terça-feira, 27 de setembro de 2011







Terra mulher

* Por Talis Andrade


Encosta o ouvido
no morno ventre
da Mãe Terra.
Interpreta os sons
que vêm de suas entranhas:
os mais doloridos lamentos,
as mais recônditas vozes
de conspirações
e conluios malditos.
Se apurares
os endurecidos ouvidos
auscultarás cantos e acalantos.
Se as entranhas da Mãe Terra
abrem-se em tremores,
vertendo cinza e lava,
podem, generosamente,
manar a seiva de inebriantes flores,
e paradisíacos rios de leite e mel.

A terra é mulher. Sempre.
Se queres sentir
o cheiro fresco do verde,
o doce gosto de chuva.
Se teu sexo anseia
arranhar-lhe o ventre,
arando a vida -
se tuas mãos
cavar-lhe o útero
onde a semente
será jogada,
onde a semente
encontrará abrigo.

Sejas amiga. Sejas amigo. Sempre.
Porque quando teu corpo
não mais te servir,
a Terra Mãe te desobrigará
de tão enfadonha
pesada carga.


* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).

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