Os últimos soldados da Guerra Fria
* Por Marco Albertim
* Por Marco Albertim
Dir-se-ia um best-seller com fins meramente comerciais, visto a aura de épico que dele emana. O título é do último livro de Fernando Morais, tão épico quanto a sequência de episódios que marca a narrativa. Sequência recheada com nomes, datas e fatos cuja interpretação o autor deixa por conta do leitor. Bem que o escritor poderia fazer uso de clichês anti-imperialistas; mas optou pela captura da raivosa ideologia de cubanos incrustados em organizações anticastristas, sediadas em Miami.
Aos desavisados, nas primeiras páginas René González é apenas um oficial desertor do Exército cubano; inda que militante do Partido Comunista e veterano da guerra de Angola, junto ao MPLA. Fugira num Antonov, fabricação russa, voando em zigue-zague para driblar a detecção dos radares. Aterrissou na Flórida, informando pelo rádio que “Em Cuba falta luz, falta comida, até a batata e o arroz estão racionados...”
Aos olhos de seu irmão, Roberto, e de sua esposa, Olga, René se tornara um gusano – verme. Irma, a mãe de René, e o operário Esmerejildo, pai de Olga, ambos veteranos comunistas, agora sem saber o que dizer, desolados.
A próxima defecção não seria menos dolorosa, por tratar-se do major das Forças Armadas Revolucionárias, Juan Pablo Roque, 36 anos, dois a mais que René. Fugira para Guantánamo, a base naval norte-americana. “Soy cubano! Estoy desertando! – explica aos recrutas fardados que apontam os fuzis para ele.
Em seguida, Gerardo Hernández dá as costas à carreira diplomática, e deixa Cuba com identidade de porto-riquenho; torna-se Manuel Viramóntez.
Frequentes são as incursões de aviões de pequeno porte, decolados de Miami, ao território de Cuba. Panfletos incitam revoltas anticastristas, ensinam a sabotar as plantações de cana. René é um dos pilotos. Os atentados a bomba são simultâneos. Nos folhetos, diz-se: “A opinião pública internacional precisa saber que é mais seguro fazer turismo na Bósnia-Herzegovina do que em Cuba.” O mentor é José Basulto, chefe da Hermanos al Resgate, e treinado pela CIA. Juan Pablo, àquela altura, deixara-se contratar como piloto de Basulto.
Em 1995, treze cubanos estão na Flórida oriundos de Cuba. Olga, em casa, é procurada por funcionários do Ministério do Interior. “Seu marido não é desertor! Está a serviço do DSE para pôr fim aos atentados contra Cuba.” Os treze falsos desertores formam a Rede Vespa. Tão somente Fidel Castro e uns poucos chefes da cúpula do governo sabem do trabalho deles. Nilo Hernandez e sua mulher, Linda, observam as atividades do grupo terrorista Alpha 66. Ramón Labañino, economista e capitão do Exército, vigia Orlando Bosch, outro chefe das ações terroristas. Os outros cubanos são Fernando González, Alberto Manuel, Ricardo Vilarreal, Remigio Luna, Antonio Guerrero, Alejandro Alonso, Joseph Santos e Amarilys Silvério, todos com identidades trocadas.
Farta munição, fuzis e metralhadoras são apreendidos depois de contrabandeados para Cuba; com base nas informações obtidas pela Rede Vespa. A tensão sobe quando dois Cessnas, no espaço aéreo de Cuba, são destruídos por um MIG pilotado por um cubano. “Está destruído! Pátria ou morte, caralho!” – sentencia o piloto.
José Basulto, a bordo de outro Cessa, tem um surto de riso histérico.
As provocações seguem com explosões em hotéis de Havana. É preso o mercenário Cruz León, salvadorenho de 26 anos; a serviço de Posadas Carriles, terrorista com vasto currículo de atentados, incluindo um avião com 72 pessoas. León é sentenciado ao fuzilamento, mas a pena é comutada para trinta anos de prisão.
Descobertos pelo FBI, são condenados. Alejandro Alonso, os casais Linda-Nilo Hernández e Amarilys-Joseph Santos fazem acordo de delação premiada. Não se tem notícia deles até hoje. Gerardo e René, Ramón Libañino e Tony Guerrero e Fernando Gonzáles já amargam 13 anos de cadeia.
O piloto Juan Pablo Roque está em Cuba, aposentado, posto que fora chamado de volta. Roque casara-se com uma norte-americana, com direito a ruidosa festa; oferecera a autobiografia de “desertor” a uma editora.
O parlamento de Cuba outorgou aos cinco o título de Heróis da República de Cuba.
*Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem dois livros de contos e um romance.
Aos desavisados, nas primeiras páginas René González é apenas um oficial desertor do Exército cubano; inda que militante do Partido Comunista e veterano da guerra de Angola, junto ao MPLA. Fugira num Antonov, fabricação russa, voando em zigue-zague para driblar a detecção dos radares. Aterrissou na Flórida, informando pelo rádio que “Em Cuba falta luz, falta comida, até a batata e o arroz estão racionados...”
Aos olhos de seu irmão, Roberto, e de sua esposa, Olga, René se tornara um gusano – verme. Irma, a mãe de René, e o operário Esmerejildo, pai de Olga, ambos veteranos comunistas, agora sem saber o que dizer, desolados.
A próxima defecção não seria menos dolorosa, por tratar-se do major das Forças Armadas Revolucionárias, Juan Pablo Roque, 36 anos, dois a mais que René. Fugira para Guantánamo, a base naval norte-americana. “Soy cubano! Estoy desertando! – explica aos recrutas fardados que apontam os fuzis para ele.
Em seguida, Gerardo Hernández dá as costas à carreira diplomática, e deixa Cuba com identidade de porto-riquenho; torna-se Manuel Viramóntez.
Frequentes são as incursões de aviões de pequeno porte, decolados de Miami, ao território de Cuba. Panfletos incitam revoltas anticastristas, ensinam a sabotar as plantações de cana. René é um dos pilotos. Os atentados a bomba são simultâneos. Nos folhetos, diz-se: “A opinião pública internacional precisa saber que é mais seguro fazer turismo na Bósnia-Herzegovina do que em Cuba.” O mentor é José Basulto, chefe da Hermanos al Resgate, e treinado pela CIA. Juan Pablo, àquela altura, deixara-se contratar como piloto de Basulto.
Em 1995, treze cubanos estão na Flórida oriundos de Cuba. Olga, em casa, é procurada por funcionários do Ministério do Interior. “Seu marido não é desertor! Está a serviço do DSE para pôr fim aos atentados contra Cuba.” Os treze falsos desertores formam a Rede Vespa. Tão somente Fidel Castro e uns poucos chefes da cúpula do governo sabem do trabalho deles. Nilo Hernandez e sua mulher, Linda, observam as atividades do grupo terrorista Alpha 66. Ramón Labañino, economista e capitão do Exército, vigia Orlando Bosch, outro chefe das ações terroristas. Os outros cubanos são Fernando González, Alberto Manuel, Ricardo Vilarreal, Remigio Luna, Antonio Guerrero, Alejandro Alonso, Joseph Santos e Amarilys Silvério, todos com identidades trocadas.
Farta munição, fuzis e metralhadoras são apreendidos depois de contrabandeados para Cuba; com base nas informações obtidas pela Rede Vespa. A tensão sobe quando dois Cessnas, no espaço aéreo de Cuba, são destruídos por um MIG pilotado por um cubano. “Está destruído! Pátria ou morte, caralho!” – sentencia o piloto.
José Basulto, a bordo de outro Cessa, tem um surto de riso histérico.
As provocações seguem com explosões em hotéis de Havana. É preso o mercenário Cruz León, salvadorenho de 26 anos; a serviço de Posadas Carriles, terrorista com vasto currículo de atentados, incluindo um avião com 72 pessoas. León é sentenciado ao fuzilamento, mas a pena é comutada para trinta anos de prisão.
Descobertos pelo FBI, são condenados. Alejandro Alonso, os casais Linda-Nilo Hernández e Amarilys-Joseph Santos fazem acordo de delação premiada. Não se tem notícia deles até hoje. Gerardo e René, Ramón Libañino e Tony Guerrero e Fernando Gonzáles já amargam 13 anos de cadeia.
O piloto Juan Pablo Roque está em Cuba, aposentado, posto que fora chamado de volta. Roque casara-se com uma norte-americana, com direito a ruidosa festa; oferecera a autobiografia de “desertor” a uma editora.
O parlamento de Cuba outorgou aos cinco o título de Heróis da República de Cuba.
*Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem dois livros de contos e um romance.
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