Santa maluquice!
Os ideais são (e devem ser sempre) permanentes. Tanto os do indivíduo, quanto os da comunidade em que ele está inserido. São os casos da igualdade, da solidariedade, da fraternidade e da justiça, entre outros, conceitos que, se bem entendidos e, sobretudo, aplicados, transformariam por si sós o Planeta em um lugar aprazível para se viver.
Desde que o homem tomou consciência do que era e de onde estava, acalenta esses ideais. Todavia, entra geração, sai geração, eles continuam mais no plano dos devaneios (se não exclusivamente nele) do que no terreno das ações efetivas. Há, infelizmente, milhões e milhões de pessoas, mundo afora, que nem mesmo divagam a propósito. Levam vidas medíocres, mesquinhas, cinzentas e egoístas, alienadas de tudo o que ocorre ao seu redor.
Tendemos, ao analisar o panorama do nosso tempo, a generalizar e a declarar – sem nos darmos conta da estupidez de uma generalização, notadamente dessa – que os ideais ou estão em declínio ou que, mesmo, se extinguiram. Como podemos saber isso? Afinal, desconhecemos o que os outros pensam. É impossível (creio que felizmente) ler pensamentos.
O austríaco Peter Handke escreveu: "Existe como que uma falta que se instala (em nossa vida). Mas é preciso ter o desejo. O desejo de redenção, de libertação. Se a gente não tem isso, acho que não se pode escrever". Eu diria que não se pode viver. No caso, ele refere-se, especificamente, aos escritores, ou seja, à sua atividade. O raciocínio, todavia, vale para toda e qualquer pessoa.
Mas é necessário ter-se em mente a possibilidade (diria, até, probabilidade) de não conseguirmos alcançar o que tanto desejamos. É quase certo que o resultado desse fracasso é a frustração. E temos que saber como lidar com ela. A maioria não sabe. Eu, provavelmente, não sei. Não posso afirmar o mesmo em relação a você, caro leitor, pois não estou em sua mente. Alguns, possivelmente, saibam. A maioria, porém (pelo menos é o que presumo, baseado na observação), certamente que não.
Temos que entender que não passamos de pequeno elo de imensa corrente surgida quando do aparecimento do primeiro indivíduo inteligente da nossa espécie sobre a Terra e cujo final é impossível de vislumbrar na sucessão de gerações. Pode ser que o ser humano desapareça do Planeta, sem nem mesmo deixar vestígios, em um século, em uma década, em um ano, em um mês ou no final deste dia. Isso talvez não esteja no terreno da probabilidade. Mas, com certeza, está no da possibilidade. Remotíssima? Apenas remota? Imediata? Não sei! É impossível saber.
Tempos atrás, escrevi, em uma crônica: “O homem, neste século, mais especificamente neste início de milênio, parece ter perdido a sua velocidade para cima. Não, evidentemente, no aspecto literal. Afinal, foi nesse período de 105 anos (hoje já é de 111 anos) que desenvolveu um veículo mais pesado do que o ar, hoje um meio de transporte corriqueiro, que lhe possibilitou voar como os pássaros”.
Mais adiante, referindo-me ao atual período, notadamente o que vai da segunda metade do século XX aos dias atuais, observei: “Também foi nele (nesse espaço de tempo citado) que o homem ultrapassou os limites do Planeta e passeou na Lua, deixando impressas no solo lunar as marcas de sua pegada”. Há muitas pessoas, muitas mesmo, que duvidam que as tais aventuras lunares norte-americanas tenham mesmo ocorrido. Garantem que tudo não passou de enorme farsa, da “maior mentira de todos os tempos”. Há, internet afora, inúmeros sites que apresentam argumentos até bastante lógicos para contestar a tal conquista da Lua. São tão convincentes que, quando os leio, chego a balançar em minhas convicções e a duvidar também.
Na sequência da referida crônica, escrevi: “O que (o homem) de fato perdeu foi a noção de ideal. Abriu mão de um sentido mais grandioso para a vida e da tentativa de encontrar uma explicação para a sua origem e destino. Tornou-se ferozmente materialista, escravo da alta tecnologia, em detrimento do desenvolvimento espiritual. Amesquinhou-se. Robotizou-se. Perdeu a rota do seu destino”. Esta minha afirmação peremptória tem um grave defeito: o da generalização. Hoje eu não afirmaria que “o homem perdeu a noção do ideal”. Diria, sim, que “alguns” perderam-na. Quantos? Sei lá! Ninguém sabe. Mas há, ainda, para a nossa felicidade, muitos idealistas que, literalmente, crêem em um mundo ideal.
O poeta Vinícius de Moraes, na letra de uma de suas tantas e memoráveis canções, que coleciono como poemas que de fato são, expressou sua visão de como gostaria (e que ademais todos nós gostaríamos) que o Planeta fosse. Leiam estes versos singelos (além de sensíveis e inteligentes) e digam se vocês não gostariam que as coisas, os relacionamentos, fossem assim.
Ai, quem me dera
Ai, quem me dera terminasse a espera
retornasse o canto simples e sem fim,
e ouvindo o canto se chorasse tanto
que do mundo, o pranto, se estancasse, enfim.
Ai, quem me dera ver morrer a fera,
ver nascer o anjo, ver brotar a flor.
ai, quem me dera uma manhã feliz.
Ai quem me dera uma estação de amor.
Ah, se as pessoas se tornassem boas
e cantassem loas, e tivessem paz,
e pelas ruas se abraçassem nuas
e duas a duas fossem casais.
Ai, quem me dera ao som de madrigais
ver todo mundo para sempre afim,
e a liberdade nunca ser demais,
e não haver mais solidão ruim.
Ai, quem me dera ouvir o nunca mais,
dizer que a vida vai ser sempre assim,
e, finda a espera, ouvir na primavera
alguém chamar por mim.
Leram? Concordaram? Fizeram restrições? Há muita, muitíssima gente que não somente aspira um mundo dessa forma (posto que nenhuma saiba expressar esse desejo com tamanha graça e beleza), mas que também “age” nesse sentido. É verdade que esses abnegados são encarados da mesma forma que o personagem de Cervantes, Dom Quixote de La Mancha. São tidos e havidos como alienados, como sonhadores, como ingênuos, como inocentes, quando não como rematados malucos. Santa maluquice!
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Os ideais são (e devem ser sempre) permanentes. Tanto os do indivíduo, quanto os da comunidade em que ele está inserido. São os casos da igualdade, da solidariedade, da fraternidade e da justiça, entre outros, conceitos que, se bem entendidos e, sobretudo, aplicados, transformariam por si sós o Planeta em um lugar aprazível para se viver.
Desde que o homem tomou consciência do que era e de onde estava, acalenta esses ideais. Todavia, entra geração, sai geração, eles continuam mais no plano dos devaneios (se não exclusivamente nele) do que no terreno das ações efetivas. Há, infelizmente, milhões e milhões de pessoas, mundo afora, que nem mesmo divagam a propósito. Levam vidas medíocres, mesquinhas, cinzentas e egoístas, alienadas de tudo o que ocorre ao seu redor.
Tendemos, ao analisar o panorama do nosso tempo, a generalizar e a declarar – sem nos darmos conta da estupidez de uma generalização, notadamente dessa – que os ideais ou estão em declínio ou que, mesmo, se extinguiram. Como podemos saber isso? Afinal, desconhecemos o que os outros pensam. É impossível (creio que felizmente) ler pensamentos.
O austríaco Peter Handke escreveu: "Existe como que uma falta que se instala (em nossa vida). Mas é preciso ter o desejo. O desejo de redenção, de libertação. Se a gente não tem isso, acho que não se pode escrever". Eu diria que não se pode viver. No caso, ele refere-se, especificamente, aos escritores, ou seja, à sua atividade. O raciocínio, todavia, vale para toda e qualquer pessoa.
Mas é necessário ter-se em mente a possibilidade (diria, até, probabilidade) de não conseguirmos alcançar o que tanto desejamos. É quase certo que o resultado desse fracasso é a frustração. E temos que saber como lidar com ela. A maioria não sabe. Eu, provavelmente, não sei. Não posso afirmar o mesmo em relação a você, caro leitor, pois não estou em sua mente. Alguns, possivelmente, saibam. A maioria, porém (pelo menos é o que presumo, baseado na observação), certamente que não.
Temos que entender que não passamos de pequeno elo de imensa corrente surgida quando do aparecimento do primeiro indivíduo inteligente da nossa espécie sobre a Terra e cujo final é impossível de vislumbrar na sucessão de gerações. Pode ser que o ser humano desapareça do Planeta, sem nem mesmo deixar vestígios, em um século, em uma década, em um ano, em um mês ou no final deste dia. Isso talvez não esteja no terreno da probabilidade. Mas, com certeza, está no da possibilidade. Remotíssima? Apenas remota? Imediata? Não sei! É impossível saber.
Tempos atrás, escrevi, em uma crônica: “O homem, neste século, mais especificamente neste início de milênio, parece ter perdido a sua velocidade para cima. Não, evidentemente, no aspecto literal. Afinal, foi nesse período de 105 anos (hoje já é de 111 anos) que desenvolveu um veículo mais pesado do que o ar, hoje um meio de transporte corriqueiro, que lhe possibilitou voar como os pássaros”.
Mais adiante, referindo-me ao atual período, notadamente o que vai da segunda metade do século XX aos dias atuais, observei: “Também foi nele (nesse espaço de tempo citado) que o homem ultrapassou os limites do Planeta e passeou na Lua, deixando impressas no solo lunar as marcas de sua pegada”. Há muitas pessoas, muitas mesmo, que duvidam que as tais aventuras lunares norte-americanas tenham mesmo ocorrido. Garantem que tudo não passou de enorme farsa, da “maior mentira de todos os tempos”. Há, internet afora, inúmeros sites que apresentam argumentos até bastante lógicos para contestar a tal conquista da Lua. São tão convincentes que, quando os leio, chego a balançar em minhas convicções e a duvidar também.
Na sequência da referida crônica, escrevi: “O que (o homem) de fato perdeu foi a noção de ideal. Abriu mão de um sentido mais grandioso para a vida e da tentativa de encontrar uma explicação para a sua origem e destino. Tornou-se ferozmente materialista, escravo da alta tecnologia, em detrimento do desenvolvimento espiritual. Amesquinhou-se. Robotizou-se. Perdeu a rota do seu destino”. Esta minha afirmação peremptória tem um grave defeito: o da generalização. Hoje eu não afirmaria que “o homem perdeu a noção do ideal”. Diria, sim, que “alguns” perderam-na. Quantos? Sei lá! Ninguém sabe. Mas há, ainda, para a nossa felicidade, muitos idealistas que, literalmente, crêem em um mundo ideal.
O poeta Vinícius de Moraes, na letra de uma de suas tantas e memoráveis canções, que coleciono como poemas que de fato são, expressou sua visão de como gostaria (e que ademais todos nós gostaríamos) que o Planeta fosse. Leiam estes versos singelos (além de sensíveis e inteligentes) e digam se vocês não gostariam que as coisas, os relacionamentos, fossem assim.
Ai, quem me dera
Ai, quem me dera terminasse a espera
retornasse o canto simples e sem fim,
e ouvindo o canto se chorasse tanto
que do mundo, o pranto, se estancasse, enfim.
Ai, quem me dera ver morrer a fera,
ver nascer o anjo, ver brotar a flor.
ai, quem me dera uma manhã feliz.
Ai quem me dera uma estação de amor.
Ah, se as pessoas se tornassem boas
e cantassem loas, e tivessem paz,
e pelas ruas se abraçassem nuas
e duas a duas fossem casais.
Ai, quem me dera ao som de madrigais
ver todo mundo para sempre afim,
e a liberdade nunca ser demais,
e não haver mais solidão ruim.
Ai, quem me dera ouvir o nunca mais,
dizer que a vida vai ser sempre assim,
e, finda a espera, ouvir na primavera
alguém chamar por mim.
Leram? Concordaram? Fizeram restrições? Há muita, muitíssima gente que não somente aspira um mundo dessa forma (posto que nenhuma saiba expressar esse desejo com tamanha graça e beleza), mas que também “age” nesse sentido. É verdade que esses abnegados são encarados da mesma forma que o personagem de Cervantes, Dom Quixote de La Mancha. São tidos e havidos como alienados, como sonhadores, como ingênuos, como inocentes, quando não como rematados malucos. Santa maluquice!
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
É uma tranquilidade ler que os poetas tornaram-se nosso porta-voz. Quantas coisas diríamos e já teve alguém para dizer. É por isso que devemos ler, para contabilizarmos como possibilidade os pensamentos alheios.
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