Isso me faz pequena, mas ao tempo grande, que sinto uma plenitude em meu ser.
Se meu pai não tivesse encontrado minha mãe, eu estaria aqui, neste momento?
Até que ponto eu escolho tudo?
Será que numa outra consciência não fui eu que escolhi os meus pais? Será? O que é possível? Possibilidades. Respostas diversas, que nunca vão ser certezas. Nem mesmo a física poderá respondê-las. Nem a psicologia, nem a religião, nem a teologia, nem a filosofia, nem ciência alguma.
E para quem acredita em alma? Prova-se a existência da alma? Prova-se a existência de Deus? Prova-se a existência do amor? Sei que a química e reações que temos com nossas emoções podem ser provadas. Mas o restante não.
Eu escolho acreditar em tudo isso. Criei minha própria realidade? Por que para mim isso é tão verdadeiro e para outras pessoas isso tudo é tão sem importância? Porque são realidades distintas. E minha realidade é fruto de minhas percepções. Então o que realmente existe? Qual a diferença de verdade e realidade? Realidade é experiência. A verdade não conhecemos. Esta conclusão provém da minha realidade ou é verdade? Se eu acredito em tudo o que falei? Eu acredito com todas as minhas forças. Mas a única certeza que tenho é a seguinte: prova-se que nosso cérebro depende de certas químicas, que fazem com que a gente se vicie por elas. Com isso, adquirimos hábitos. Eu quero quebrar todos os meus hábitos e meus vícios. Até o sofrimento é um vício. O amor é um vício. Um casamento infeliz ou feliz. Uma doença. A dependência é o sinônimo de vício. A lucidez, a racionalidade, também pode ser um vício.
Mas a certeza que tenho é esta: mesmo com as químicas, com os hábitos, o futuro me reserva possibilidades, se eu quiser acreditar em algo completamente diferente. Neste ponto eu sou Deus? Não. Jamais pensaria assim. Mas sou dona das minhas escolhas, da minha criação. E ao mesmo tempo, não sou dona de nada, porque sou apenas parte. E sei que há forças maiores no mundo, que conspiram a favor de nossa criação.
Quando penso em Deus, não consigo vê-lo como semelhante, como uma figura humana. Se semelhança existe entre Criador e criatura, posso dizer que significa que Deus nos deu esta capacidade de pensar, como ele o fez, esta tal capacidade de criar.
Não concebo Deus como uma forma. Acho Deus grandioso demais. Mas consigo sentir paz nos lugares onde existe paz. E sei que Deus sonda os meus pensamentos. No entanto, eu não enxergo meus próprios pensamentos, mas sinto. Esta é a minha realidade. Verdade está longe de ser. Afinal, eu não sou Deus. E trago minhas dúvidas como impotência, mas a minha capacidade de fazer alguma diferença como um potencial inesgotável, já que todos somos filhos de Deus, independente de toda e qualquer diferença.
Amo a vida.

• Escritora por vocação e advogada por formação. Paulista por natureza e carioca por estado de espírito. Engenheira de sonhos: alguém em eterna construção. Autora do livro “Traços de Personalidade”

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