Dissabores
* Por Marleuza Machado
O mocinho à mocinha:
-Me dá o número do seu celular!
Ela meio reticente:
-Não. Passa o seu número que te ligo.
Ele insiste:
-Ah, vai, me dá seu número!
Ela, que tem andado muito carente, resolve dar uma chance a ele e a si mesma. Acaba cedendo e passa-lhe o número.
Na primeira semana vários torpedos filosóficos e românticos da parte dele. Ela responde com certa frieza. Ou seria com cautela?
No primeiro sábado, ele liga dizendo que quer vê-la. Ela aceita recebê-lo em casa. Se prepara, como toda mocinha faz, tomando um gostoso banho e se perfumando. Para sua surpresa, ele chega relativamente embriagado. Passara a tarde com amigos, comemorando um aniversário e de lá, sem ao menos um banho, foi direto para a casa dela. Falou do desejo de conhecê-la melhor, de ter um relacionamento. A mocinha que se decepcionara a princípio, se cala. Por estar ainda muito carente, resolve dar mais uma chance a ele e a si mesma. Deixa-o ir, sem nenhuma reclamação. Resolve esperar o decorrer dos acontecimentos.
Na segunda semana outros tantos torpedos românticos da parte dele. Ela responde com delicadeza. Ou seria com algum sentimento?
No sábado ele liga à noite. Aparentemente sóbrio. Quer vê-la. Novamente ela aceita recebê-lo em casa. E mais um vez se prepara, se perfuma. Ele se apresenta com outra postura, conversam, trocam carinhos, falam da vida e do que esperam dela. A mocinha esboça certa felicidade. Constata que foi bom ter dado uma segunda chance a ele e a si mesma. Na saída, uma promessa dele, sem que ela nada tenha pedido:
-Amanhã te ligo.
Na terceira semana, nenhum contato. A mocinha espera. Confere no celular várias vezes ao dia e nada de mensagens novas. Lê as antigas, na esperança de tê-lo mais próximo de si. Até a sexta-feira, nenhum contato. A mocinha dorme com um gosto amargo na boca. O sábado amanhece radiante, com um sol maravilhoso e mil perguntas assolam sua cabecinha. Que terá acontecido ao mocinho para que ele desaparecesse daquela maneira? Por estar ainda muito carente, resolve dar mais uma chance a ele e a si mesma. Passa uma mensagem com uma frase da música "Sozinho", interpretada por Caetano Veloso: "Quando a gente gosta é claro que a gente cuida...". Mal a torpedo é entregue, o celular toca. É o mocinho do outro lado:
-Olá moça, como vai?
Ela responde:
-Bem e você? Sumiu esta semana!
E ele:
-Correria.
Depois de alguma conversa banal ele promete que ligará logo mais e desliga.
No sábado à noite a mocinha espera. Se prepara, se perfuma. As horas passam, o telefone não toca. Ela assiste TV para passar o tempo, mas nem consegue perceber o desenrolar do folhetim das oito. O enredo da sua própria história tira-lhe a concentração e a deixa novamente com um gosto amargo na boca. E é assim que ela vai para a cama. É assim, amarga, que ela acorda para um domingo que parece querer agredi-la com um sol esplendoroso.
* Por Marleuza Machado
O mocinho à mocinha:
-Me dá o número do seu celular!
Ela meio reticente:
-Não. Passa o seu número que te ligo.
Ele insiste:
-Ah, vai, me dá seu número!
Ela, que tem andado muito carente, resolve dar uma chance a ele e a si mesma. Acaba cedendo e passa-lhe o número.
Na primeira semana vários torpedos filosóficos e românticos da parte dele. Ela responde com certa frieza. Ou seria com cautela?
No primeiro sábado, ele liga dizendo que quer vê-la. Ela aceita recebê-lo em casa. Se prepara, como toda mocinha faz, tomando um gostoso banho e se perfumando. Para sua surpresa, ele chega relativamente embriagado. Passara a tarde com amigos, comemorando um aniversário e de lá, sem ao menos um banho, foi direto para a casa dela. Falou do desejo de conhecê-la melhor, de ter um relacionamento. A mocinha que se decepcionara a princípio, se cala. Por estar ainda muito carente, resolve dar mais uma chance a ele e a si mesma. Deixa-o ir, sem nenhuma reclamação. Resolve esperar o decorrer dos acontecimentos.
Na segunda semana outros tantos torpedos românticos da parte dele. Ela responde com delicadeza. Ou seria com algum sentimento?
No sábado ele liga à noite. Aparentemente sóbrio. Quer vê-la. Novamente ela aceita recebê-lo em casa. E mais um vez se prepara, se perfuma. Ele se apresenta com outra postura, conversam, trocam carinhos, falam da vida e do que esperam dela. A mocinha esboça certa felicidade. Constata que foi bom ter dado uma segunda chance a ele e a si mesma. Na saída, uma promessa dele, sem que ela nada tenha pedido:
-Amanhã te ligo.
Na terceira semana, nenhum contato. A mocinha espera. Confere no celular várias vezes ao dia e nada de mensagens novas. Lê as antigas, na esperança de tê-lo mais próximo de si. Até a sexta-feira, nenhum contato. A mocinha dorme com um gosto amargo na boca. O sábado amanhece radiante, com um sol maravilhoso e mil perguntas assolam sua cabecinha. Que terá acontecido ao mocinho para que ele desaparecesse daquela maneira? Por estar ainda muito carente, resolve dar mais uma chance a ele e a si mesma. Passa uma mensagem com uma frase da música "Sozinho", interpretada por Caetano Veloso: "Quando a gente gosta é claro que a gente cuida...". Mal a torpedo é entregue, o celular toca. É o mocinho do outro lado:
-Olá moça, como vai?
Ela responde:
-Bem e você? Sumiu esta semana!
E ele:
-Correria.
Depois de alguma conversa banal ele promete que ligará logo mais e desliga.
No sábado à noite a mocinha espera. Se prepara, se perfuma. As horas passam, o telefone não toca. Ela assiste TV para passar o tempo, mas nem consegue perceber o desenrolar do folhetim das oito. O enredo da sua própria história tira-lhe a concentração e a deixa novamente com um gosto amargo na boca. E é assim que ela vai para a cama. É assim, amarga, que ela acorda para um domingo que parece querer agredi-la com um sol esplendoroso.
"Na história do poeta
A menina acreditou
E dos olhos da menina
Uma lágrima rolou". (Roberto Carlos em "A Menina e o Poeta")
• Poetisa e jornalista
A menina acreditou
E dos olhos da menina
Uma lágrima rolou". (Roberto Carlos em "A Menina e o Poeta")
• Poetisa e jornalista
Ah, essas mulheres românticas, vendo sentimento onde só tem um mero joguinho. A vontade de ter o que não existe levou a mocinha a imaginar coisas. O nome disso: nela, ingenuidade; nele, covardia.
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