Relatos literais – Viajar na maionese
* Por Marcelo Sguassábia
Duvido que você conheça alguém que tenha ido até lá e não tenha voltado cheio de histórias fantásticas para contar. Coqueluche do mercado turístico brasileiro e internacional, a chamada Costa da Maionese vem atraindo, com seus deslumbrantes encantos, um número cada vez maior de veranistas mineiros, gaúchos, amazonenses e polinésios.
Nossa equipe de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas decidiu conferir de perto, quilômetro a quilômetro, toda a adrenalina desta espetacular aventura.
Como seria de se prever, durante o percurso o veículo apresentou dirigibilidade comprometida e comportou-se como se estivesse num rinque de patinação. Além da falta de agarre dos pneus e da instabilidade na suspensão, o atrito constante com o creme interferiu na aerodinâmica, efeito que tornou-se mais intenso à medida em que aumentávamos a velocidade. Mas não se impressione: em pouco tempo você se habitua às condições da pista e ganha confiança suficiente para transportar as crianças, a sogra e até um boitatá de porte médio no banco de trás.
O ideal é encarar inteiramente nu o trajeto, dispensando inclusive a sunga, sob pena de engordurar suas peças de roupa a ponto de torná-las imprestáveis. Recomendamos unir o útil ao agradável, permitindo que a oleosidade da maionese tenha efeito de protetor solar na pele.
Sentir-se untado dos pés à cabeça é sem dúvida uma sensação indescritível, talvez só superada pelas cócegas na região axilar. A empreitada é realmente divertida, mas nem tudo é um mar de Hellmann's. Um vidro um pouquinho aberto em uma das janelas pode ser o bastante para a entrada de salmonelas, o que significa parada obrigatória antes do próximo pedágio. E às pressas, à beira do acostamento mesmo - como de fato veio a acontecer com o nosso repórter, que encontra-se até hoje em observação na UTI do Hospital Sacré Couer, sem previsão de alta.
À parte estes poucos e eventuais dissabores, viajar na maionese costuma ser uma deliciosa experiência. Entregue-se ao deleite de observar de perto e fotografar o suco de limão misturando-se às gemas de ovos e aos óleos vegetais, em lustrosa e inesquecível homegeneidade, até dar ponto turístico. O fenômeno lembra, de certa forma e guardadas as devidas proporções, a pororoca amazônica. Passeie despreocupadamente a bordo de facas, garfos, colheres e outros utensílios autopropulsores, em companhia da família, provando de todas as variantes possíveis dessa iguaria culinária: a maionese de casamento, a de Natal e ano novo, a de atum com a manjadíssima rosa feita de pele de tomate e até a vegan, que tem de tudo menos maionese de verdade.
Quanto a opções de hospedagem, fique tranqüilo: ao longo de todo o trajeto espalha-se uma extensa rede hoteleira, com guias e roteiros customizados para os mais diversos gostos e paladares. Aproveite até o último bocado. E lembre-se: uma vez de volta ao ponto de origem, feche bem o pote e conserve-o sob refrigeração, observando o prazo de validade do produto.
• Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: www.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) www.letraeme.blogspot.com (portfólio)
* Por Marcelo Sguassábia
Duvido que você conheça alguém que tenha ido até lá e não tenha voltado cheio de histórias fantásticas para contar. Coqueluche do mercado turístico brasileiro e internacional, a chamada Costa da Maionese vem atraindo, com seus deslumbrantes encantos, um número cada vez maior de veranistas mineiros, gaúchos, amazonenses e polinésios.
Nossa equipe de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas decidiu conferir de perto, quilômetro a quilômetro, toda a adrenalina desta espetacular aventura.
Como seria de se prever, durante o percurso o veículo apresentou dirigibilidade comprometida e comportou-se como se estivesse num rinque de patinação. Além da falta de agarre dos pneus e da instabilidade na suspensão, o atrito constante com o creme interferiu na aerodinâmica, efeito que tornou-se mais intenso à medida em que aumentávamos a velocidade. Mas não se impressione: em pouco tempo você se habitua às condições da pista e ganha confiança suficiente para transportar as crianças, a sogra e até um boitatá de porte médio no banco de trás.
O ideal é encarar inteiramente nu o trajeto, dispensando inclusive a sunga, sob pena de engordurar suas peças de roupa a ponto de torná-las imprestáveis. Recomendamos unir o útil ao agradável, permitindo que a oleosidade da maionese tenha efeito de protetor solar na pele.
Sentir-se untado dos pés à cabeça é sem dúvida uma sensação indescritível, talvez só superada pelas cócegas na região axilar. A empreitada é realmente divertida, mas nem tudo é um mar de Hellmann's. Um vidro um pouquinho aberto em uma das janelas pode ser o bastante para a entrada de salmonelas, o que significa parada obrigatória antes do próximo pedágio. E às pressas, à beira do acostamento mesmo - como de fato veio a acontecer com o nosso repórter, que encontra-se até hoje em observação na UTI do Hospital Sacré Couer, sem previsão de alta.
À parte estes poucos e eventuais dissabores, viajar na maionese costuma ser uma deliciosa experiência. Entregue-se ao deleite de observar de perto e fotografar o suco de limão misturando-se às gemas de ovos e aos óleos vegetais, em lustrosa e inesquecível homegeneidade, até dar ponto turístico. O fenômeno lembra, de certa forma e guardadas as devidas proporções, a pororoca amazônica. Passeie despreocupadamente a bordo de facas, garfos, colheres e outros utensílios autopropulsores, em companhia da família, provando de todas as variantes possíveis dessa iguaria culinária: a maionese de casamento, a de Natal e ano novo, a de atum com a manjadíssima rosa feita de pele de tomate e até a vegan, que tem de tudo menos maionese de verdade.
Quanto a opções de hospedagem, fique tranqüilo: ao longo de todo o trajeto espalha-se uma extensa rede hoteleira, com guias e roteiros customizados para os mais diversos gostos e paladares. Aproveite até o último bocado. E lembre-se: uma vez de volta ao ponto de origem, feche bem o pote e conserve-o sob refrigeração, observando o prazo de validade do produto.
• Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: www.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) www.letraeme.blogspot.com (portfólio)
A viagem na maionese foi completa, pois até a receita tradicional está na tela. Gosto muito, mas pena que não posso mais comê-la. Faz tanto tempo que nem me lembro do gosto. São os ditames da medicina do terror.Pelo menos posso curtir dessa engraçada viagem com alguns sorrisos e sem o risco de passar mal.
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