De repente
* Por Pedro J. Bondaczuk
De repente
caminho sozinho na rua,
embriagado de ternura e
de rum dos mais baratos.
Tagarelo com a lua,
cães ladram à minha passagem,
piso infinidade de estrelas,
navego num mar sem ondas.
De repente
retrocedo nas vias do tempo,
volto a ser menino,
futuro estampado na testa,
todo cheio de promessas
e mil tarefas a cumprir.
De repente
uma lágrima furtiva
trai os meus sentimentos
e grita, indiscreta, ao mundo
meu primeiro fracasso de amor.
De repente
estou numa encruzilhada,
numa estrada que parece reta,
sem saber para onde ir.
Sem placas indicativas,
sem que haja sequer seta
a indicar-me o destino,
o lugar a que quero chegar.
De repente
sinto-me enleado em seus braços
ardendo, me consumindo,
em imensa, avassaladora, voraz
fogueira de volúpia e paixão.
O côncavo enlaçando o convexo,
o êxtase oriundo do sexo
e o repouso da satisfação.
De repente,
vacilante e trôpego,
Atlas beirando a exaustão,
num cansaço profundo
por suportar nos ombros
todo o peso do mundo,
recito o Evangelho,
estou vazio e infecundo.
assumo a idade: estou velho!
De repente
estou no limiar do infinito
e num esforço ingente
solto abafado grito
que ecoa no infinito,
mas ninguém ouve ou sente.
A jornada está cumprida,
estou nos limites da vida
onde cheguei sem notar,
como num piscar de olhos,
lesto (e molesto), tão súbito:
não mais que de repente...
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
* Por Pedro J. Bondaczuk
De repente
caminho sozinho na rua,
embriagado de ternura e
de rum dos mais baratos.
Tagarelo com a lua,
cães ladram à minha passagem,
piso infinidade de estrelas,
navego num mar sem ondas.
De repente
retrocedo nas vias do tempo,
volto a ser menino,
futuro estampado na testa,
todo cheio de promessas
e mil tarefas a cumprir.
De repente
uma lágrima furtiva
trai os meus sentimentos
e grita, indiscreta, ao mundo
meu primeiro fracasso de amor.
De repente
estou numa encruzilhada,
numa estrada que parece reta,
sem saber para onde ir.
Sem placas indicativas,
sem que haja sequer seta
a indicar-me o destino,
o lugar a que quero chegar.
De repente
sinto-me enleado em seus braços
ardendo, me consumindo,
em imensa, avassaladora, voraz
fogueira de volúpia e paixão.
O côncavo enlaçando o convexo,
o êxtase oriundo do sexo
e o repouso da satisfação.
De repente,
vacilante e trôpego,
Atlas beirando a exaustão,
num cansaço profundo
por suportar nos ombros
todo o peso do mundo,
recito o Evangelho,
estou vazio e infecundo.
assumo a idade: estou velho!
De repente
estou no limiar do infinito
e num esforço ingente
solto abafado grito
que ecoa no infinito,
mas ninguém ouve ou sente.
A jornada está cumprida,
estou nos limites da vida
onde cheguei sem notar,
como num piscar de olhos,
lesto (e molesto), tão súbito:
não mais que de repente...
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
De repente com o meu tempo sendo consumido
ResponderExcluirsegundo por segundo, paro...e aqui me perco
nessa linda poesia.
Parabéns Pedro.
Abraços
A vida, vista dessa forma parece que ocorreu num instante, Pedro. E você sabe que não foi assim. O álcool do rum serviu de combustível para essa viagem ao passado e a tomada de consciência de que o tempo passou. E ainda bem que passou. Estar velho é privilégio quando a viagem foi profícua. Muitos não chegaram até aqui.
ResponderExcluir