quarta-feira, 21 de setembro de 2011







Destaque brasileño libre! (software e TV digital)

* Por Victor Caglioni

Nos dias 8 e 9 de Setembro de 2011, esteve presente na Conferencia Internacional de Software Livre, em Buenos Aires, Argentina, Richard Stallmann, o norte-americano que é criador do sistema operacional livre GNU, que ficou conhecido pelo nome Linux (aquele do desenho de pingüim!), devido ao núcleo operativo criado pelo finlandês Linus Torvalds, que é parte fundamental para que o sistema GNU possa “rodar” em nossas máquinas. Ambos softwares de código aberto,softwares livres.
A característica fundamental para propagarmos softwares livres é o fato de que seu código fonte é aberto a todos, em palavras populares poderíamos dizer que o código fonte é como sua fórmula (daquele remédio, ou refrigerante famoso) ou mesmo seu genoma e que está disponível para propagação e alteração de forma livre. Isso implica, entre muitas coisas em milhões de dólares a menos em pagamentos de licenças e no incentivo de desenvolvedores tecnológicos compromissados politicamente com a arte de “compartir”.
Richard Stalmann chegou ao evento e foi ovacionado pelo público, que o vê como um dos homens mais corajosos do mundo, devido sua explícita “briga” contra os sistemas privados de computação, destaques para produtos da sua arquiinimiga Microsoft. Ele é um “tipo” nada convencional, não faz o estereótipo habitual no mundo da informática, dos certinhos que se adaptam ao maravilhoso mundo das finanças globalizadas.
De cabelos compridos e uma barba por fazer já grisalha, vestido com uma camisa xadrez simples, calças de pano parecidas com aquelas que podemos comprar em centros populares de consumo, Stallmann tirou os sapatos, ficou apenas de meia e falou num espanhol muito claro.(Mais compreensível que dos próprios porteños, para sermos sinceros). Stallmann sempre defende o uso de software livre por todos, e destaca a importância dos governos de fazerem uso de sistemas livres na administração pública e nas escolas, economizando recursos com licença, que não são poucos, para supostamente aplicá-los em necessidades humanas de verdadeira urgência.
Entre muitas coisas que destacou, Stallmann elogiou o governo argentino pela escolha da adoção pelo Sistema Brasileiro de Televisão digital, que trabalha com softwares livres (entre eles o GINGA, criado pela UFRJ e Unicamp, entre outras instituições brasileiras e que está sendo adaptado pela Universidad Nacional de La Plata, Argentina). Ele também criticou o governo argentino por seguir distribuindo computadores com o Windows, embora reconheça que as máquinas também chegam com o Ubunto, que também possui software pago, mas que é melhor que o Windows segundo ele, e que se trata de um ótimo programa social, porém falho em seu nascimento, por esse detalhe privativo.
Como autoridade e líder de um movimento político mundial, disse com todas as letras que considera a posição do Brasil para com os sistemas de softwares livres a mais importante no mundo atualmente, devido a sua dimensão enquanto país, e o uso que o governo está fazendo em relação a esse respeito, através da implantação progressiva na administração pública federal e nos programas de educação e saúde, com sistemas operacionais livres, como o GNU/Linux, também por ter barrado o projeto de lei sobre internet, que previa o controle total das informações pelos provedores e órgãos governamentais, alertou a platéia sobre o perigo que corre o mundo com esse tipo de dispositivo jurídico, fazendo menção ao caso chinês, que ele considera o mais próximo da obra “1984” (George Orwell) que o mundo já presenciou.
Segundo ele, a internet na China é como o mais doce sonho de Stalin. Usou como exemplo também, a arbitrariedade que a tal da liberdade privativa e governamental que impera hoje no mundo, atua sobre forma de ditadura ideológica e de opressão a movimentos em prol das liberdades humanas, como a repressão e prisão de manifestantes pelo governo inglês, através de redes sociais, nos últimos protestos em Londres, e mesmo o monitoramento de computadores, celulares e demais dispositivos com acesso à internet e rede telefônica, através de chips, pelos serviços de inteligência de atuação internacional.
Destacamos ainda, que Stallmann ressaltou que o SBTVD (Sistema Brasileiro de Televisão Digital) é, segundo ele, o melhor sistema de transmissão, com o maior número de possibilidades de desenvolvimento econômico, tecnológico e democrático existente atualmente no mundo. Destacou que se não fosse o sistema criado pelos brasileiros, sob a plataforma japonesa, países como Uruguai, Bolívia, Peru e Venezuela teriam grandes dificuldades de implantar a TV digital, e países como Argentina e Chile, agora, têm a possibilidade de implantá-lo de forma mais justa e economizando milhares de recursos importantes.
Stallmann revelou que o Ginga, embora ainda não tenha sido usado em sua capacidade total, é por ele considerado a “cara” dos brasileiros, “adaptável, bonito, prático e amante da liberdade”.Sugeriu que a América do Sul deva liderar um movimento de expansão desse padrão para África, alguns países centro-americanos e demais países do mundo que ainda não possuem TV digital, para que adotem o SBTVD.
Ao término dessa conferencia, onde nós, participantes, dividíamos o mesmo lugar com empresários e técnicos de todo mundo, de empresas como Intel e HP, podemos considerar que apesar dos gigantescos desafios que nosso Brasil tem a enfrentar (inclusive seu próprio manejo com as telecomunicações) possuímos um potencial humano ainda mais admirado mundo afora.Isso nos faz lembrar do tempo em que nas escolas se estudava sobre o Brasil ser o país do futuro, por causa dos seus recursos naturais etc.
Hoje é possível a nós, brasileiros, ouvirmos um discurso com um tom muito diferente, ouvir de um líder mundial de tecnologia, uma espécie de Gandhi da tecnologia, que nós. Brasileiros, merecemos destaque por exportar tecnologia, no mínimo deve servir para estarmos atentos ao desenvolvimento de nossas potencialidades.
Ainda bem que alguns “bad gurus”, a cada dia, erram mais suas previsões em relação ao sul. Que o diga o criador de um sistema que tem o nome de um mamífero (uma espécie de boi-cavalo) originário do continente africano e que é capaz de enfrentar guepardos, leões e hienas. Alguém duvida sobre o papel de cada qual nesse jogo? Definitivamente, não somos as hienas, embora sejamos mais sorridentes. Ttalvez seja por causa da nossa proximidade com o simpático pingüim. Aliás, a Patagônia/Antártica e a África ficam logo ali...
“Se num primeiro momento a idéia não é absurda, então há esperança para ela" (Albert Einstein).

• Jornalista

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